PARTE 4 - A TERRA ESTÁ FICANDO MAIS VERDE
Steve Loopy Newhouse - Metaltalk.net | Loopy's World
Tradução: Ricardo Lira
LEIA TAMBÉM: PARTE 1 / PARTE 2 / PARTE 3
De volta àqueles tempos, Steve Harris costumava empilhar todo equipamento da banda no quarto da frente da casa de sua avó, em Leytonstone, no bom e velho East End de Londres. Mas sentindo que as coisas se moviam rapidamente, Steve conseguiu arrumar um empréstimo de cerca de £3,000 e o usou muito bem. Nós acabamos ficando com um sistema de amplificadores e com a ajuda de Vic também compramos a, agora infame, Green Goddess (trad. livre: Deusa Verde).
Ela era uma caminhonete GMC Redline com espaço na cabine para um motorista e duas companhias. A traseira dela tinha espaço mais que suficiente para armazenar todo o equipamento da banda e os amps. Nós fizemos alguns concertos com Vic ou Pete dirigindo e dois caras se sentando na frente, com o restante atrás, ao lado dos equipamentos.
Mas antes que eu entre neste assunto, uma pequena visão pessoal do concerto na Base Aérea.
Eu lembro daquele ter sido um dia bem quente. Era 4 de julho, Dia da Independência, 1979. Quando nós chegamos com a Green Goddess, não tínhamos ideia do que esperar. Na chegada pelo portão principal fomos instruídos a seguir para o Refeitório, onde “você vai instalar, e fazer bem isso”(fala militar para arrumar o equipamento da banda). OK, nós podemos fazer isso, pensamos.
De repente as coisas se tornaram em um amontoado de atividades. Nosso equipamento estava fora da caminhonete e “pronto para ser montado” (mais fala militar) e então, prontos nós estávamos.
Estávamos tocando com os parceiros rockers do Urchin, cujo cantor e guitarrista principal, Adrian Smith, era um dos melhores amigos de Dave Murray. Eu também soube nesta época que Steve Harris gostava de Adrian.
Dave disse várias vezes que Adrian seria seu parceiro de guitarra ideal. Steve se aproximou de Adrian algumas vezes pedindo para se juntar à banda, mas enquanto o Urchin ainda levantasse alguma poeira no circuito londrino, Adrian continuava declinando a oferta.
Esta foi a melhor hora do Iron Maiden, indo até um pouco além. Lembro-me de Dave ficar de pé em uma mesa e fazer sua melhor rendição da versão de Jimi Hendrix para Star Spangled Banner (Hino Nacional americano).
Como esperado, a multidão veio abaixo e queria mais. Eu acho que o Iron Maiden fez cinco encores naquela noite, e ficou claro pra todos nós que o mercado americano para o Heavy Metal, e o Iron Maiden, estava totalmente aberto.
Mas a euforia teve vida curta após as fantásticas ocorrências do dia.
Um dos caras que viajava conosco, e nos ajudou com os shows algumas vezes, mas nunca foi oficialmente parte da equipe (e irá permanecer sem nome por razões óbvias), decidiu que seria realmente divertido atirar porcaria pela parte de trás da caminhonete enquanto ela se movia. Eu não sei se esse cara sabia ou não, mas estávamos sendo seguidos por outros veículos, e ainda, surpreendentemente, nada jamais foi reportado.
Logo se tornou óbvio que ninguém achava mais nenhum papel higiênico ou lenços de papel, então, sendo o bêbado que era, puxou suas calças pra cima e empesteou a van todo o caminho de volta ate a East End de Londres.
Claro, tão logo voltamos a falar com Steve, os que estavam lá atrás reclamaram do comportamento do nosso velho amigo e ele foi rapidamente removido e impedido de nos ajudar novamente.
Pouco após este episódio, e convencionalmente durante um período de ensaios, a Green Goddess levou uma recauchutagem.
Uma persiana foi construída pelo lado de dentro e lateral da caminhonete, permitindo acesso ao lado do veículo. Uma vez que aquela persiana subia, eu ficava histérico. Uma partição havia sido arrumada lá dentro, dispondo três beliches à direita, dois à esquerda, e um grande espaço acima da cabine do motorista, o suficiente para dormir quatro pessoas lado a lado, confortavelmente. Mas havia sempre cinco de nós, então na maioria das vezes era um aperto.
