Biografia Dave Murray

Biografia – Dave Murray
Para boa parte do público do Iron Maiden, Dave Murray é "um dos guitarristas" ou "aquele que está há mais tempo na banda". Comparado com o estilo furioso dos outros membros do grupo, ele é o mais quieto no palco, o mais reservado, tímido e "apagado" do time (se é que alguém possa ser apagado em se tratando do Maiden).
No entanto, para aqueles que conhecem a história do grupo e sacam um pouco que seja de música, sabem que a contribuição de Dave para a música da Donzela não é pequena. Embora escreva poucas canções, o estilo limpo, veloz e preciso do guitarrista é tão parte do som característico do Iron quanto o baixo pulsante de Steve Harris. Ele é , em termos de personalidade, o contraponto ideal para a força dominante do baixista. Calmo, conciliador e firme em suas decisões, Dave foi muitas vezes o fator de união que inevitavelmente faltaria à banda caso não estivesse presente em muitas das crises que passaram.
Hoje em dia o guitarrista ainda mantêm a boa aparência que o fez durante muito tempo ser o alvo da afeição dos fãs do sexo feminino durante os primeiros dias do Maiden. Suas maneiras calmas, sua modéstia e gentileza com as pessoas continuam intactos depois de anos e anos na estrada e a imensidão de discos de ouro e platina que ajudou a amealhar com sua banda durante esse tempo. Hoje, aos quarenta e poucos anos, vive na exótica ilha de Maui com sua esposa, a californiana Tamar, e sua filha, Tasha. E continua tocando sua guitarra com a mesma garra com que se atirou a esse mundo de música quando adolescente.
Mais do que isso, Murray pode não ser um músico que escreve tantas canções quanto Adrian Smith, ou tão capaz de pular e fazer solos ao mesmo tempo como Janick Gers. Mas sua musicalidade e talento são inquestionáveis. Quando perguntado sobre a disputa inicial entre os guitarristas originais Dave Sullivan e Terry Rance e a entrada de Murray na banda, Steve Harris foi categórico, mesmo tendo passado mais de vinte anos desde aquele incidente: "Quando os outros deixaram claro que era ou eles ou ele, não tive outra escolha. De jeito nenhum eu deixaria Dave sair. Ele não era apenas um cara legal, mas o melhor guitarrista que eu já tinha trabalhado. E ainda é."
David Michael Murray nasceu em Londres, no Royal Middlesex Hospital, em Edmonton, no dia 23 de dezembro de 1956. Ele tem duas irmãs, Pauline (seis anos mais velha) e Janet (três anos mais nova). O sobrenome Murray tem origem na mistura de sangue irlandês e escocês da família do pai de Dave. Exatamente como Harris, futebol foi sua grande paixão durante a infância e princípio da adolescência. Ele era um bom meio de campo, com algumas características de atacante: "Eu cresci na área de Tottenham de Londres, por isso eu sempre fui um torcedor do Tottenham Hotspur - apesar de ter que admitir que eu nunca fui a um jogo. Eu os assistia na TV, você sabe. Era meio lógico ser assim, já que meu pai e minha mãe também eram torcedores do Tottenham. Mas isso tudo meio que acabou para mim, essa coisa de loucura de futebol, logo que tinha uns 15 anos e comecei a seguir bandas, comprar discos e coisas do gênero."
A mãe de Dave costumava trabalhar como faxineira de meio período enquanto que seu pai era aposentado precocemente devido a motivo de doença. "Era do tipo (de doença) que vai te minando as forças aos poucos, até chegar ao ponto de que ele não conseguia fazer nenhum esforço físico." O dinheiro entrava irregularmente e, como resultado, a família vivia se mudando pela região. Como se lembra Dave: "Eu já devia ter estado em dez escolas diferentes quando cheguei aos 14 anos. Nós moramos em todas as partes de East London. Vivíamos nos mudando - basicamente porque éramos tão pobres. Nós arranjávamos um lugar por algum tempo e então tínhamos de nos mudar para alguma outra casa apenas alguns meses depois."
Frustração e pobreza levavam os pais de Dave a brigas. Quando isso ocorria a mãe de Dave levava as crianças para o depósito do Exército da Salvação mais próximo, onde costumavam passar semanas protegidos dos ocasionais ataques de fúria do pai. "Mas nós sempre voltávamos para casa cedo ou tarde". Estes foram os anos que formariam a personalidade do futuro guitarrista do Maiden. Ocasiões que o levaram a se voltar para si mesmo e a manter a boca fechada e a "seguir em frente" em tempos difíceis. "Eu acabei criando esta 'carapaça' em torno de mim" Comentou ele anos depois "Você tinha que manter a cabeça baixa se queria sobreviver." Este aprendizado seria bastante útil nos muitos momentos de crise e mudanças de membros no seu futuro grupo. Mas não parecia e não era uma época boa para ninguém e Dave não tem lembranças felizes desse período.
