Biografia
– Janick Gers
Janick
Gers é, sem dúvida, o guitarrista que mais provocou polêmica entre todos que já
tocaram no Maiden. Isso não se deve nem à sua personalidade nem à habilidade
para com a guitarra. Tudo ocorreu porque teve a dura tarefa de substituir uma
metade da dupla mais famosa da maior banda de metal de todos os tempos.
Como se
isso não bastasse, ainda teve a má sorte de ter entrado bem quando iam gravar
um disco igualmente polêmico (No Prayer For The Dying), que por sinal já estava
com todas as músicas compostas. Até sua performance enérgica no palco acabou se
virando contra ele: com tantos malabarismos muito passaram a crer que ele mais
fazia firulas do que tocava.
E há
quem diga que não deveria ter ficado no Maiden depois da volta de Smith. Essas
pessoas parecem se esquecer que os membros da banda – mais exatamente Steve
Harris – jamais deixaram alguém ficar no grupo só por amizade. Currículo não
falta: Gers veio do mesmo ambiente dos demais membros do grupo (mais ainda do
que Bruce Dickinson), tem uma gama de participações que iguala ou supera todos
os outros (além de amar futebol, como Steve Harris gosta de frisar) e foi o
guitarrista com maior experiência que entrou para a banda desde a sua fundação.
Um músicos talentoso que já havia se firmado como guitarrista e compositor ao
tocar com nomes lendários do rock como Ian Gillan e Fish.
É também
um ser humano admirado por todos o que o conheceram: humilde, simples e avesso
a discussões, mostrou notável diplomacia em assuntos importantes e delicados,
como a essencial volta de Dickinson para o Maiden em 1999.
Gers é,
queiram ou não os mais radicais, um membro do Maiden que deixou sua marca e
muito contribui para que a banda continue no topo. E, como Steve Harris gosta
de dizer: muito acrescentou à dinâmica do grupo ao vivo. Não são qualidades
pequenas vinda de uma pessoa tão exigente quanto o fundador da banda.
Janick
Robert Gers nasceu em Hartlepool, no dia 27 de janeiro de 1957. Ele é o mais
velho de três irmãos (ele tem um irmão e uma irmã mais novos). Seu nome tem uma
origem polonesa mais profunda que parece: “Meu pai entrou para a marinha
polonesa, foi assim que ele chegou até a Inglaterra, onde conheceu minha mãe.”
Explica ele “Ele entrou para a marinha britânica logo depois de se casar com
ela e, mais tarde, entrou para a marinha mercante.
“Quando
eu nasci ele ainda estava no mar fazendo seu primeiro ano, então teve que parar
e retornar. Havia muitos poloneses vivendo naquela área, porque tinha muitas
docas em Hartlepool. Foi assim que meus pais se conheceram.”
Quando
criança as atividades do pequeno Jan era “natação, futebol e música – nessa
ordem. Eu sempre adorei futebol e ainda adoro, mas natação era meu maior
interesse quando eu era garoto. Eu costumava ir praticar todo dia. Então tudo parou
de repente quando eu me envolvi com música. Eu não sabia tocar, mas adorava
posar em frente ao espelho com aquela guitarra de plástico dos Beatles que meus
pais me deram. No primário, quando havia alguma peça teatral pra fazer, eu e
meus colegas éramos sempre a banda.. Nós costumávamos fazer guitarras de
papelão, colori-las, nos vestir e brincar que estávamos no Top Of The Pops
(programa de parada de sucessos mais famoso da Inglaterra). Nós fazíamos mímica
ao som dos discos.
Devíamos
ter uns nove anos e ficamos numas de manter essa banda imaginária durante anos.
Eu era o guitarrista, sempre. Eu queria ser John Lennon. A primeira guitarra de
verdade que eu consegui foi quando eu devia ter onze anos. Um velho violão. Era
muito ruim, era tão difícil de tocar!”
