Steve Loopy Newhouse - Metaltalk.net | Loopy's World
Tradução: Ricardo Lira
LEIA TAMBÉM: PARTE 1 / PARTE 2 / PARTE 3 / PARTE 4/PARTE 5 / PARTE 5A / PARTE 6 / PARTE 7 / PARTE 8
Ensaios foram mantidos em ritmo implacável, mesmo sem um baterista. Steve tinha uma série de novas canções nas quais queria trabalhar e o resto da banda estava ansiosa para colocar a máquina pra funcionar novamente.
Eu ficava lá sentado brincando com meus polegares na maior parte dos dias, tendo nada melhor pra fazer. Não é como se tivéssemos cases de voo para numerar ou nada elétrico onde tivéssemos que trabalhar. Eram só Steve, Paul e Dave resolvendo pequenos problemas e eu e Pete ambos servindo de suporte ou gerenciando as cervejas, pequenas compras, etc. Eu não dirigia, então qualquer coisa como uma ida de almoço ao chippy (N.T.: Como chamam as lojas que vendem fish-and-chip por lá) ficava por conta de Pete, que me deixava no estúdio com os caras a maior parte do tempo.
Eu aprendi a dirigir poucos anos mais tarde, em Jersey. De fato foi a banda que pagou por metade das lições e eu estava indo tão bem... até o dia do teste. Nós encostamos fora do Test Centre e meu instrutor me aconselhou a não realizar o teste. Concordei totalmente. Eu tinha ido bem até aquele dia, mas meu nervo se foi e eu cometi tantos erros estúpidos. Acredito que, direção e eu, fomos feitos para viver à distância.
Foi durante esse período de ensaio que Steve teve duas ideias, as quais ficava sempre tocando. Dave se juntava onde ele pensava que deveria, e aquilo soava bem. Então Paul adicionava um grito extremo e você tinha a introdução de “Killers”. O pedaço depois da intro (quando cai na parte principal), foi o segundo pedaço em que Harris esteve trabalhando. Eu sugeri que ele colocasse as duas partes juntas e 'Killers' nasceu. Foi só uma sugestão e eu não espero por royalties nem nada. Mas quando Steve disse que ele se certificaria de que eu tivesse um disco pendurado em minha parede, eu fiquei fora de mim..
Mas isso foi lá, e agora estamos aqui. Ainda estou esperando.
Poucos anos mais tarde, em Nassau, Bahamas, eu lembrei Steve de nossa conversa, e ele negou reconhecer o que disse. E aquilo, bem simplesmente, é o que eu tive que aturar.
Após ensaiar as mesmas coisas de novo e de novo, um rosto familiar parou à porta do estúdio. Eu não podia acreditar.
Ele era tão alto quanto eu, mas não tão bonito, seu cabelo era encaracolado, mas cerca do mesmo tamanho e ele não tinha ganhado a barriga que desenvolvi (ânsia de roadie).
Era Dennis Stratton.
"Certo, rapazes", ele disse. Um pequeno coro de "mas que droga é ess...?" se deu enquanto eu observava Den cumprimentando a todos nós por sua vez.
Já tinha visto esse cara antes e aqui estava ele com sua guitarra na mão. As coisas estão melhorando, pensei.
A primeira vez que vi Den tinha sido há muitos meses. Eu era só um pagante no meio de uma multidão de pessoas falando alto em um pub chamado Bridgehouse, em Canning Town, East London. Estava indo junto com Steve Harris principalmente porque eu pensei que ele queria ver a banda em que Dennis estava, chamada Remus Down Boulevard (ou mais conhecida localmente por RDB). Fiquei impressionado pelo que vi e ouvi. A banda coverizou uma série de canções do rock ao blues e de volta ao rock. Após o show, Steve saiu para ter uma palavra rápida com Dennis. Então fomos embora e Harris me deixou em casa. Nunca mais pensei sobre isso.
