Biografia Adrian Smith

Um dos mais influentes guitarristas dos anos 80, Adrian Smith se tornou a segunda parte de um dos duos mais imitados de toda a história do Heavy Metal. Também foi durante muitos anos um dos poucos a desafiar a supremacia total de Steve Harris no terreno de escrever clássicos. Suas composições mais famosas são quase tão bem lembradas quanto ao do baixista (quem não identifica de cara o riff mortal de ‘Two Minutes To Midnight’?). Esse grande músico, compositor e até cantor (nos seus projetos solo), é, no entanto, igualmente famoso - dentro do Maiden - pela uma indecisão que quase o levou a deixar passar a oportunidade de sua vida. Adrian é um notório indeciso no que se refere a quase tudo na sua vida. Ele mesmo admite que tem dificuldade em decidir “Tudo. Alguns dias eu nem mesmo consigo me decidir se vou sair da cama ou não”, brinca ele. Rod Smallwood diz que “Indecisão é o nome do meio de Adrian. Mesmo se você for num almoço com o Adrian , você provavelmente já estará no cafezinho enquanto ele ainda nem decidiu o que vai ter para começar!”
“Desencanado”, é como Adrian prefere se descrever. “Eu nunca pareço muito excitado por fora. Tudo fica queimando bem no interior, mas nem sempre eu demonstro isso. Eu prefiro ficar na minha - se eu puder.” Qualquer um que tenha visto sua performance dentro e fora do palco diz que na maioria das vezes ele consegue. Apesar de tudo isso esse brilhante músico toca e escreve temas que incendeiam e excitam a imaginação de milhões de fãs por todo mundo. Mas, como todos os membros do Iron, teve que penar um bom período antes de chegar à sua posição de adoração por tantos fãs.
Adrian Ferderick Smith nasceu no hospital Hackney em 27 de fevereiro de 1957. Era filho de um pintor e decorador de Homerton. Adrian é o mais novo de três irmãos, tendo ele um irmão mais velho chamado Patrick e uma irmã, Kathleen. Como o caçula da família, Adrian diz que teve uma “criação feliz, típica e meio chata, eu creio. Quando era garoto eu me interessava pelas coisas usuais - principalmente futebol. Eu era um torcedor fanático pelo Manchester United quando criança. Mas quando eu me interessei por música eu parei com tudo relacionado a isso até meus vinte anos. Mas eu não me interesso tanto por times como eles são hoje em dia - futebol atualmente é só dinheiro, não é? No máximo eu sou hoje um fã do Fulham, porque eu vivia num apartamento perto do campo e costumava ir vê-los jogar algumas vezes. Então eu fico acompanhando o que eles fazem agora.”
Adrian não era um mau jogador tampouco. Chegou mesmo a ser do time principal de sua escola, mas seu interesse em futebol “e tudo mais” caiu abaixo de zero no momento que descobriu música, que começou a comprar discos e a aprender a tocar guitarra. Ele tinha 15 anos quando comprou seu primeiro LP: Machine Head do Deep Purple. “Minha irmã estava saindo com um cara que costumava emprestar seus discos para ela e ela os deixava pela casa.” Ele se recorda “Coisas como o Purple, Free, Black Sabbath... então ela parou de sair com ele e eu tive que começar a comprar meus próprios discos. A maior parte dos outros garotos que eu conhecia estava numas de Soul music, que eu gostava também, mas era apenas música para festas, para dançar. Eu gostava do conceito de discos que você podia se sentar e ouvir.”
Adrian encontrou Dave Murray pela primeira vez quando estava procurando discos na seção de rock de uma loja do bairro. “Dave era o único outro cara que eu conhecia que estava interessado no mesmo tipo de coisas que eu.” Eles se vestiam como dois bons roqueiros (isso era no início dos anos 70, o que quer dizer todo o traje típico dos hippies da época, calças boca larga, cabelos longos, etc.) e “saíamos juntos, tentando ser o mais diferentes dos outros que pudéssemos. Nós éramos daqueles tipos que chegavam em festas vestidos em indumentária hippie, enrolávamos um baseado e dávamos um jeito de colocar ‘Highway Star’do Deep Purple no toca discos tantas vezes que deixávamos todo mundo louco. Aí em geral nos colocavam para fora. ‘Highway Star’ era o meu hino quando eu era garoto. Meu cabelo já era longo desde o primeiro grau, mais longo que algumas das meninas. As pessoas viviam me dizendo para cortar o cabelo, o que eu nunca fazia. Acho que eu não tive um corte de cabelo propriamente dito durante anos.”