Ele
finalmente conseguiu botar as mãos numa guitarra elétrica ( “uma pequena
Woolworth ruinzinha” ) quando tinha 13 anos, e imediatamente descartou o
violão. Mas foi só aos 18 que finalmente conseguiu o que queria: uma Fender
Stratocaster branca. “Essa foi a primeira guitarra verdadeira que tive, e é ela
que ainda uso hoje em dia. Eu a consegui de segunda mão de um cara em
Darlington por 200 libras. Eu economizei a maior parte até que ao fazer 18 anos
minha mãe em deu algum dinheiro como presente de aniversário para completar.”
Eu a
adorei desde o primeiro momento em que a empunhei. Eu me lembro de ter pensado:
‘Uau! Isso é o máximo!’ E, claro, desde que eu tinha a Strato, eu podia entrar
para uma banda de verdade. Nós fazíamos covers e na nossa primeira apresentação
na escola tivemos uma tremenda briga antes de começarmos porque nós tínhamos de
usar o uniforme da escola. Os professores não queriam nos deixar entrar nas
nossas roupas de palco. Mas no final a gente colocou as gravatinhas e fomos
adiante, tipo porque queríamos cumprir o compromisso assumido.”
Nessa
época, era 1970, Janick já tinha passado de sua fase Beatles e entrado de
cabeça no Heavy Rock da época: “Eu adorava aquelas guitarras selvagens e o
visual cabeludo” Diz ele. Logo estava comprando discos e lendo revistas
musicais. “Eu gostava muito de bandas como Deep Purple, Rory Galagher, T Rex.
Coisas folk também, como o Lindsfarne. Mais tarde passei a curtir o Led
Zeppelin. No princípio eu não ia muito com a voz do Robert Plant, era um pouco aguda
demais para mim. Eu achava que ele soava como uma garota. Mas eu realmente
amava Ian Gillan (então no Deep Purple), porque ele tinha esse grito, era como
eu me sentia, toda aquela agressividade saindo, e eu me identificava com isso.
E por
causa disso eu comecei a tirar o estilo do Ritchie Blackmore também e isso me
levou aos solos. Eu estava sempre fazendo solos porque eu nunca podia ficar
fazendo acordes, era isso. Eu não sou daqueles que fica pensando no que vai
fazer antes de fazer, pelo menos não quando toco ao vivo. Minha noção de tempo
(musical) não é particularmente boa, mas para mim música não é matemática, tem
mais a ver com o seu coração e com o que está sentindo. E, se você toca um
solo, pode dizer ‘fodam-se os compassos’, e se expressar. Algumas vezes erros
são melhores do que aquilo que você teria feito se tivesse pensado neles antes
de qualquer maneira.”
Ele
costumava “apenas ficar sentado e tocando o tempo todo”, com sua guitarra e
amplificador permanentemente ligados no seu quarto “Eu devo ter levado todo
mundo à loucura com aquilo. A única coisa que eu fazia fora isso era jogar
futebol e eu nunca fui um bom jogador.” Um dia, no entanto, ele resolveu ir
verificar um anúncio no Hartlepool Mail.
“Ele
dizia apenas: precisa-se de guitarrista” Janick se lembra “mas eu fui lá e acho
que tocamos Strange Kind Of Woman ou outra coisa do Deep Purple.” Uma mulher
apareceu reclamando do barulho, mas Janick gostou do pessoal. A banda se
chamava White Spirit, um quinteto que foi formado em 1975, enquanto Janick
estudava para seus exames finais na escola. O grupo tinha em sua formação duas
guitarras, teclados e aqueles backing vocais típicos dos anos 70, sendo que
Janick a descrevia como sendo muito influenciada pela trinca Uriah Heep – Deep
Purple – Rush. Era uma esplêndida mistura de hard rock e progressivo, que
ganhou para eles um contrato com uma gravadora independente, a Neat records,
pela qual lançariam seu compacto de estréia, ‘Back To The Grind’, em 1978.
Gravar
um disco naquela época, como lembra o próprio Gers era “uma coisa muito grande
lá em North East (onde ele vivia), mas eu estava disposto a curtir isso
enquanto durasse. Nós fizemos uma tour e ganhamos dinheiro bastante para
continuarmos. Nós todos estávamos no seguro desemprego. Mais tarde, quando nós
gravamos o LP, o fiscal do seguro veio atrás de nós e quis insinuar que
estávamos ganhando os tubos. Mas não estávamos É incrível como você pode viver
com tão pouco quando se é jovem e está desesperado para tocar.”
