Loopy's World (Parte 7) - O Music Machine

LOOPY'S WORLD (PARTE 7)
Publicado originalmente no Iron Maiden 666
GRAVANDO DEMOS A MENOS 20 GRAUS (REVISITADO)
Steve Loopy Newhouse - Metaltalk.net | Loopy's World
Tradução: Ricardo Lira








Minhas primeiras recordações do Music Machine são de ter chegado lá, antes de qualquer outro, junto com o restante da equipe, e inspecionar o local. Era enorme se comparado a alguns dos outros locais em que tocamos. O palco tinha cerca de sete pés acima do nível do piso mas, para nossa sorte, nossa carga ficava quase ao lado do palco, então tornava a vida mais fácil trazer todo o equipamento pra dentro. Não tão fácil de levá-lo pra fora novamente, porque embora as atividades locais estivessem em pleno andamento, aquela mesma porta permanecia fechada até que toda a ronda de shows estivesse encerrada por volta de 2 da manhã.

Muito daquilo tinha a ver com o barulho do lugar saindo para as ruas, o que os locais deveriam entender como um horário impróprio da manhã, mas para o resto de nós era bem normal. Nós não vivíamos o estilo de vida útil de 9h às 17h (N.T.: Como eles chamam lá o horário de trabalho '9 to 5'). Estávamos vivendo no limite.

No limite do quê, você pode perguntar? Sucesso, talvez? Naquela época, quem podia saber?

Havia também o aspecto da saúde e da segurança, a ser tratado, mas nós não ligávamos tanto para isso naqueles dias. Acho que ninguém ligava. Se alguma coisa dava errada, procuravam dar uma olhada e então lidar com ela. Hoje em dia, se alguma coisa dá errado, muita gente acaba se envolvendo. Este departamento, e aquele departamento, discutindo sobre algo que poderia ser facilmente limpo com um lenço de papel. Isso me irrita bastante, mas vamos procurar não divagar.

O palco tinha um tamanho decente para acomodar as três bandas agendadas, que apareciam em ordem de headliner (N.T.: De quem encabeça o festival até quem abre) , Samson, Iron Maiden e Angel Witch. E então, claro, havia Neal Kay que, junto a um promoter local, foi quem arrumou tudo.



Olhando para o palco de frente da casa, (a área da clientela, se preferir) Neal tinha essa caixa de DJ à esquerda. Ele também tinha sua própria equipe, o que eu achava bacana. Neal nunca tocava em nada. Eu acho que ele não tocava nem nos próprios discos. Estou certo de que ele tinha alguém pra fazer isso também. Mas podia estar errado.

De volta lá pra dentro...


Três caras se encontraram com a gente, que descobrimos serem da equipe local, prontos para nos ajudar a descarregar e carregar novamente o equipamento. Eles eram geralmente conhecidos como 'corcundas'. O líder, ou por falta de um termo melhor, chefe da equipe, era um biker chamado Crazy Ken (que eu lembro ser um absoluto louco). Mas tenho que admitir, ele e seus dois companheiros não falhavam quando o negócio era tirar o equipamento da nossa van e colocá-lo dentro do espaço.

Após minha aventura com o Maiden eu me tornei um ajudante de palco junto a uma companhia londrina chamada Stage Miracles, mas nunca voltei a me cruzar com esses caras de novo. Isto te faz perguntar... para onde é que eles desaparecem?

Chegar lá muito cedo foi culpa nossa, e agora nós tínhamos horas para matar. Então nós passamos o tempo falando merda e achando mais e mais coisas estúpidas pra fazer.

Ken tinha um absorvente usado no bolso que ele chupava, e depois oferecia pra qualquer um. Bizarro, mas é verdade.

Descobri que se eu me inclinasse pra bem longe de uma cadeira em particular, ela "acidentalmente" cairia, e eu me arrebentaria no chão, para a deliciosa apreciação de nossos amigos bikers.

A brincadeira estava começando a ficar um pouco estúpida, até que outro pessoal aparecia e então os bikers saíam para encher o saco deles. E nós tínhamos que começar a nos preparar para o show.