Por mais incrível que possa parecer, este músico que influenciaria muitos outros, começou como cantor. “Eu queria ser um cantor em primeiro lugar” confirma ele muitos anos depois “Principalmente porque eu não tinha uma guitarra. Mas tinha um microfone. Meus pais me compraram um microfone para o meu aniversário de 14 anos por alguma razão. Então era eu no vocal, Dave na guitarra e nós costumávamos tocar ‘Silver Machine’ do Hawkwind (um grupo underground que misturava rock e ficção científica) porque só tinha três acordes e era fácil.”
O que fez Adrian começar a aprender um instrumento foi todo o fuzuê que Dave causava na escola toda vez que aparecia trazendo sua guitarra elétrica. “Ele ficava cercado de garotas todo o dia” Recorda Adrian “Ter uma guitarra era uma coisa que te dava um certo charme. As meninas olhavam para você. Então em pensei ‘Certo, bem, eu posso fazer isso’”. Ele começou arranhando “um velho violão que tinha em casa, porque meu irmão começou a ter lições de violão clássico.” Mas logo ele descobriu que não era a melhor escolha para tirar coisas como ‘Highway Star’, então “passei aquilo adiante e peguei emprestada a guitarra de reserva do Dave e comecei a praticar nela.”
“Ela não era muito boa” Admite Dave Murray quando perguntado sobre o assunto “Era uma velha cópia feita no Woodworth meio defeituosa, mas eu a vendi para ele por, eu acho, umas cinco libras. Seu pai a consertou e ele começou a treinar com ela. Eu costumava aparecer por lá e tocar com ele, só para ajudá-lo um pouco.” Logo os dois começaram a tocar regularmente juntos e tomaram a decisão de deixar a escola para formar uma banda.
“Assim que eu aprendi a tocar uns dois acordes - pronto! - eu estava ligadérrimo! Claro, eu ouvia Black Sabbath e Deep Purple e outras bandas como Santana, e eu não podia tocar coisas assim para começar, então eu me concentrei em músicas dos Rolling Stones e Thin Lizzy. Coisas mais simples que você podia tirar. E, quero dizer, eu não estava apenas aprendendo um instrumento, eu estava também buscando um tipo de identidade nessa época. Seja ela musical ou não, é nessa idade que você tem que tomar algum tipo de decisão para sua vida. Você está perto de deixar a escola e enfrentar o mundo real. Então eu e Dave e nossos amigos costumávamos conversar sobre esse tipo de coisa, sonhando como seria ter sucesso numa banda.”
Tanta era a pressa para começar sua carreira musical que Adrian deixou a escola aos dezesseis anos largando tudo bem em cima dos exames finais, aos quais nem se deu o trabalho de fazer. “Eu pulei fora o mais rápido que pude” diz ele “Eu pensei ‘Não preciso disso, eu vou uma estrela de Rock’ Eu não acho que meus pais sabiam o que se passava comigo. Quer dizer, eu tenho filhos agora e ficaria horrorizado se um deles me dissesse isso um dia!”
Como resultado dessa decisão apressada Adrian se viu tendo que se virar numa sucessão de empregos medíocres enquanto sonhava com o decolar com sua carreira musical. Enquanto isso não acontecia trabalhou irregularmente como soldador trainee, aprendiz de marceneiro e leiteiro. (ele diz que costumava pegar o seu carro de entregas com um amplificador Marshall amarrado nele, tocando suas fitas preferidas à todo volume às 6 da manhã. “Eu tive muitos empregos porque minha atitude era sempre ruim. Eles eram empregos que destruíam sua alma e eu não podia ficar excitado em estar trabalhando naquilo. Então eu enrolava o máximo que podia até que eles me despediam, ou então eu me enchia e pulava fora. Esse último caso geralmente acontecia quando havia uma apresentação para fazer.”
Tão logo deixou a escola, Adrian começou sua própria banda, que inicialmente se chamava Evil Ways. Dave Murray era o guitarrista, mas , como Adrian gosta de frisar com um sorriso, “Ele tinha a tendência de ficar saindo e voltando”. Adrian sempre quis ter sua própria banda e escrever suas próprias canções e, mesmo que ocasionalmente tocasse por breves períodos em outros grupos, sempre manteve o Urchin na ativa. Ele conta como eram as diferenças entre sua visão de música e o de seu amigo: “Dave estava constantemente atendendo a anúncios na Melody Maker e indo a testes. Eu já não estava tão interessado em entrar em outras bandas. Eu ia a estes testes ocasionalmente só para me testar, ver se eu conseguia enfrentar o nervosismo, ver se eu conseguia encarar tocar para um quarto cheio de pessoas que eu não conhecia. De fato, o primeiro teste que levei realmente a sério foi o do Iron Maiden. Antes dele eu sempre tinha minha própria banda.”