A banda
conseguiu um contrato com uma grande gravadora logo depois, a MCA, e seu LP
“White Spirit” foi produzido pelo baixista de Ian Gillan, John McCoy. O álbum
foi lançado no mesmo ano que o disco de estréia do Iron Maiden, 1980 – embora,
claro, com muito menor impacto. E, ainda que hoje em dia o grupo de Janick seja
considerado um representante da NWOBHM, o guitarrista discorda dessa
caracterização: “Eu me lembro que havia reportagens na Sounds a respeito
daquela coisa do Bandwagon (de Neal Kay): Samson, Iron maiden e algum outro, fazendo
crer que havia alguma coisa grande acontecendo. Mas não era tão grande quanto
todo mundo imagina. Nós éramos parte daquilo, eu suponho, mas nunca foi
oficial. É apenas agora que as pessoas olham para aquela época que somos
colocados junto com o resto. Nós apenas estávamos fazendo o som que já
tocávamos há cinco anos e tenho certeza que o Maiden estava fazendo a mesma
coisa.” (obs – ‘Midnight Chaser’, o primeiro compacto do LP White Spirit é
incrivelmente semelhante à ‘Two Minutes to Midnight’ O próprio Janick comentou:
“Quando eu a toquei para o Steve, ele quase não acreditou.. Mas o disco esteve
no primeiro lugar na parada do Bandwagon de Neal Kay por muito tempo. Eu não
estou dizendo que Adrian a ouviu ou copiou – apenas que talvez ela tivesse ficado
no seu subconsciente ao ouvir em algum lugar” ).
O disco
de qualquer modo deu à banda a oportunidade de ser o grupo de abertura para a
tour da banda Gillan naquele ano. E, sem dúvida, foi a grande chance para Jan
conhecer seu ídolo Ian Gillan. “Foi como uma criança conhecendo Papai Noel” Ele
se recorda hoje, rindo. Mas haveria bem mais do que um encontro fortuito entre
fã e estrela. Pouco tempo depois Janick recebeu um telefonema do pessoal de
Gillan perguntando se ele gostaria de entrar para a banda do ex-vocalista do
Deep Purple.
Reação
de Janick: “Eu pensei que fosse alguém me aprontando uma gozação. Eu pensava
‘Ian Gillan me querendo como guitarrista? Ah, vá se foder!’”
Mas era
verdade. O guitarrista de Gillan, Bernie Torme, tinha feito suas malas e caído
fora depois de uma briga, abandonando o grupo no meio de uma tour pela
Alemanha. Mais tarde o próprio Ian Gillan comentou: “Janick foi o primeiro cara
em que pensei para substitui-lo. Nós todos realmente admirávamos seu trabalho
de guitarra no White Spirit quando eles tocaram com a gente na tour inglesa,
além de ter ficado claro quando conversamos que ele estava no mesmo tipo música
que eu. Então pensamos ‘Bem, vamos ligar pro cara e ver se ele está fazendo
alguma coisa.’”
E a
carreira do White Spirit estava encolhendo rápido, ao contrário do crescimento
avalassador de outras novas bandas inglesas mais comentadas, como Iron Maiden,
Saxon e Def Leppard. Quando percebeu que a estória de tocar com seu grande
ídolo era verdadeira, Janick agarrou a chance com as duas mãos.
“Eu tive
bastante sorte na minha carreira.” Diz janick hoje “Eu nunca tive pretensões de
entrar para o Gillan ou o Iron Maiden, juro. Passou pela minha cabeça trabalhar
com o Bruce (Dickinson), mas nunca pensei que iria me juntar ao Maiden. Eles já
tinham Adrian e Dave, pra que quereriam três guitarristas? (Obs. Mal sabia
ele!) Esta era a minha atitude. Até que me mostraram em contrário.”
