Biografia – Nicko
McBrain
Um dos grandes bateristas do Heavy
Mundial, Nicko McBrain entrou para o Iron Maiden apenas no quarto disco, mas
foi decisivo para que a banda pudesse desenvolver seu som além dos limites
impostos da época.
Dono de uma técnica ímpar, ele
curiosamente substituiu um outro excelente baterista, Clive Burr, possuindo os
mesmo hábitos que causaram a queda do seu antecessor. Nicko é, ou era, um
festeiro absoluto.
Ao entrar para o Maiden ele
surpreendeu a todos com sua energia inesgotável. Como diz Steve Harris: “A
coisa toda com o Nicko é que ele tem essa – eu não sei do que você chama isso –
mas esse depósito de energia em algum lugar. Ele sempre teve esta coisa que,
independente do que ele faz, isso nunca afetou sua performance. (...) E Nick
nunca deixou que nada o impedisse de dar 110% de si no palco. E para mim, como
baixista, isso é realmente ótimo. Isso significa que eu nunca tive um show ruim
porque o baterista me deixou na mão, o que acontecia muitas vezes com o Clive.
Então apesar de Nick ser o Senhor
Festeiro, isso nunca me incomodou e ainda não incomoda. Eu sei que ele estará
em ponto de bala no minuto em que entrarmos no palco, e isso não tem preço para
mim.”
O que pouca gente sabe é que Nicko e
sua futura banda se encontraram várias vezes nos palcos da Europa. Quando
estava no Trust ele tocou abrindo para o Maiden em 1981. Dave Murray se recorda
do fato: “Os membros do Trust eram franceses enquanto que Nicko era tão inglês
quanto feijão cozido (um prato típico da Inglaterra). Então ele ficava a maior
parte do tempo se enturmando com a gente, foi assim que nós o conhecemos.” Mas
Steve Harris têm lembranças ainda mais antigas, quando Nicko tocava num trio
chamado Kitty, num festival na Bélgica em 1979: “De fato, foi nossa primeira
apresentação fora da Inglaterra e a gente ainda era só semi-profissional
naquela época. A Gillan era a banda principal , eu acho, e Nicko estava tocando
com Donovan Mckitty, que era um grande guitarrista muito influenciado por Jimi
Hendrix, e Charlie Tumahai – que já tocou no Be-Bop De luxe, que eu adorava –
no baixo. Eles tocaram sua parte e havia todo aquele tipo de problemas – a
guitarra de Donovan Mckitty pifou e Nick e Charlie fizeram essa espécie de jam
juntos enquanto ele tentava consertar a guitarra. E Nicko foi incrível! Solos
de bateria costumam ser um tédio, mas assisti-lo fazer isso foi melhor do que
ver o resto do show!
Então eu me lembrei dele desta época e
quando Clive saiu, ele foi uma das primeira pessoas em quem pensei. Eu quero
dizer, ele sempre foi uma ‘figura’, mas eu apenas sabia que ele seria o homem
certo para o serviço. Foi engraçado porque anos depois, quando o Blaze entrou,
foi o Nick que chegou para mim e disse: ‘Olha, eu ouvi dizer que esse cara é um
festeiro e tanto, você tem mesmo certeza que nós estamos fazendo a coisa
certa?’ Eu disse: ‘Nick, espere um minuto – nós contratamos você!’ E ele pensou
nisso e respondeu: ‘É, é verdade!’ E nós dois caímos na gargalhada.
Ele ganhou essa reputação de ser o
Senhor Excesso e ela está bastante correta pelas muitas estórias que ouvi as
pessoas me contarem através dos anos! Você nunca sabe que Nick você vai
encontrar, porque ele tende a mudar de show para show. Um minuto e ele está pra
cima e é o Senhor Festeiro e então no dia seguinte ele pode ser o Senhor
Deprimido, mas isso é o jeito que ele é. Mas isso nunca afetou o seu modo de
tocar e se isso acontecesse então tudo que teríamos a fazer seria dar um
tapinha nele e aí ele tipo que poria seu rabo entre as pernas e se consertaria,
sabe. Nick nunca foi um problema deste tipo.”