Ele então também abandonou a idéia de ser apenas um cantor: “Uma vez que eu peguei a guitarra e comecei a tocar um pouquinho eu vi que era aquilo que eu queria. Eu me sentia mais confortável com uma guitarra do que sem ela.” Tocar guitarra também abria o caminho para que escrevesse suas próprias músicas.
“Uma das primeiras coisas que eu escrevi foi ‘22 Acacia Avenue’ que, claro, era um pouco diferente da versão que saiu no LP The Number Of The Beast. Eu a escrevi quando tinha 18 anos. Mas eu fiquei mexendo nela durante vários anos variando com as pessoas que estavam na minha banda. Mas é esquisito como ela acabou se tornando uma canção do Maiden. O Urchin deu um show num parque local e nós tocamos ’22 Acacia Avenue’ e provavelmente soou muito diferente do som que faríamos com ela no Maiden, mas a coisa esquisita é que Steve Harris estava naquela apresentação. Eu nem o conhecia naquela época, mas ele se lembrava dela quando eu me juntei à banda anos depois. Nós estávamos preparando o material para The Number Of The Beast e sem mais nem menos o Steve virou pra mim e perguntou ‘Qual era aquela música que você costumava tocar no Urchin?’ e começou a solfeja-la e era ’22 Acacia...’ Ela tinha mudado um bocado desde então e nós provavelmente acabamos por mudá-la ainda mais na época em que a tocamos no Maiden, mas é estranho como ele conseguiu se lembrar dela depois de tantos anos. Isso mostra que nada é desperdiçado. Nós provavelmente nem tocamos tão bem assim aquele dia e devíamos estar mal depois disso, mas porque fomos em frente e demos o melhor de nós, alguém na platéia se lembrou. É por isso que sempre vale a pena dar o melhor de si. Mesmo que pareça ter sido um pequeno desastre na hora, você sempre sai ganhando no final das contas.”
O Urchin conseguiu um contrato de gravação, com o selo DJM (que um dia teve Elton John entre seus contratados) e um empresário muito antes do Maiden colocar o primeiro pé nos escritórios da EMI. “Foi a companhia que veio com o nome ‘Urchin’” Conta Adrian “Eles tinham essa idéia de criar uma imagem para nós.. E nós éramos todos muito jovens - eu tinha apenas 19 anos quando assinamos o contrato.” Ao fazer isso Adrian conseguiu o que era chamado localmente de “Um dólar de Hong Kong”. “Era um contrato muito enganador. Mas eu não sabia absolutamente nada sobre o lado comercial das coisas naquele tempo. E nem queria saber. Tudo que eu me importava era que naquele momento eu estava assinando e no próximo era que eu tinha um contrato de gravação, sabe o que quero dizer? Eu pensava que as coisas eram simples assim.” A banda recebeu 5000 libras de adiantamento que eles rapidamente usaram para comprar um novo PA e “um ônibus grande e bem sujo - para a banda e os ‘roadies’, que basicamente eram alguns amigos muito dedicados”. Um dos quais era soldador que deu um jeito de modificar o veículo com camas e cadeiras de armar. “Ficou ótimo” Conta Adrian “realmente confortável. Coisa aliás que você precisa, se você vai ter que morar naquela coisa durante semanas sem fim.” O que, de fato, acabou acontecendo com o Urchin, que fez, de acordo com estimativa do próprio Smith, “mais de cem apresentações naquele ano.”
O primeiro compacto do Urchin, um “épico sobre motocicletas” foi criado com base num velho riff do Deep Purple, o qual deram o nome de ‘Black Leather Fantasy’ e foi lançado em 1978. “Nós não tínhamos um título para essa música e eu falei ‘Black Leather Fantasy’ (fantasia em couro preto) como uma piada e acabou ficando. Eu me lembro que a capa promocional dizia algo sobre ‘o ressurgimento do Heavy Metal’, mas não havia ninguém fazendo algo assim ainda naquela época.” O compacto teve “umas duas boas resenhas na Sounds e na Melody Maker, mas não vendeu muito. É engraçado, porque Neal Kay costumava toca-lo no Soundhouse. Mas só quando já fazia dois anos que o disco tinha saído.”