Os camarins eram um insulto para todos nós. Mesmo. O backstage do Music Machine não tinha propriamente quartos, senão cubículos. Não havia ninguém pra tomar conta deles, então tínhamos que arrumar um pra ficar de olho nos efeitos pessoais das bandas durante o show. Não era um caso de desconfiança, ou talvez fosse, olhando agora pra época. Não conhecíamos ninguém mais dos grupos marcados no dia, então estávamos apenas sendo cautelosos. Nós éramos do leste de Londres, Angel Witch era do sul de Londres, e Samson poderia ter vindo de qualquer lugar, pois eles eram um tanto estranhos. Mas eu volto a eles em um instante.

Não estou bem certo se havia um problema com o sistema de esgotos no MM, mas o mais baixo que você descia, mais molhado os pisos ficavam. A banda decidiu se trocar para o show a cerca de 15 pés de distância do acesso ao palco e até este dia eu não faço ideia de quem cuidou de seus pertences pessoais, mas foram mantidos em segurança.

Angel Witch abriu a noite e tocou o que eu lembro ter sido um poderoso e Sabbathesco (N.T.: Expressão utilizada para se comparar ao Black Sabbath) set. Muitas linhas de baixo bem heavy complementadas por uma dupla de guitarras, e um baterista bem competente.

Tocaram por cerca de meia hora, talvez mais. Faz tanto tempo que fica difícil aferir o tempo, mas o Angel Witch não deixou ninguém frustrado.



Então chegou a nossa vez. A maior parte de nossas coisas já estava no palco e tudo o que tínhamos que fazer era esperar que o Angel Witch retirar seus equipamentos e então mover o nosso e colocá-los em posição.

A banda tocou um puta set naquela noite, terminando com o Iron Maiden e Lightsy (Dave Lights) ajustando a máscara para o deleite da multidão.

Tendo participado de tantos shows locais em tão curto espaço de tempo, os fãs do Maiden naquela noite me surpreenderam. Talvez eu não possa descrever adequadamente o cenário, mas eu diria sem hesitação que a maioria do pessoal que veio, estava lá para ver o Iron Maiden. Acho que a coisa falou por si só, quando dentro de poucas semanas nós fomos os headliners da mesma casa de shows.



Mas minha estória da primeira noite no Music Machine ainda não está terminada.

Enquanto eu e Pete guardávamos o equipamento e colocávamos tudo em um lado do prédio, o Samson começava o set deles.

Não demorei muito a perceber que, mesmo que não fosse o melhor musical rock que eu já tinha ouvido, o cantor tinha algo de notável.



Bruce Dickinson, um jovem com grandes ideias, era o ponto alto da apresentação do Samson.

Nós o vimos escalar amplificadores, pular e fazer barrel rolls (N.T.: Uma manobra que é explicada em aviação como algo entre o loop e o rolamento lateral). Ele era o frontman mais elétrico que já tínhamos visto.

O resto da banda percebeu também.

Eu fiquei perto de Steve Harris, que estava com Dave Murray à direita, e os dois conversaram entre eles durante todo o show do Samson, sobre o que, eu não faço ideia, mas em retrospectiva, acho que podemos presumir o que? Talvez!!!

Quando o show terminou às 2 da manhã, finalmente foi permitido que levássemos nosso equipamento para fora do prédio. Vic trouxe a Green Goddess para perto das portas de descarga e nós colocamos todas as nossas coisas na traseira da van e seguimos pra casa.

Tudo acabou indo muito bem. Nós tínhamos acabado de tocar para nossa maior plateia até o momento, e sabíamos que as coisas iam passar a ficar ainda melhor.

Ou não, como coisas normalmente acontecem.

Estávamos quase chegando em casa quando a Green Goddess decidiu se entregar. Depois de várias verificações terem sido feitas no veículo, foi decidido que voltaríamos para casa por contra própria.

Estava tranquilo e feliz por caminhar até em casa, mas algumas pessoas tomaram táxi. Às 3 da matina, eu não me importava mesmo. Comecei a andar, afinal, era apenas o viaduto Canning Town e eu já tinha passado por ali inúmeras vezes após assistir o RDB (Remus Down Boulevard) tocar na Bridgehouse, com um certo Dennis Stratton.

O que mais me deixou assustado em nossos primeiros passos, foi ter visto um rato de quase o tamanho de um cachorro médio. James Herbert (Os Ratos), seu bastardo. Se vocês não forem familiarizados com livros, então eu sugiro dar-lhes uma chance.

Felizmente, o resto da viagem de volta transcorreu sem inconvenientes.


Continua...





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