Michael Henry McBrain nasceu em
Hackney, East London, no dia 5 de junho de 1952. Seu apelido apareceu quando
ainda era criança: Nicky. Por um motivo muito singelo para um futuro baterista
de Heavy Metal coberto de tatuagens. O nome foi dado porque, ele sorri ao
confessar, “esse era o nome do meu ursinho de pelúcia – Nicholas, o urso. Eu
era muito apegado a ele, eu o levava para tudo quanto é lugar comigo, então
meus familiares começaram a me chamar de ‘Nicky’ de brincadeira. A não ser que
eu estivesse encrencado, aí era: ‘Michael’!”
Sua família não era particularmente
musical, mas seu pai era um grande fã de jazz, e logo Nicko estava ouvindo os
grandes da área. Seu herói na juventude foi o celebrado baterista Joe Morella,
a quem ele descobriu numa performance na TV, tocando com Dave Brubeck, no
começo dos anos 60.
“Quando eu tinha uns dez anos de
idade, eu costumava pegar todas as panelas, potes e latas de biscoito de minha
mãe e tudo mais que eu pudesse colocar minhas mãos que fizesse um bom som
quando era batido por algo, aí pegava as agulhas de tricô de minha mãe e
começava a barulheira. Eu fingia que era Joe Morella batendo nos tambores. Ou
então eu ia até a cozinha e pegava um par de facas e começava a bater naquele fogão
a gás – um bem grande – e claro que toda a pintura começou a lascar e minha mãe
ficava uma fera.”
Em nome da paz familiar e para poupar
a pobre cozinha da mulher, seu pai acabou comprando um kit de bateria para o
filho. “Eu devia ter uns 11 ou 12 anos, e ele era o que chamávamos de John Gray
Broadway kit, o que significava que era, basicamente, uma caixa, um tom-tom, um
prato, duas baquetas comuns e duas do tipo vassourinha. Eu não estava
interessado nas vassourinhas, eu só queria bater nas coisas, mas meu pai me fez
aprender como tocar com as vassourinhas também. Ele me dizia: ‘Você tem que
aprender como tocar tudo se quiser algum ser um baterista de verdade.’ E,
claro, ele estava completamente certo. Então, obrigado, pai, por isso. Mas eu
amei aquilo. Eu estava feliz como um porquinho na lama.”
Não demorou muito para que o jovem
baterista se visse constantemente assediado. Bateristas são coisa rara quando
se está na escola (principalmente um que tenha bateria). Nicko adorou a nova
atenção que isso lhe trazia, assim que entrou para sua primeira banda de
escola.
Nicko: “Nós costumávamos tocar todo
sábado de manhã. Era pura mágica. Eu ainda me lembro daquilo, tudo covers, você
sabe, nós não éramos bons o bastante para escrever nada ainda. Era tudo músicas
dos Stones e dos Beatles...“
Sua formação musical, além da vasta
coleção de jazz do seu pai, Nicko curtia os sons da moda, bandas que ficariam
imortalizadas por seus trabalhos nos anos 60: The Animals, The Shadows e,
claro, os Rolling Stones e os Beatles. Curiosamente, uma de suas mais
interessantes experiências artísticas aconteceu quando ele passou um tempo
sendo parte da Russel Vale School of Dancing, onde aprendeu a praticar dança de
salão todo Sábado à tarde. “Eu tinha um pouco de jeito para o velho cha-cha-cha
e o samba.” Diz ele modestamente. Mas Nicko era sim bom de dança, tanto que
isso que o levou a participar de vários concursos pela sua escola. Mas, como
ele diz, “joguei tudo pela janela, assim que comecei a me dedicar mais a ser um
baterista em tempo integral.”