Adrian diz que ficou sabendo a respeito de uma banda chamada Iron Maiden em 1977. “É provável até que eu os tenha visto antes do Dave entrar nela, mas foi quando ele se juntou a eles que eu realmente comecei a prestar atenção”. Mas quando Dave mais tarde voltou para o Urchin depois de sua briga com Dennis Wilcock “eu pensei que eles realmente deram uma cagada, porque mesmo naquele tempo eu podia ver que o estilo de guitarra do Dave se encaixava muito melhor no som que o Maiden estava criando do que no que fazíamos no Urchin, que era pesado, mas mais para um hard rock com algum ‘groove’. Nós estávamos mais para o rock da época.” Dave tocaria no compacto seguinte (e último) do Urchin “She’s a Roller”, que acabou sendo lançado em 1980. Mas então Dave já tinha saído mais uma vez - para voltar ao Maiden.
Pouco tempo depois, Adrian recebeu um telefonema de Steve Harris perguntando se ele não estaria interessado em tocar no Maiden. Ele admite que ficou muito tentado, já que o Urchin não estava indo muito longe: “Eu fumei dois maços de cigarro pensando na proposta. Já havia começado a aparecer algumas resenhas sobre o Iron Maiden em jornais de música naquela época e havia muitas especulações rondando. Eu acho que eles estavam a ponto de assinar um contrato com a EMI também e isso podia querer dizer que haveria pagamento e coisas assim, o que seria muito bem vindo para mim. Mas eu acabei recusando a oferta. Eu tinha que faze-lo, realmente. Nós tínhamos nosso ônibus, nosso contrato e eu pensei sobre isso durante algumas horas. Mas eu acabei retornando o telefonema do Steve e disse ‘obrigado pela oferta mas eu vou ficar com o que estou fazendo.’”
Foi uma decisão que - ele admite agora - iria se arrepender, já que o Urchin acabaria no ano seguinte, na mesma época em que o primeiro compacto e LP do Maiden estouravam nas paradas. Assim, ficou sem Ter como tocar, sem dinheiro e sem perspectivas a curto prazo. Enquanto isso seu ex-colega de guitarra se dava bem, para dizer o mínimo.
“Eu me lembro de ter encontrado o Dave num show em algum lugar e me recordo que pensei que ele me parecia muito bem sucedido. Não rico, mas... realmente bem. Ele estava usando aquelas novas roupas de couro e parecia muito feliz, como se tudo estivesse indo muito bem para ele. Não que eu desejasse nada de mal para ele, mas eu não podia deixar de me sentir com um pouco de inveja. Mas eu conhecia o Dave praticamente toda a minha vida e eu estava feliz por ele. É ótimo quando um companheiro seu consegue se realizar, te faz sentir que há uma chance para você conseguir também. Então eu pensei que era grande o que tinha acontecido com ele. Eu só imaginava se isso algum dia ia acontecer comigo.”
Adrian estava meio perdido. Sem uma banda regular para tocar, ele não podia ensaiar. “Então eu fiquei escrevendo músicas e indo a apresentações, imaginando o que faria a seguir.” Seu editor tinha sugerido que colaborasse com um compositor profissional do West End. Mas depois de apenas um encontro Adrian abandonou a idéia, detestando a experiência: “Eu acabei me sentando com este cara, tentando escrever com ele mas a coisa toda foi realmente horrível, nada acontecia. E eu voltei para casa me sentindo realmente deprimido.”
Mas algo estava para acontecer, como ele nos conta: “Eu me lembro voltando para casa (do encontro com o compositor profissional). Eu voltava à pé porque eu não tinha dinheiro para o ônibus e me sentindo deprimido com tudo. Eu acho que estava chuviscando também - você sabe, todo aquele clichê depressivo. Eu estava caminhando de cabeça baixa perdido nos meus pensamentos quando dei de cara com o Steve e o Dave andando na mesma rua. Parecia coisa do destino! E praticamente a primeira coisa que Steve me disse foi: ‘O que você anda fazendo?’ eu respondi: ‘Não muita coisa’. Aí ele me fala: ‘Olha, nós estamos procurando um novo segundo guitarrista, você não estaria interessado?’ Eu não podia acreditar! Parecia uma cena tirada de um daqueles velhos filmes piegas. Foi como se a sua fada madrinha aparecesse na rua! Então eu respondi: ‘Claro, seria ótimo.’ Mais tarde eles me ligaram para dizer onde deveria ir para fazer um teste. Eu tenho que admitir que eu fiquei surpreso quando disseram que eu teria que fazer um teste. Eu pensei ‘Mas o Dave sabe mais sobre o que eu toco do que eu mesmo.’ Mas mesmo assim eu fui porque eu queria muito o lugar. Eu ia concluindo ‘Só porque o Dave sabe que eu toco bem não quer dizer que os outros estão prontos para me aceitar. Então talvez isso possa ser uma coisa boa.”