Janick
gravaria dois discos com o Gillan – o álbum ao vivo Double Trouble – que chegou
aos dez mais vendidos da parada inglesa – em 1981 e Magic - que também chegou
ao top ten – em 1982. A banda acabou pouco tempo depois, já que o entusiasmo de
Ian por ela foi caindo. Caiu tanto que ele acabou aceitando o convite de se
juntar ao Black Sabbath – afinal o grupo ainda tinha um nome bem forte nos
Estados Unidos. E Ian Gillan não tinha conseguido estourar na terra do Tio Sam
desde que deixara o Deep Purple dez anos antes. Gers, agora desempregado, não
se lamentou muito, no entanto. Ele mesmo diz que teria “caído fora mais cedo ou
mais tarde, de qualquer maneira.” Com o tempo ficou clara a diferença entre o
jovem guitarrista que queria arrebentar o mundo com seus riffs e o veterano
frontman que andava meio cansado de guerra. Na época Gillan se mostrava mais
interessado em fazer covers de um material mais ligado ao soul e ao rock,n roll
básico.
Janick
conta um incidente claro: ‘Eu me lembro da primeira vez que vi The Nunber Of
The Beast na TV e eu praticamente arrastei o Ian para que ele visse também. Eu
disse ‘’E isso que eu quero tocar, essa é a minha. Isso é rock!’ e Ian me
respondeu: ‘Certo, eu sei, mas eu já fiz isso.’ Ele tinha um ponto de vista,
que ele já tinha feito isso. Só que eu dizia: ‘Eu quero aquelas luzes! Eu quero
o gelo seco!’”
Quando a
banda acabou Janick ficou desempregado, mas com um bom currículo. Mesmo assim,
as coisas não foram bem. Várias tentativas foram feitas para que voltasse a ter
sua carreira musical funcionando, mas nenhuma deu certo. “Eu nunca desisti de
tocar. Eu mantive todo meu equipamento, mas demorou muito tempo para que eu
voltasse à ativa.” Em 1986, o ex-vocalista do Twisted Sister , Dee Snider,
chegou a sonda-lo para tocar em sua banda solo (que, na época, tinha um certo
Clive Burr na bateria). Janick: “Ele me telefonou e nós conversamos. Eu me
lembro de ter dito a ele: ‘Não há nada no mundo que me faça usar maquiagem ou
coisas desse tipo. Eu não estou nessa.’ Mas nós tivemos um bom papo, ele me
pareceu uma pessoa legal. Mas ele nunca mais me ligou.”
Um dos
projetos mais estranhos que Janick esteve envolvido foi um grupo idealizado por
um produtor inglês que incluía outro ex-Maiden, ninguém menos do que Paul
Di’Anno.
“Um belo
dia eu recebo uma chamada do produtor Jonatham King que me falou sobre esse
grupo que ele pretendia montar para vender nos Estados Unidos. Uma banda de
Heavy Metal chamada Gog Magog. O nome ele tirou da Bíblia, eu acho. Gog e Magog
eram as duas bestas que guardavam os portões do inferno. E basicamente ele
queria montar uma banda com pessoas que já tinham tocado com grandes nomes. Ele
disse ‘Eu tenho Clive Burr e Paul di’Anno do Maiden, tenho Pete Wills do Def
Leppard e Neil Murray do Whitesnake, e queremos fechar a coisa com você.’ Aí eu
disse ‘Legal, eu vou entrar’. Então ele arranjou uns ensaios e algumas horas de
estúdio para gravarmos. Nós nos juntamos e foi divertido. Pete Willis é um cara
legal. Eu já conhecia Neil e encontrado com o Clive. E Paul, que é um cara
muito legal, tem um botão de auto-destruição que ele gosta de apertar um pouco
demais, mas realmente ele é um bom amigo.”
Mas no
final das contas tudo ruiu quando King não conseguiu arranjar um contrato
razoável para poder lançar a banda. Hoje pode parecer incrível que tamanho time
de estrelas não conseguisse um excelente negócio imediatamente, mas na época o
interesse na NWOBHM já tinha decaído muito. A galera mais radical estava
ouvindo novas bandas de Thrash e Black metal. E é bem possível que as
gravadoras americanas estivessem visando muito mais as bandas glam (Motley
Crüe, Cinderella, Poison, etc.), mais comerciais e fáceis de vender. Não
estavam a fim de um projeto de restos de outros grupos. As demos que o Gog
Magog gravaram acabariam saindo só mais tarde, num EP de quatro faixas através
do selo independente Food For Thought. Mas, como Janick diz: “Não havia nenhum
dinheiro ali.”