Aos 14 anos Nicko estava tocando em
“Pubs e casamentos – com equipamento semi-profissional”. Da maneira que ele
crescia e ia se aperfeiçoando, Nicko mostrou que conseguia tocar qualquer
coisa, do Jazz ao Pop. Logo ele começou a trabalhar como músico de estúdio,
algo que sempre estavam precisando naqueles tempos em que a maioria dos
sucessos ainda era fabricada e músicos versáteis eram muito requisitados. Ele
costumava encher o carro de seu pai “Um minúsculo Morris Minor 1000” e cair na
noite de trabalho (a maioria das gravações naquele tempo eram feitas à noite).
“Eu tocava de tudo” diz Nicko daquela
época “Discos de música Pop, Folk, música religiosa, ou coisas mais rockeiras,
eu não me importava. Eu podia tocar de tudo mas não sabia ler música. Então eu
acabava mais tocando coisas pop e eu fazia muito trabalho de estúdio para essa
gravadora chamada Young Blood Records, e algumas vezes com esse cara da EMI.
Tinha eu e esse baixista chamado Brian Belshaw, e éramos um tipo de time, como
uma seção rítmica portátil. Foi uma grande experiência. A maioria das pessoas
que tocam em bandas costumam ser muito esnobes a respeito do trabalho de
estúdio que tenham feito, como se isso fosse a coisa mais entediante do mundo.
Mas, eu realmente gostava daquilo. Sendo um baterista, é muito difícil você se
sentar em casa e tocar por conta própria. Não é como ser um guitarrista. Então
eu gostava daquilo porque isso me fazia sair e me fazer tocar em tudo quanto é
tipo de banda. E isso deixava uma grana no meu bolso também, o que vinha muito
a calhar.”
No entanto, ainda que o dinheiro das
sessões fosse o suficiente para pagar o aluguel, Nicko sabia muito bem que ser
apenas um músico de estúdio não o faria nem rico nem famoso. E também porque,
como ele mesmo diz “Depois de um tempo você passa a querer fazer alguma coisa
que tenha um significado pessoal para você, e você não pode fazer isso nas
sessões. Você tem que estar em sua própria banda antes que você comece a poder
tirar isso de sua música, e então era isso que eu queria fazer.”
Sua primeira banda ‘de verdade’ foi a
The Eighteenth Fairfield Walk, que mais tarde trocou o nome para Peyton Bond,
uma boa banda de bar, que tocava basicamente covers de Otis Redding, Beatles e
The Who. Comentário de Nicko: “Foi bom enquanto durou. Mas não iria a lugar
nenhum enquanto ficasse só numas de fazer covers.” Assim sendo, Nicko não
precisou pensar muito quando lhe ofereceram o lugar de tocar as baquetas num
grupo mais ambicioso chamado The Wells Street Blues Band. Nicko: “Eu agarrei a
chance. Ainda faziam muitas covers, mas o material era muito mais interessante,
bem radical, puristas de blues.” Era o final dos anos 60, quando o som das
bandas de blues foi ficando gradualmente mais pesado, criando em breve um novo
estilo que seria batizado com o nome de um modelo da famosa moto Harley
Davidson: Heavy Metal.
A banda trocou o nome para The Axe, em
1969. “O The Axe era uma típica banda da época” diz Nicko “Nós todos fomos
influenciados pelos Bluesbreakers do John Mayall e por tudo aquilo que Eric
Clapton, Jeff Beck, Jimmy Page e Peter Green tinham feito com aquele som. Nós
nos víamos como um grupo nos mesmos moldes, mas nunca conseguimos decolar. Nós
pensamos que estávamos com tudo quando ganhamos um concurso local de talentos e
o prêmio era um contrato de gravação com a Apple Records, que era a gravadora
dos Beatles. Ou foi isso que disseram! Mas nada aconteceu depois disso. Era só
um monte de merda...”
O The Axe começou a tocar suas
próprias composições nas apresentações ao vivo. Mas aí houve uma grande briga
entre o cantor e o guitarrista e isso foi o fim de tudo. “Eu gostava da banda
mas era um pouco exagerada – três guitarristas solo em um quarto ensaiando era
um pouco demais para qualquer um, eu acho.” Um pouco abatido, mas não
desanimado, Nicky simplesmente foi tentar de novo. Se juntou ao cantor e
tecladista Billy Day e seu parceiro de composição, o guitarrista Michael
‘Mickey’ Lesley.