"É, foi um aprendizado muito duro. (quando criança) Ganhar alguma coisa nova era muito raro. Era muito difícil, e eu acho que de certa forma isso me afeta até hoje. Mas, naquela época, olhando para as outras famílias que nós conhecíamos, a coisa não era muito diferente. Nós todos éramos pobres. A primeira coisa que fiz quando arranjei algum dinheiro com o Maiden foi comprar uma casa para meus pais. Eu sempre quis fazer isso, por causa de toda pobreza a que eles estavam acostumados. Eu só queria dar a eles algo sólido, para que não tivessem ter que se mudar novamente. Isso era o que eu sempre sonhava em fazer se conseguisse sucesso com minha música. E, se essa parte do sonho se realizasse, então estaria satisfeito. Quer dizer, se eu perdesse tudo amanhã, pelo menos eu tinha feito minha parte, e isto me fez me sentir muito bem. Meu pai já faleceu há algum tempo, mas minha mãe ainda vive naquela casa."
Mas ficar se mudando toda hora quando criança, sendo constantemente o novo garoto da vizinhança, logo queria dizer que os outros viviam em cima de Dave. Ele teve que endurecer rápido para agüentar. Seu pai, que por um tempo foi parte do círculo de amizades dos notórios bandidos do East End liderados pelos gêmeos Ronnie e Reggie Kray nos anos 60, o encorajou a se defender por conta própria.

"Você sabe, eu era sempre o novo aluno na classe. E você tem que lutar pelo seu espaço, para ser aceito algumas vezes. E, assim que eu tinha feito algumas amizades, eu tinha que me mudar e então começava tudo de novo. Então eu acabava num monte de brigas, sim. De fato, meu pai me ensinou boxe desde que eu era muito novo. Ele me comprou um par de luvas de boxe, sabe, daquelas pequenas. Eu ainda as tenho em algum lugar. E ele ficava constantemente me ensinando a me cuidar."
O jovem Dave logo se interessou por música, chegando mesmo a fazer uma guitarra de cartolina para fazer mímica com os discos dos Beatles das irmãs. Também arriscava brincar com o piano de um bar que ficava na parte de baixo de um conjunto que moraram durante algum tempo. Mas, como ele mesmo se lembra, naquela época música era "coisa das minhas irmãs". Esporte era algo que o atraía bem mais, pelo menos até seus quinze anos. Ele era bom em Cricket, futebol e boxe, entrando em times das escolas que freqüentava com bastante sucesso.
Em 1970 sua família finalmente arranjou uma moradia mais firme em Clapton. E, assim como seu futuro companheiro Steve Harris e muitos outros adolescentes do East End, durante um tempo Dave se tornou um Skinhead. Ao contrário de Steve, no entanto, ele adotou o corte de cabelo típico da época. E estava, regularmente, "me metendo em confusão - brigas de rua e coisas assim." Não é uma parte de sua juventude que ele se orgulha, claro, apenas "algo que todos os garotos da vizinhança estavam envolvidos. Toda hora tinha gangues sendo formadas, mas você não podia ficar de fora ou eles te faziam a vida ficar miserável, nunca te deixavam em paz, sabe?"
Durante quase dois anos Dave viveu a movimentada vida de turbulência urbana, antes que fosse para o extremo oposto. "Eu então decidi que preferia uma atitude mais pacífica em relação à vida. O que aconteceu foi que uma vez eu estava indo para um jogo do Arsenal e teve uma briga de gangues bem séria e eu pensei 'Pra mim chega!', foi horrível. Hoje eu olho para aquela fase como parte de meu crescimento e um tipo de crise de identidade, quando eu tentava descobrir quem eu era, este tipo de coisa. Então eu deixei meu cabelo crescer, troquei a indumentária e decidi me transformar num hippie - bicho!"
Nesta época, também num paralelo à do colega por vir, Steve Harris, Dave estava ouvindo muito Reggae com sua turma de Skinheads. "Eu costumava comprar todos estes álbuns de antologias de reggae, que tinham estes artistas que me interessavam naquele tempo - Dave e Anselmo Collins, Jimmy Cliff, Prince Buster, etc. Era só aquele tipo de música que tocavam nos clubes e festas que costumávamos ir. Tinha um grande ritmo e você podia dançar legal com aquilo. Eu era como qualquer outro adolescente, tentando novos objetivos até encontrar um com que me identificasse."