A
situação ficou muito difícil e depressiva. Janick chegou mesmo a pensar em
vender seu equipamento, desistir da carreira musical e voltar à faculdade para
estudar ciências humanas. Mas antes que se decidisse vez por todas, ele recebeu
um convite que mudaria sua sorte para sempre. Ele foi convidado a fazer uma
aparição junto com o Marillion no Wemblley Arena, no Prince Trust (evento anual
de caridade da família real britânica) de 1988. Esse convite era para
acompanhar um outro cantor que, por acaso, era um velho amigo: Bruce Dickinson.
“Eu
conhecia o Bruce desde os tempos do Samson e nós sempre fomos companheiros” Diz
Janick “Nós vivíamos a um quarteirão do outro em Chiswick e costumávamos a ir
em shows algumas vezes ou a festas. E nós dois queríamos conhecer Fish e o
pessoal do Marillion – eu sempre achei que o Marillion era uma grande banda.
Como eu e o Bruce, Fish também era um grande fã do Deep Purple e do Ian Gillan,
assim nós todos tínhamos algo em comum. Então quando fomos convidados para
tocar no Prince Trust, Bruce estava todo animado, mas eu nem tanto. Tinha um
bom tempo que eu não tocava ao vivo. De fato, desde os tempos com o Gillan. Mas
nós fomos lá e foi incrível. Nós tocamos três músicas, todas covers: ‘All the Young
Dudes’ do Mott The Hoople, ‘The Boys Are Back In Town’ do Thin Lizzy e a versão
de Joe Cocker para ‘With A Little Help From My Friends’.
Quando
pouco depois Fish deixou o Marillion, ele convidou Janick para ir até sua
fazenda em Edinburgh para ver se eles escreviam algumas músicas junto. Apesar
dessa parceria estar destinada a ser um tanto curta, Janick co-escreveria e
tocaria guitarra em ‘View From A Hill’, talvez a melhor faixa do disco solo de
Fish “Vigil In A Wilderness Of Mirrors”, lançado em 1989. Bruce Dickinson: “A
primeira vez que eu ouvi essa música ela realmente me derrubou. Eu pensei ‘Fish
é louco de perder esse cara, ele consegue compor tão bem quanto toca.’” Por
acaso seu antigo amigo dos tempos iniciais estava trabalhando em seu primeiro
projeto solo, uma música para a trilha do filme Nightmare On Elm Street. E
resolveu mostrar o novo trabalho para saber sua opinião.
“Bruce
me telefonou e então eu fui me encontrar com ele. Ele me mostrou essa música
que soava meio AC/DC. Eu disse: ‘Não, isso aí está pedindo para soar mais
assim...’ então eu pus alguns acordes nela e aí nós refizemos o refrão. Ele
estava tentando se distanciar do som do Maiden, portanto estava muito aberto a
novas idéias. E nós fomos fundo, e a gravamos em um dia, dois dias, algo assim,
e ficou ótima, eu realmente gostei, sabe? E isso era ‘Brig Your Daughter To The
Slaughter’”.
“Eu a
escrevi em três minutos.” Conta Bruce “Eu não sei de onde eu tirei o título.
Ele veio de repente na minha cabeça. Eu pensei ‘Que coisa, parece ser direto do
AC/DC!’” Bruce achou a música perfeita para o filme (A Hora do Pesadelo). “O
pessoal da Zomba (editora do Maiden) ficou completamente louco. Eles me diziam
‘Isso é ótimo!’ O cara chamou o escritório e disse: ‘Eu não acredito nisso,
você tem mais material como esse?’ E eu respondi ‘Bem, sim, eu tenho algumas
coisinhas que estou trabalhando.’ Era tudo mentira, claro. Eu disse: ‘olha, o
que vocês acham de nós fazermos um álbum?’ Ele respondeu ‘Claro, sim, faça
isso.’ Então eu chamei o Jan e disse para ele: ‘Você não pode vender seu
equipamento agora, seu bastardo, nós temos um álbum para fazer!’”