“Era por volta de 1971, algo assim e
eu me lembro disso porque foi a primeira vez que estava recebendo pagamentos”
comentou ele “Eu recebia 50 libras por semana e pensava ‘Ei! Isso é ótimo!
Estou realmente começando a alcançar o sucesso’. Mas o pagamento também incluía
seus serviços como motorista da van. “Porque não tínhamos roadies e eu era o único
que tinha uma carteira de motorista” explica Nicko “Billy tinha tido a sua
cassada por dirigir embriagado. Mas isso também queria dizer que eu tinha que
levar a van para casa à noite e, claro, eu achei isso muito bom. Aqui estou eu,
consegui meu primeiro trabalho pago numa banda de verdade e ainda por cima eu
fico com o carro da firma também!” diz ele rindo.
Foi nessa época que Nicky, de repente,
virou Nicko. Como ele mesmo explica, com detalhes: “Os rapazes tinham um
contrato editorial com a April Music, que de uma forma ou de outra acabou se
transformando num com a CBS Records. Então estávamos nos estúdios da CBS em
Whitfield Street, Londres, gravando o que seria nosso primeiro álbum. Aí
durante uma gravação um dia, o diretor da CBS resolve nos fazer uma visita de
surpresa. Dick Asher era o chefe da CBS naquele tempo, então estávamos todos
fazendo a maior barulheira e Dick Ashby chega com Maurice Oberstein. Isso foi
um pouco antes de Obie assumir a direção da CBS na Inglaterra e acho que Dick
estava mostrando para ele o lugar ou algo assim. De qualquer maneira, Dick
entra, ele já conhecia o Billy, mas pede a ele que o apresente ao resto da
banda. E Billy estava completamente chapado, como de costume – Ele adorava uma
bebida, o Billy – e ele achou que seria engraçado me apresentar por alguma
razão como Neeko (obs. pronuncia-se Niicko). Ele se levanta, vai até o Dick e
Obie e fala: ‘Eu queria te apresentar ao meu baterista italiano – esse é
Neecko’. Eu pensei ‘É foda, Billy, você está realmente exagerando.’ Eu tentei
explicar que não era assim mas Obie a partir daí começou a me chamar de Neecko
e isso só foi longe demais. Então ficou assim, isso pegou desde então. Eu
gostei bastante dele, realmente, só que eu o mudei para ‘Nicko’ (em inglês
pronuncia-se quase como Necko) para soar mais britânico.”
O nome ficou, mas isso seria a única
coisa que duraria da relação estabelecida entre o recém batizado baterista e o
cantor Billy Day, já que os problemas com alcoolismo do vocalista acabariam
atrapalhando toda a banda, que acabaria pouco depois.
Nicko: “O problema de ser um baterista
é que você tem que ficar esperando na berlinda muitas vezes. Esperando que as
pessoas da banda que deveriam chegar com as canções e a direção a seguir se
levantem e façam sua parte. Você começa a perceber muito rápido quando alguma
coisa não está acontecendo e o pobre Billy - ele era um cara legal e um grande
músico, e eu aprendi um monte de coisas tocando com ele - mas a banda não
estava indo para lugar nenhum, então depois de algum tempo eu pensei: ‘Certo,
chega, já agüentei o suficiente, eu estou fora...’”
Nicko tentou durante algum tempo sua
sorte com uma ou duas bandas que fundou, mas a grande oportunidade apareceria
novamente em 1975, quando ele se juntou aos Streetwalkers, banda formada pelo
vocalista Roger Chapman e o guitarrista Charlie Whitney, ambos os quais tinham
ficado famosos como líderes de um grupo muito conhecido na Inglaterra, o
Family. Dois de seus discos, Music In A Doll’s House ( de 1968 ) e Bandstand (
1972 ) são considerados pela crítica clássicos da época.