De fato, a audição foi pra lá de profissional. A primeira em que Adrian encontrou este tipo de clima entre outros músicos para valer. O que ele não sabia era que, depois de terem passado pelo ultra individualista Dennis Stratton - e sofrido com isso - tanto Steve quando Rod Smallwood queriam ter absoluta certeza de que quem quer que quisesse entrar na banda teria que preencher todas as expectativas que tinham para a posição. E Adrian se lembra bem: “Rod estava muito desconfiado, porque eu já tinha recusado o posto uma vez, eu suponho. Mas eu não estava nervoso nem nada. O Maiden estava se dando muito bem, isso estava bem claro desde o início, mas eles não eram estrelas para mim Eles eram apenas outra banda do East End com quem eu tinha crescido junto.”

Steve, na sua visão do teste: “Adrian estava fazendo um tipo de música diferente, mas os outros também estavam, nisso Dennis não era o único. É só que, ao vivo, você tem que ir lá e enlouquecer a platéia, no que Dennis não era muito bem sucedido. Mas Adrian era como um de nós, ele realmente amava o UFO e bandas assim. Você sabe quando a pessoa está na mesma que você, e Adrian estava. Você podia sentir a diferença (entre ele e Dennis) na hora.
Adrian, no entanto, não foi poupado pelo esquema de verificação armado, como ele se recorda: “Rod ficava me interrogando: ‘Você toca riffs? Você faz solos, também?’ Foi tudo muito tenso. Steve estava obviamente muito motivado, muito sério a respeito da coisa toda. Dave e Paul (Di’Anno) me pareciam mais tranqüilos no geral. Mas Rod era o mais sério de todos. Steve ficou falando pra ele parar de me interrogar - o que virou o padrão dos anos seguintes - Rod colocando pressão e Steve decidindo quando era o bastante, este tipo de coisa.”
Depois que o teste acabou, a banda disse a Adrian que esperasse com o tour manager (empresário que cuida da parte de viagens para apresentações) no bar ao lado enquanto que eles iam conversar com Rod, antes de tomar uma decisão. Adrian estranhou: “Para ser honesto, eu nem sabia direito o que era um tour manager, mas ele me levou ao pub e me pagou uma bebida e eu pensei ‘Ah, tour managers são legais’. Então, vinte minutos depois, eles se juntaram a nós e disseram: ‘Você está dentro’. Foi fantástico! Foi como ser acolhido dentro de uma família, ou quase. De fato, a impressão que tive foi que eles se mantinham unidos como uma família. E foi a primeira vez que fui pago para tocar e eu estaria mentindo se não dissesse que o dinheiro foi ótimo. Eu nunca tinha tido dinheiro antes, então estava claro que isso era ótimo. Mas também foi fantástico tocar com o Dave de novo e igualmente foi um verdadeiro desafio porque o Maiden foi a primeira banda profissional em que eu estive em minha vida. Você sabe, eles tinham roadies de verdade e um equipamento espetacular. Você tinha uma coisa para batalhar realmente. Quer dizer, assim que passou toda a euforia de ter entrado na banda, eu comecei a pensar em todas as coisas que me esperavam nesse trabalho. Eu admito que comecei a me sentir meio intimidado. Eu sempre tive completo controle sobre todos os outros grupos em que toquei. Eu sempre escrevia as músicas e tinha músicos que queriam tocar comigo. Mas quando eu entrei para o Maiden pela primeira vez eu era apenas um guitarrista e isso foi muito diferente. Eu tive tocar coisas que eu normalmente não tocaria, porque o tipo de canções que o Steve escreve tende a ir em várias direções diferentes, muitas delas são bastante complexas, com várias mudanças de compasso e partes diferentes que ele quer que você toque. Isso definitivamente me fez um guitarrista melhor - de repente eles esperavam que eu tocasse músicas mais intrincadas do que qualquer coisa que eu estava acostumado a tocar até então. Quer dizer, qualquer um que fosse tocar no Maiden ia achar isso um empregão, e eu tinha apenas 23 anos na época, assim acho que era muito jovem pra entrar numa coisa tão grande. Mas eu sempre tive bastante confiança em mim mesmo então fui em frente sorrindo, realmente”.
A primeira coisa que Adrian fez ao entrar na banda foi participar de um show na TV alemã. “Eu nunca tinha feito TV na minha vida, mas graças à Deus era uma dessas apresentações dubladas, com as canções pre-gravadas. Você entra rapidinho, faz o seu número e sai rapidinho também, não dá nem tempo de pensar muito sobre o assunto”.