O
resultado, como sabemos, foi o disco Tattooed Millionaire, primeiro disco solo
de Bruce Dickinson. Que conseguiu ser bem sucedido e até gerou dois hits na
Inglaterra, ‘All The Young Dudes’, a cover do Mott The Hoople, e a faixa
título. Todo o disco foi gravado de forma muito espontânea e rápida, apenas
duas semanas. “As duas semanas mais rápidas da minha vida” Ri Janick, ainda
meio espantado com a velocidade da mudança de sua sorte. O disco continha um
bom número de originais escritas pela dupla Dickinson/Gers, além de algumas
covers. A resposta foi tão positiva que Bruce até chamou Janick para uma tour
de quatro semanas nos EUA (que incluía os mesmos músicos que tocaram no disco:
Janick mais o baixista Andy Carr e o baterista Fabio Del Rio).
Isso
tudo animou bastante Janick, que deve ter pensado que novos convites deveriam
pintar em breve. Mas nada o preparou para o que estava por vir. Quando Bruce voltou
ao Maiden para o próximo disco, Adrian Smith estava a beira de sair do grupo,
insatisfeito com o novo material “mais básico” que o Iron queria gravar e
infeliz com a perspectiva de mais uma estafante tour mundial Logo Adrian
estaria fora. Um outro guitarrista se fazia necessário e com urgência (todo o
esquema de gravação e tour já estava montado).
“Bruce
nunca me falou sobre o que estava acontecendo” Diz Janick “ Mas eu conhecia o
Dave e o Adrian e gostava de ambos. Já conhecia todo mundo na banda, mas não
sabia sobre o que estava para acontecer. Então uma tarde eu recebi um
telefonema do Bruce. Ele me disse ‘Você poderia aprender algumas músicas do
Maiden?’ A primeira coisa que pensei foi em dizer ‘não’, porque tínhamos
concordado em não tocar nenhuma música do Maiden durante a tour solo de Bruce.
Aí eu perguntei ‘Por que você quer tocar músicas do Maiden?’ Ele respondeu
‘Porque alguém está saindo e nós gostaríamos que você viesse e ensaiasse com a
banda’. Eu perguntei ‘Quem saiu?’ E ele me disse: ‘Adrian’ E eu fiquei numas de
‘O que? Fala de novo.’ Quero dizer, eu estava realmente chocado. Minha namorada
diz que eu estava branco como um folha de papel quando eu desliguei o telefone.
Ela achou que alguém havia morrido ou coisa parecida.”
Janick
fez um teste com a banda no celeiro adjacente à mansão de Steve três dias mais
tarde. Ele se lembra: “Eles disseram: ‘Qual música você quer tocar primeiro?’
Eu disse: ‘The Trooper’. Eu pensei: ‘Vamos tocar essa, rápida e agressiva, eu
estarei bem.’ Então eu e o Dave mandamos ver nas primeiras notas da canção e a
coisa toda funcionou! Foi simples assim, a música simplesmente decolou. Quando
nós terminamos eu estava tremendo com a adrenalina, e eu me lembro do Bruce
dizer; ‘Caralho! Isso soa incrível!’ então tocamos outra – eu acho que era
‘Iron Maiden’ – e então ‘The Prisioner’ e talvez mais uma, eu não consigo me
lembrar. Aí eles se juntaram num canto e tiveram uma conversa particular.
Depois o Steve Harris veio até mim e disse: ‘Você está na banda. E vamos
começar a gravar amanhã.’ E eu pensei: ‘O que??’
Janick
tinha acabado de conhecer o método Steve Harris de agir em relação à sua banda.
E se adaptou muito bem, diga-se de passagem. Embora obviamente não pudesse
contribuir muito num disco que estava todo pronto para ser gravado antes dele
entrar, ele logo demonstraria seu valor seja na sua técnica exímia, seja nas
apresentações ao vivo, mostrando seu lado passional pela música que a banda e
todos verdadeiros fãs compreenderam e amaram. Seu valor completo como membro efetivo
de Maiden se daria no disco seguinte, Fear Of The Dark, onde comporia inclusive
o primeiro compacto tirado dele (‘Be Quick Or Be Dead’ – uma canção tão
poderosa e tão ‘Maidiana’ que foi o tema de abertura da banda em várias tours).