Nicko explica como conseguiu chegar
até eles: “É uma estória um pouco complicada. Mas, basicamente, eu estava numa
banda chamada The Blossom Toes, que parecia que ia conseguir assinar um
contrato com uma grande gravadora mas então – surpresa! – tudo fodeu no último
minuto. O guitarrista no Blossom Toes era um cara chamado Jim Cregan, e quando
as coisas apertaram ele caiu fora e se juntou ao Family. Isso foi em 1973.
Então o Family acabou em 1974 e Jim saiu para se juntar ao Cockney Rebel. Mas
antes de faze-lo, ele deve ter feito alguma recomendação ou coisa parecida,
porque logo depois eu recebo um telefonema perguntando se eu estaria
interessado em fazer um teste para a nova banda de Roger e Charlie, do Family.
Eu respondi na hora: ‘Yeah!’ Quero dizer, eu era um grande fã do Family, eu
achava Music In A Doll’s House um disco fantástico, então eu estava
definitivamente a fim. Eles já tinham gravado seu primeiro disco, que se
chamava Streetwalkers, mas seu baterista, Ian Wallace, tinha saído e havia essa
tour esquematizada e era isso aí - eu estava nas nuvens!”
Por uma dessas ironias do destino,
numa das primeiras tours que Nicko faria com os Streetwalkers, ele se viu
tocando num clube de Nova York junto com seus colegas ingleses do Cockney
Rebel. Uma banda então empresariada por um desconhecido ex estudante de
Cambridge chamado Rod Smallwood.
Nicko: “Foi a primeira vez que
encontrei Rod na minha vida. Nós estávamos tocando nesse clube de Nova York,
chamado Bottom Line, nós e o Cockney Rebel, e eu me lembro de ter visto aquela
figura do norte da Inglaterra parecendo meio esnobe. Mas assim que você começa
a conversar com ele você descobre que ele é um cara legal, que gosta de um copo
e uma diversão. Houve uma grande festa depois do show, claro, e eu me lembro
que todo mundo estava gritando com todo mundo e bêbados. Eu acho que nenhum de
nós tinha estado nos Estados Unidos antes e nós parecíamos como garotos
ingleses em férias – férias de rock’n roll. Nós nos encontramos numa mesa. Foi
essa espécie de festa.
Rod Smallwood: “A primeira vez que
encontrei Nick foi em Nova York. E a primeira coisa em que pensei foi: ‘Um cara
legal, completamente doido!’ E não acho que minha opinião a seu respeito tenha
mudado desde então. Baterista brilhante, pessoa legal, completamente doido. Até
ele vai te confirmar isso...”
Nicko se encontraria de novo com Rod
Smallwood, claro, mas isso seria bem depois e em outras circunstâncias, e já
sem os Streetwalkers, que acabariam logo depois de Roger Chapman resolver
seguir carreira solo. Mas agora que tinha a técnica, a experiência e o
currículo, não foi muito difícil para nosso herói encontrar trabalho e logo
estava segurando as baquetas na Pat Travers Band (chegou a gravar com ele o LP
Making Magic) e, mais tarde, na banda francesa Trust. O Trust foi uma das
poucas bandas de metal francesas a chamar alguma atenção durante os anos 80, e tinham
uma ideologia esquerdista algo acentuada. Nicko mesmo conta que “havia muito de
política nas suas canções mas era tudo em francês, então não me pergunte o que
elas diziam!”
Nicko conta que encontrou os membros
do Trust quando foram gravar em Londres e tiveram problemas com seu baterista
original. Para terminar o disco tiveram que contratar outro cara para as
baquetas. Nicko foi recomendado e tocou tão bem que valeu um convite para se
ligar à banda, o que significava que teria de se mudar para a França. “Deve ter
saído caro para eles, já que aí eu passei a morar num hotel!” Outro problema
era a linguagem: metade da banda não falava inglês e McBrain não sabia e nem
estava muito interessado em aprender francês. Mesmo assim ficou na banda
durante dois anos. E seria nesse tempo que encontraria com o pessoal do Maiden
e estabeleceria amizade com eles. Como sabemos, a banda de Nicko chegou a abrir
para o Iron em 1981.