De volta à Inglaterra Adrian, ao contrário da maioria dos membros até então, acabou indo primeiro para o estúdio, onde começaram a ensaiar o novo material antes de qualquer apresentação ao vivo. “Eu acho que a primeira música que eu trabalhei com eles foi ‘Killers’, que seria a faixa título do novo disco e “Purgatory’, que acabou virando um dos compactos tirado deste disco. Eu acho que essa era uma versão de outra música antiga deles chamada ‘Floating’.
O primeiro show de Adrian com o Maiden seria na Brunel Univesity, em Uxbridge, no dia 21 de novembro de 1980, que contou com a presença maciça dos fãs radicais do East End. “O lugar dava conta de 2000 pessoas e ele estava lotado. Eu nunca tinha tocado para tanta gente antes. E os fãs do Maiden não eram parecidos com nenhum dos que eu tinha cruzado em minha vida. Eles eram loucos, muitos deles. Loucos e apaixonados, e se você não fosse verdadeiro eles acabavam com você num segundo, sabe? Naquele primeiro show eu me recordo que estava muito nervoso pouco antes de nós irmos tocar. Então pensei em ir lá fora e me misturar um pouco com o povo, dar um ‘oi’, aliviar um pouco. E eu me lembro que um cara chegou até mim e disse: ‘Você é o novo guitarrista?’, eu disse que sim, que era, e ele me falou: ‘É melhor você ser bom!’ Eu pensei: ‘Merda! Onde é que eu fui me meter?’”
Ele logo descobriria: tudo ocorreu legal e ele foi aceito pela galera. Mas o Maiden precisava de mais alguns shows para que o novo membro se entrosasse antes das gravações começarem para valer. Foram doze ao todo, em dezembro. Que Adrian se lembra muito bem: “Nós fizemos doze shows em dezembro, que terminaram com um no Rainbow, o que foi uma experiência maravilhosa, no plano pessoal. Eu cresci indo assistir shows no Rainbow. Eu vi o The Who lá, Rory Gallagher, Nazareth... Agora, para mim estar realmente ali, em pé no palco - isso quase nem parecia real. Mas o show daquela noite foi filmado e quando eu o vi, com certeza, eu estava lá (obs. Ele se refere ao primeiro vídeo do Iron, lançado em 1981). Nós ensaiamos para a tour no que agora é conhecido com Brixton Academy - um espaço enorme no sul de Londres - e eu me lembro de entrar lá e vendo aquele equipamento gigantesco sendo armado e fiquei pensando ‘Eu não consigo acreditar nisso! Isso é o grande sucesso!’
Adrian tinha entrado e o futuro do Metal estaria garantido pelo resto dos anos 80.

A SAÍDA DE ADRIAN EM 1989
Toda a história de Adrian com o Maiden está na biografia da banda. Aqui abrimos um parênteses para contar com mais detalhes sobre sua saída da banda em 1989. Tudo começaria quando o Maiden acabou sua tour do disco The Seventh Son Of A Seventh Son. 89 era para ser um ano de “folga’ para banda. Steve se ocupou editando as imagens do que seria o vídeo ‘Maiden England’. Enquanto Dave Murray se ocupava em arrumar a casa na ilha de Maui com sua esposa Tamara, Adrian pensou que talvez fosse a hora de fazer algo por conta própria. Foi o que acabaria rendendo o disco ASAP, nome também de sua banda de pouca duração. De acordo com o próprio, a idéia não era nova e já tinha suas raízes fincadas dois anos antes: “foi quando tivemos uma folga antes de começarmos o disco ‘Somewhere In Time’, depois da World Slavery Tour. A coisa toda começou quando Nicko ficou cheio de não fazer nada e decidiu alugar uma pequena sala de ensaios, assim ele teria onde ir para tocar um pouco de bateria. Mas isso não é o tipo de coisa que você pode fazer sozinho, por isso ele me telefonou num belo dia para me perguntar se não queria ir lá fazer umas jams com ele, só para praticar um pouco. Então eu disse: ‘Legal, e o que você acha de eu chamar alguns amigos para ir comigo?’ Mas dê a um bando de músicos um lugar para ensaiar por dez minutos e antes que você perceba isso acaba virando uma apresentação e foi mais ou menos isso que aconteceu.”
O resultado foi uma congregação de músicos que atendia pelo estrambólico nome de The Entire Population Of Hackney (A população total de Hackney). Ele explica o que aconteceu: “Éramos eu e Nicko, Andy Barnett (que mais tarde tocaria no FM) e outro guitarrista meu amigo chamado Dave Caldwell, que depois foi tocar no Bad Company. E tinha outro colega deles chamado Richard Young nos teclados. E, basicamente, a gente só fez umas duas apresentações apenas por diversão - uma num pub em Gravesend chamado Red Lion, e uma no Marquee, onde um monte de fãs do Maiden apareceram também. Nós escrevemos alguns músicas, eu estava cuidando da maioria dos vocais e foi muito divertido. Mas ficou só nisso - por um tempo.”