E agora aqui estava ele, nem mesmo fazendo teste. Apenas, bem… aqui!!!
O resto da banda colocou Den no seu ritmo, o que não demorou pra acontecer. Ele já tinha noção do que era o Iron Maiden, e obviamente fez seu dever de casa. De fato eu me lembro de Dennis jogando um cassete na lixeira, com o comentário, “Não vou precisar mais disso”. Pensei que fosse sua fita do George Benson, mas não, era a demo que Harris tinha gravado para dar a ele um seguimento. Não importava. Em cerca de uma semana Dennis sabia todas as músicas de cor.
Sempre gostei muito do Dennis. Verdade, ainda gosto. Nos encontramos de vez em quando em um pub local onde ele e Dave Edwards ainda tocam seu negócio como RDB. É sempre uma noitada bacana e eu espero que continue assim. Ok, mais estórias sobre Dennis mais tarde.
Também havia um falatório sobre um baterista vindo, alguém que ainda não tinha ouvido falar. Embora meu conhecimento de outras bandas locais e músicos na época fosse de alguma forma limitada, estava feliz de esperar minha vez e ver o que o destino havia guardado para mim. Caindo na real; eu trabalhei para a banda, mas por uma razão particular na época. Doug tinha ido, então, em retrospectiva, o próximo baterista viria a ser meu problema. Foi quando fui apresentado a Clive Burr pela primeira vez.
Clive, um amigo de Dennis, esteve tocando em pubs e no circuito de clubes locais e foi basicamente informado de que eu era seu roadie, e ele não esboçou reação. Não estou certo se ele ficou muito contente com isso. Embora não fosse problema meu. Eu seria seu primeiro roadie particular. Tudo o que eu tinha a fazer era continuar mantendo minha cabeça baixa e fazer meu trabalho. O resto da banda e equipe sabia que eu poderia fazer o que fosse solicitado, mas por alguma razão tive a impressão de que Clive ou não gostava de mim ou não estava contente com a forma como eu lidava com as coisas.
Pelos poucos meses que gastamos gravando o primeiro álbum, nós passamos tanto tempo em ensaios, que o kit de bateria nunca precisou se mover, então Clive parecia feliz o bastante. E, tenho que admitir, Clive se encaixou na posição vaga por Doug muito bem. De fato, comparado a Doug, Clive era um absoluto animal.
Doug era tão tranquilo em lidar com a bateria. Não me levem a mal, ele levava o trabalho extremamente bem, mas o estilo de Clive era muito mais sutil. "Estes instrumentos são para bater," Clive disse, "e é o que fazemos com eles." Nunca troquei uma pele de bateria para Doug. Não precisava. Com Clive eu passei a trocar pelo menos uma pele por semana e aquilo durante os ensaios. Em turnê era algo ainda pior, mas não me apressem.
Antes de gravar 'Iron Maiden' nós saímos pra fazer uma pequena e promocional turnê de onze datas pela Inglaterra, integrando Dennis e Clive ao mundo, período durante o qual eu recebi o telefonema da minha mãe lá pela metade da turnê em Mansfield (eu acho), dizendo que meu avô havia falecido.
Obviamente desmoronei, mas quando perguntando se eu queria ir pra casa, eu recusei. Senti que havia trabalho a fazer. Ainda mais que, ficando em casa, teria me sentido um inútil. Meu avô havia se mudado, então eu também havia. E, vamos encarar os fatos, eu não poderia trazê-lo de volta mesmo com minhas conexões.
Nunca vou esquecer de Paul Di'Anno mencionando meu avô durante o show e dedicando uma das canções da banda para ele, mas me senti tão emocionado e, até hoje, eu não poderia lhes dizer qual canção foi. Não foi 'Phantom Of The Opera', isso eu sei.
A turnê foi um grande sucesso. Den e Clive se entrosaram bem, as plateias os amavam e coisas moviam-se quietamente, mas rapidamente para a próxima fase.