Curiosamente, Nicko ficou sabendo das
dificuldades do Maiden com Clive Burr muito antes de receber um convite para
uma audição. Ele explica: “Eu conhecia o Clive porque nós todos fizemos uma
tour juntos quando eu estava no Trust. E ele chegou até a me ligar dos Estados
Unidos uma noite, me falando que tinha ouvido falar que eles tinham conversado
comigo sobre substituí-lo e eu fui honesto com ele e disse: ‘Olha, Clive, eles
não vão me chamar para um teste se você se arrumar.’ Eu me lembro, eu ainda
estava casado com minha primeira mulher naquela época e ela me deu o maior
sermão depois. Ela falou: ‘Pra quê você disse isso para ele? Ele vai dar um
jeito de se cuidar, vai ficar com o trabalho e você vai ficar sem nada!’ Mas
não era assim que eu via a coisa. Eu não queria tirar o emprego de outro cara.
Ele tinha me telefonado e pedido a minha opinião e eu dei a melhor que eu pude.
O resto era por conta dele...”
Claro que, quando a situação ficou
insustentável entre o Iron maiden e Clive, e o convite foi confirmado, Nicko
não perdeu a chance, como admite: “Eu fiquei super feliz! Eu acho que seria
justo dizer que eu enchi a cara para comemorar aquelas pequenas boas novas!
Quer dizer, eu estava sem trabalhar, então foi a salvação da lavoura. Mas foi
mais do que isso, eu realmente gostava da música. Era bem do meu tipo. Eu
sempre pude tocar forte, mas o Iron Maiden foi um momento decisivo para
progredir no meu estilo. Foi uma grande experiência por causa do pedigree dos
músicos – você não podia ficar melhor. No estilo que tocam, o músicos do Iron
são os melhores que existem, simples assim. E quando Steve chega com uma
canção, ele sempre vem com uma batida que eu nem tinha percebido, ou então ele
sugere alguma coisa que eu não tinha pensado, e ele nem sequer é um baterista!
Mas é esta a coisa bonita da música, há tantas maneiras de interpretá-la. Mas
porque foi ele quem compôs as canções, ele sabe mais do que ninguém de que
forma elas deveriam soar e o sentimento que deveriam ter. Então eu sempre
presto atenção, e aí eu tento dar a isso alguma coisa minha que talvez ele
ainda não tenha pensado. Isso funciona muito bem.”
Adrian Smith: “Eu conheço outros
bateristas que fizeram testes para o Maiden e que simplesmente não conseguiam
dar certo. Você tem que ser meio que um atleta, e Nicko é um baterista
fantasticamente atlético. Ele sempre teve a técnica e a habilidade, mas foi no
Maiden que ele realmente estourou – ao ponto em que muito do material que
fizemos depois que ele entrou foi criado a partir do seu estilo de tocar, todos
aqueles quebradas que ele faz, que exigem tremenda técnica. Isso soa meio
cretino hoje em dia, mas quando ele se juntou a nós eu achava que ele seria um
pouco funky demais para nosso som. Porque Nick pode tocar de tudo. E ele é
firme. Ele fica bem na frente de tudo, e Steve adora tocar com ele. Steve e
Nicko costumavam passar horas trabalhando essas passagens de baixo e bateria.
Quero dizer, regras normais não se aplicam nem a Nicko McBrain nem ao Iron
Maiden – por isso é que eles se destacam tanto.”
A primeira apresentação de Nicko seria
numa apresentação para uma TV na Alemanha. Ironicamente, a notícia de que Clive
estava saindo do Iron Maiden ainda não tinha saído na imprensa, então Nicko
tocou usando uma máscara de Eddie. (o que se tornou motivo de piada nos anos
seguintes).
Com seu novo estilo de tocar, Nicko
entrou para a ‘família’ do Iron Maiden e participaria de uma série antológica
de discos e shows no que ficou conhecido como a formação ‘clássica’ da banda.
Sua contribuição não foi pequena e o Iron nunca mais teve que se preocupar se o
baterista estaria em forma ou não para qualquer show ou gravação.