Ironicamente Adrian diz que se sentiu atraído pela idéia de levar as coisas mais a sério quando o Maiden escolheu duas das músicas que havia apresentado nos shows do The Entire Population Of hackney - ‘Juanita’ e ‘Reach Out’- e as colocou como lados B de compactos do Somewhere In Time. “Foi mais ou menos aí que comecei a fazer umas demos das músicas que o Maiden não estaria interessado em gravar.” Diz ele “Até então eu costumava descartar qualquer idéia que não fosse funcionar para o Maiden.” Dois anos depois, Adrian tinha uma “pilha de material” que o Maiden não estaria interessado. Eram coisas diferentes e canções escritas pela metade. E, curiosidade das curiosidades, teriam ficado por ali não fosse o interesse demonstrado por Rod Smallwood por elas quando as ouviu através das demos de Adrian.
Rod Smallwood: “Eu achava que elas soavam assim como Bruce Springteen ou Bryan Adams. Não eram uma competição com o Maiden de jeito nenhum, porque eram tão diferentes de tudo que o Maiden normalmente faz. Elas poderiam demonstrar o lado mais comercial do Adrian.” Adrian diz que Rod achava mesmo que a possibilidade de um guitarrista ter um sucesso nos Estados Unidos seria uma boa coisa para o status do Maiden naquele país (onde o Maiden nunca tinha tido um compacto nas paradas). “ele me disse: ‘Seria grande ter um hit lá porque isso faria com que isso chamasse a atenção dos americanos de novo para o Maiden.”
Mas apesar de ter recebido um ‘caminhão de dinheiro’ da EMI, o projeto solo de Adrian, o ASAP, não conseguiu colocar seu LP nas paradas nem dos Estados Unidos nem da Inglaterra. O disco foi gravado em Londres, sendo produzido por Steven Stewart Short (que já tinha trabalhado com David Bowie e o Queen). Lançado em setembro de 1989, o disco foi recebido com muitas reservas, já que nenhuma das músicas se comparava aos seus trabalhos mais elaborados no Iron. Houve até uma tour por clubes na Inglaterra com Zak Starkey (filho do ex-Beatle Ringo Starr) substituindo Nicko na bateria. Adrian também passou duas semanas inteiras dando entrevistas promocionais nos Estados Unidos. Mas foi tudo em vão. A imagem de Adrian era de um guitarrista de heavy metal e o disco era tudo menos metal. Construir uma nova imagem, ele havia descoberto, não era assim tão fácil. Muito menos torná-la viável para um público não-metaleiro.
Mas a saída de Adrian do Maiden no final daquele ano foi causada, em parte, na pressa de se fazer o novo disco, como explica o próprio guitarrista: “O plano inicial era de passarmos três meses no celeiro do Steve, indo devagar e ir captando o momento. Mas então depois do que parecia ter sido só umas duas semanas foi decidido trazer o estúdio móvel dos Rolling Stones para lá e começar as gravações. E eu estava completamente atordoado com a idéia. Eu queria mais tempo para acabar minhas músicas. Eu tinha terminado o projeto do ASAP havia pouco tempo e talvez eu tivesse usado muito de minha energia criativa nele. Mas eu acho que o ASAP chocou muita gente também. Parece que ele deixou uma imagem errada para a banda de alguma forma, talvez deixando eles preocupados dando a impressão de eu não estar mais interessado em tocar metal de novo.”
Adrian também não estava nada satisfeito com o novo direcionamento Steve: fazer um álbum mais cru e básico. “A idéia era: ‘Vamos voltar o tempo e fazer um disco bem rústico como Killers’, e eu não queria fazer aquilo. Eu achava que estávamos indo na direção certa com os últimos dois discos. Eu achei que isso era um passo para trás voltarmos ao básico de novo. Eu achava que nós precisávamos ir em frente e não me sentia bem com aquilo. Mas minha atitude não foi: ‘Certo, eu estou saindo!’ Eu apenas não estava 100% convencido. Só isso. E uma vez que eu expressei algumas dúvidas, Steve me disse: ‘Você não parece estar realmente a fim de permanecer na banda. Se você estiver 110% conosco, tudo bem, você pode continuar. Mas não se esqueça: você vai ter que investir mais um ano na estrada. Tem certeza de quer mesmo fazer isso?’ E quanto mais eu pensava nisso mais eu concluía que ele estava certo. Você não agüenta passar por tudo isso se não estiver 100% feliz. Seria um desastre. E não seria justo com ninguém.”