Cheguei em casa às 6 da manhã, no dia do funeral, e meu pai disse que ele entendia se eu não quisesse ir. Dei um beijo de despedida neles, na porta, pedi desculpas e fui pra cama.
Mais tarde naquele dia, fomos todos para nosso pub local e dissemos nossos adeus particulares para o Avô George, várias e várias vezes.
Poucos dias mais tarde e era voltar para o estúdio, mas dessa vez soou diferente. Clive tinha pedido um kit de bateria customizado. Apenas a couraça (shell) dela era Ludwig, mas a bateria em si era Tama, então as couraças tinham que se adaptar às propriedades da Tama. Isso tudo tinha sido feito sem meu conhecimento, mas eu não ligava. Ainda estava felizmente empregado pelo Iron Maiden e nós íamos a vários lugares.
O novo kit chegou ao estúdio Hollywood e foi dado para Clive e eu um par de dias para montá-la da maneira que a gente queria.
Usando o dinheiro da banda, provavelmente dado por Rod (quem mais?), estávamos felizes saindo para comer no McDonalds ou KFC, ou o que a mais a gente quisesse que pudesse trazer para o estúdio.
Vic estava sempre saindo e o restante da banda vinha de vez em quando ver como estávamos indo. Se a memória não me falha, o resto da banda passava horas e horas na casa de Dave Lights em Wapping, repassando material novo.
Então para Clive e eu, esta foi a parte fácil. Deixados sozinhos com um grande kit de bateria com sacolas do tamanho das peças, excluindo-se o bumbo e dois surdos, tudo o que tínhamos que fazer era colocar tudo junto.
Quão difícil isso pode ser?
Na verdade era fácil se você sabia como fazer. Uma vez que o bumbo estivesse na posição e os dois surdos próximos um do outro o suficiente, o resto se encaixava. Todos os pedestais eram marcados com cor de código e nós usávamos abraçadeiras para ter certeza de que as partes do pedestal não subissem, quanto mais descessem. Tudo bonito, voltamos para casa. Chegou no dia seguinte, Clive já não havia gostado. E aquilo se tornou a história da minha vida.
Dia após dia nós passávamos pelas mesmas coisas. Montei a bateria, Clive não gostou. Desmonta. Você podia ver a banda ficando frustrada, mas nada comparado a como eu me sentia. Tudo o que eu podia fazer era continuar a tentar e acalmar o homem. No fim alguém conversava com Clive e ele concordava em viver com o que tínhamos.
Agora, posso acrescentar aqui, eu não tenho ideia se isso tinha alguma coisa a ver com sua condição, eu nem sei se ele sabia do problema dele naquela época, mas o que eu posso dizer a vocês, sem malícia ou prejuízo, foi que ele se tornou uma pessoa difícil com a qual lidar. A maioria das pessoas não viam ou percebiam isso, mas Clive não era a pessoa mais fácil para quem você poderia trabalhar.
Ainda durante os shows, a maioria Europa e Japão, ele dependia de mim para contar com ele em certas mudanças-chave, especialmente durante 'Phantom Of The Opera' e uma outra que não consigo lembrar agora. Basicamente, se não tivesse sido por mim, seu timing estaria perdido, mas eu permaneci como o herói anônimo, e pergunto o que teria acontecido se ele tivesse entendido algo errado.
Teria sido provavelmente minha culpa por isso também.
Por meses sem fim, concerto após concerto, Clive se sentava atrás do kit e dizia que alguma coisa estava errada. Eu não conseguia e não entendia o que ele queria. Todo dia era a mesma rotina, eu montava o kit, e Clive vinha e dizia que estava errado. Troquei uma ideia com pessoas mais profissionais que eu, como Doug Hall, o engenheiro de som da banda, que disse: “Não se preocupe com isso. Ele está apenas sentindo como é entrar pra banda."