Também, duas janelas tinham sido abertas na frente da Goddess, acima da cabine do motorista, então podíamos ver pra onde estávamos indo. Nós até tínhamos um rádio transmissor-receptor encaixado entre o motorista e o compartimento da equipe, embora eu não creia que funcionasse direto, especialmente em uma ocasião em que me lembro ter pedido por uma paradinha pra mijar que eu só consegui uma hora mais tarde.
O espaço do topo acima da cabine era onde mais nos sentíamos confortáveis. Eu não sei se era porque podíamos ver pela janela ou se era pura camaradagem, mas era algo especial com os quatro, algumas vezes cinco de nós, todos amontoados em nossos sacos de dormir. Dava sempre pra arrancar uma boa risada. As constantes brincadeiras e estupidezes eram intermináveis.
Houve uma ocasião, enquanto deitado em meu saco de dormir, que calhou de eu olhar pra Doug, que simplesmente disse: "Você vai olhar dentro dos meus olhos quando eu for gozar?" Murray, Di'Anno e Lights começaram a rolar de tanto rir, quando então eu disse, sério: "Sim, por favor." Aquilo foi o suficiente pra inchar todo mundo com ataques de apoplexia.
E então havia o ocasional rolo com a lei.
Certa vez estávamos indo para um concerto em Newport, Gwent, quando nossa jornada pela M4 pareceu dar terrivelmente errado. Tendo errado nossa saída, Vic decidiu que seria uma boa ideia cortar pela reserva central, para dentro do crescente tráfego, e basicamente fez aquela voltinha em “U”. Numa M4???? Claro, não demorou muito para a polícia chegar e nos arrancar lá de dentro.
Com Pete, Vic e Steve sentados na cabine, e o resto de nós assistindo das janelas acima, toda situação não demorou muito pra ser resolvida. Vic tomou um tapa no pulso, mas isso foi tudo.
Eu acho que o que mais me marcou foi o olhar no rosto do policial enquanto ele olhava pra cima, pela frente da van, e percebia que havia cindo de nós olhando de volta.
Abençoada seja, ela nos levou a lugares por todo o país e, pela maneira como as coisas iam, a Goddess não tinha escolha. Na época, com a popularidade ganhando seu momentum, éramos enviados de lugares como Blackpool para Aberdeen, durante a noite, e então de volta a Liverpool na noite seguinte.
Este tipo de atividade era como realmente se fazia naqueles dias. Estávamos conseguindo nossos shows através de uma agência, que tentava catar moedas em todo lugar. Muito mais tarde teríamos uma agência que conseguiria quatro ou cinco shows nas proximidades, o que permitiria, portanto, uma turnê mais em conta; financeiramente pelo menos. Mas levou mais de um ano para arrumarmos isso.
Enquanto em Birkenhead, dando um show com um milhão de degraus (de fato eu acho que o lugar se chamava Stairway Club (N.T.: Algo como ‘O Clube da Escadaria’), mas eles se esqueceram de mencionar a parte do milhão), Paul, usando seu charme, conseguiu desenrolar com duas garotas locais e parecia que todos nós íamos conseguir se lavar.
A maioria de nós não tinha tomado banho em semanas e nossos sacos de dormir estavam começando a ficar uma fedentina só. Inicialmente, essas duas jovens damas iam nos levar até suas casas e nos deixar tomar um banho, até que alguém disse alguma coisa sobre quem é que ia dar uma trepada primeiro, e as garotas se irritaram e deixaram-nos sozinhos pra se virar.
Vivendo de nossos talentos com uma conta extremamente limitada, alguma coisa tinha que ceder.
Sendo a última data de uma mini-turnê, havia apenas uma coisa a fazer e a decisão foi unânime. Dirigimos diretamente para Londres naquela noite e foi concordado que sairíamos da estrada por um tempo para recarregar nossas baterias, ensaiar o novo material que Steve andava compondo e, ultimamente, procurar por um segundo guitarrista.
Continua...
Loopy's World (Parte 5) - Gravando Demos a Menos 20 Graus