Steve Harris, por seu lado, acredita que Adrian não estava feliz há bastante tempo. - Havia sempre alguma coisa errada - diz Steve - Algumas vezes ele ficava de cabeça baixa e a gente ficava fazendo caras e bocas, sabe, só para faze-lo rir, mas ele não estava pegando o espírito da coisa. Então antes de fazermos o Seventh Son... eu disse pra ele: ‘Olha, você quer estar no próximo álbum?’ e ele tipo que me respondeu: ‘Sim, sim, claro que eu quero...’ eu disse: ‘eu só queria ouvir você confirmar, só isso.’ Mas nós fizemos o Seventh Son... fizemos a tour e ele parecia um pouco mais animado. Mas quando estávamos terminando a excursão e indo começar o novo disco Adrian começou a parecer estar negativo a respeito de um monte de coisas. Ele não parecia ter mais aquela paixão, e então apareceu de novo, aquela perguntinha de seis milhões de dólares: você quer ou não ficar na banda? E ele respondeu algo como: ‘Bom, eu não sei, não tive tempo de pensar nisso ainda.’ E eu pensei ‘Hei, espere aí, você sabe que tudo que queria ouvir era ‘’Claro que eu quero, não seja estúpido!’ Era este tipo de resposta que nós queríamos. Eu sei que ele é uma pessoa indecisa, para dizer o mínimo. Mas isso era sério.
“Foi decidido que teríamos uma reunião da banda.” Comenta Adrian “Foi mais o Steve que falou. Ele disse: ‘Você não me parece feliz ou envolvido como antes’. E eu disse: ‘Bem...’ respirei fundo e falei por cerca de uma hora sobre como eu me sentia. Eu tinha acabado de lançar um disco onde eu realmente me expressava, muito feliz em tocar e cantar. Eu sabia que o Maiden tinha sua própria estória e eu ainda estava feliz em contribuir para ela. Mas não me pareceu que eu teria algum tipo de oportunidade em fazer algo para o próximo disco. Eu sentia que precisava de mais tempo para trabalhar novas músicas, mas o estúdio móvel já tinha chegado e eu não tinha escrito nenhuma canção e estava... muito infeliz.”
Steve Harris: “Então nós dissemos: ‘Ok, então talvez devamos tomar a decisão por você. E dissemos a ele: ‘Se você não está 100%, então não pode faze-lo’ E ele apenas deu os ombros e disse: ‘Eu estava esperando que as coisas fossem de outro jeito.’ Ele estava esperando que nós ainda o quiséssemos. Mas para isso era preciso que ele quisesse ficar por si mesmo. Foi péssimo para mim, porque eu realmente gosto do Adrian. Pessoalmente eu era provavelmente o cara mais próximo dele que qualquer um, e isso me arrasou. Me arrasou saber que ele não queria estar mais na banda, mas eu pensei: ‘Temos que ser fortes sobre isso. Não podemos deixar alguém naquele posto só por ficar, sabe?’
“Eu realmente gostaria de poder chegar pra eles e dizer: “sim, claro, estou dentro.’, sabe?” Devolve Adrian “Mas a vida não é tudo branco no preto. Sempre há dúvidas, especialmente quando você vai ficando mais velho. E tudo isso aconteceu durante dois dias agonizantes. Houve um monte de telefonemas longos, tudo foi muito emocional. O Maiden tinha sido minha vida por dez anos e tinha se tornado como uma família para mim. Foi muito estranho no princípio, eu tenho que admitir. Eu não tinha mais aquele envolvimento com eles no dia a dia o qual eu me envolvi por tantos anos. Mas por outro lado eu senti que havia tirado um peso de cima dos ombros. A verdade era que eu estava infeliz. Me senti travado depois que fiz meu disco solo. E voltar e não ter nenhuma idéia nova... isso me pegou no final.”

Adrian estava certo em pelo menos um ponto: a direção musical. “No Prayer For The Dying”é o disco menos bem sucedido do Maiden da era Bruce Dickinson. Quando retornou ao Maiden nove anos depois, Brave New World mostrou claramente que era um sucessor muito mais próximo de Seventh Son.. do que qualquer outro trabalho do Maiden feito após sua saída. Este intervalo, por mais doloroso que tenha sido para os fãs de seu estilo fluente e melódico acabou sendo benéfico, seja dando seu toque pessoal nos dois mais recentes discos solos de Bruce, seja na sua grande volta. Sua contribuição ao som do Maiden estaria garantida desde suas primeiras contribuições, mas todos ficaram felizes com seu retorno.

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