Chegou ao ponto em que eu ficava apavorado da banda aparecer para a passagem de som. Pelo que eu sabia a bateria era montada da mesma forma a cada dia. Havia uma sistemática no kit que informava ao usuário que ele não poderia montar aquilo da maneira errada, mas Clive cismava que estava errado.
Clive e eu tivemos longas conversas sobre isso. Uma das conversas se deu na The Colston Hall, em Bristol. A banda chegou cedo para uma entrevista na rádio na loja de discos, então eu e Clive encontramos algum lugar quieto e tivemos uma conversa e basicamente foi dito que, se eu não colocasse minha merda em ordem, estaria fora. Respondi dizendo que eu não estava feliz sendo tratado como um idiota e que trabalhava para o bem da banda. Estava fazendo o que podia para manter ele e todo mundo feliz, mas eu faria o melhor para manter o kit como ele queria. A conversa terminou de forma bem pacífica e, dando crédito ao que é devido, ele voltou da loja de discos com o cassete do Rush 'Moving Pictures' e enquanto o passava para mim, disse: "Já ouvi isso. Não é grande coisa."
Dei um sorriso irônico, quero dizer, sério, o que Clive sabia com propriedade sobre tocar bateria?
Aquilo não foi o fim de nossas cusparadas e eu fiquei com ele por mais tempo do que esperava, mas era o cara mais enfurecedor que já havia conhecido. Pelo fato de arrumar o kit para Clive como sempre fiz, e o cara se virar quase todo dia para dizer que eu havia montado errado já era frustrante o suficiente, mas vê-lo colocá-lo de volta onde o havia encontrado, durante o show, devo acrescentar, era tremendamente enfurecedor.
Em um show na Reggio Nell Amelia, na Itália, uma de nossas caminhonetes descarrilou na estrada da montanha em direção à cidade, então metade de nosso equipamento chegou tarde, incluindo o kit de bateria. No momento da chegada eu suava baldes para preparar o kit tão rápido quanto fosse possível, tomando cuidado para colocá-lo onde eu sempre fazia.
Uma coisa que não se faz é emputecer uma plateia italiana cancelando um show.
Então, ficando cada vez mais tarde e sem uma passagem de som para se certificar que tudo estivesse em ordem de funcionar e onde deveria ficar, na verdadeira tradição Iron Maiden, o show continuou como deveria, e foi um grande sucesso.
Inacreditavelmente, após o concerto, Clive me encontrou carregando o equipamento dentro do caminhão e pediu para ter uma palavra comigo. Após tudo o que tínhamos passado pelo dia, eu esperava o pior.
O que recebi foi um "obrigado" e ele me disse que eu consegui fazer tudo certo pelo menos uma vez.
Eu poderia tê-lo matado naquele instante, mas mordi meu lábio. Como eu disse, ele era bastante irritante.
N.B.: Eu escrevi isto muitos meses antes da morte de Clive, e não fiz isso para esboçar ou sequer significar descrédito acerca do que ele fez pela banda. Ele será dolorosamente lembrado e foi um privilégio trabalhar com ele. Clive foi um baterista brilhante, e será sempre lembrado por isso.
Nós podemos ter nossos desacordos, mas nunca mantive ressentimento sobre ele. Estávamos apenas fazendo nosso trabalho. Certo ou errado, ambos servimos à causa maior.
Quando Colin Claydon tomou de onde parei, eu vi a banda na estrada algumas vezes, e tanto quanto estou certo, o relacionamento entre Colin e Clive era um forte e bom relacionamento. Então minha única conclusão é que o problema de Clive foi comigo e ainda não faço ideia do por quê?
Mas isso deve provar uma coisa. Quando Clive deixou o Iron Maiden, e Nicko o substituiu nas baquetas, recebi uma chamada de Tony Wiggens, o gerente de turnê da banda, me pedindo pra voltar. Mais sobre isso mais tarde.
Continua...