O momento que mudou completamente a vida de Dave e que o levou a ter uma carreira que parecia impossível na sua época de coturnos e cabeça raspada ocorreu aos 15 anos, quando ele ouviu pela primeira vez a música 'Voodoo Chile (part 2)' do Jimi Hendrix no rádio. Então "tudo mudou, deste jeito. Entrar no mundo do rock não foi uma processo gradual para mim, foi uma coisa extremada. Tudo preto no branco. Eu ouvi 'Voodoo Chile' no rádio pela primeira vez e pensei: 'PQP! O que é isso? Como é que você faz isso?' Então eu dei uma de detetive, indo atrás e tentando descobrir quem era e o que estava acontecendo. E foi assim que comecei realmente a ir a lojas de discos e começar a comprar álbuns. Eu peguei alguns discos do Jimi Hendrix para começar, depois alguns de blues e então comecei a pensar em tocar. Eu ficava imaginando como seria isso."
O amor de Dave pelo rock abrangeu tudo que se referia à chamada "cultura" do assunto: Dave deixou seu cabelo crescer muito (o que trouxe muitas chacotas de seus antigos colegas Skinheads), adotou roupas hippies e passou a ler a bíblia do rock da época, o jornal Melody Maker. Começou também a freqüentar shows e a sair com um novo bando de amigos ( "todos que estavam numas de tocar alguma coisa" ), sendo que o mais chegado deles era um cara chamado Adrian Smith. "Nós vivíamos a alguns quarteirões um do outro." Relembra Murray "e estávamos ambos interessados em tocar guitarra, então começamos a sair juntos e tocar."
Adrian Smith: "Encontrar o Dave e conhecê-lo foi ótimo para mim, porque ele estava mais adiantado do que eu em termos de guitarra. Eu ainda estava arranhando uma velha guitarra que Dave tinha me vendido por umas cinco libras mais ou menos. Enquanto isso ele já tinha uma cópia de uma Gibson ou coisa parecida. Eu acho que estava um pouco com inveja dele, talvez. Mas nós costumávamos freqüentar as nossas casas e a tocar, e isso era grande, acho que nós aprendemos um bocado."
Na época que deixou a escola aos 15 anos, Dave já tinha descartado a idéia de encontrar "um trabalho sério". Ao invés disso queria uma carreira como guitarrista, sonhando com o sucesso. Adrian diz que já naquele tempo ele era "uma espécie de rock star do pedaço: ele tocava já há uns oito meses e tinha aperfeiçoado alguns acordes e todo mundo estava muito impressionado. Ele tinha aquele cabelo comprido, vestia roupas da moda e uma guitarra elétrica verdadeira. E, você sabe, nós nunca tínhamos visto uma ao vivo e em cores, só na televisão."
Dave não concorda muito com essa visão: "A idéia básica para mim não era tanto ser uma estrela mas apenas ter um trabalho que me permitisse tocar guitarra. Eu não tinha muito problema em qual tipo de música eu iria tocar, pelo menos no início. Eu apenas amava música e tinha começado a me introduzir nesse estilo de vida. Mas foi a guitarra que realmente me levou a isso. Estava dentro de mim desde que eu tinha 6 ou 7 anos de idade e fiz minha primeira guitarra de papelão (fingindo que tocava ao som dos discos dos Beatles de suas irmãs. 'Eu era o John Lennon'). Acho que esse tesão estava ali o tempo todo, mas ficou nisso até que eu voltasse a me interessar 8 ou 9 anos depois. Mas desta vez eu levei a coisa toda muito a sério. De repente eu precisava saber tudo sobre música. Primeiro com discos e depois tocando guitarra."
Seu primeiro grupo foi um trio chamado Stone Free (nome tirado de uma música de Jimi Hendrix, claro) , que ele e Adrian formaram com um outro colega de escola. "Nós tínhamos uns 16 anos e éramos eu e Adrian nas guitarras e um colega nosso chamado Dave McCloughlin nos bongôs. Nós só fizemos uma única apresentação que foi no hall da igreja local num Sábado a tarde. Havia umas 6 pessoas ali para nos ver e eu acho que tocamos umas 4 ou 5 músicas - covers de T-Rex e Hendrix. Depois que acabamos uma senhora que cuidava do local nos deu uma barra de chocolate e uma lata de Coca-Cola para cada um como pagamento.
Dave e Adrian continuaram tocando juntos em vários conjuntos mais ou menos improvisados até o final da adolescência, escrevendo algumas canções de vez em quando e conversando muito sobre o que fariam se conseguissem sucesso. Mas havia uma diferença: Adrian era mais voltado à composição e queria ter sua própria banda, sempre. Dave, ao contrário, vivia fazendo testes para outras bandas, ansioso para alcançar seu objetivo de viver de música.
"Eu queria saber como era chegar lá e tocar num lugar cheio de pessoas desconhecidas. Eu acho que seria um bom treino para quando fosse encarar um palco mais tarde. Meu pensamento na época era que eu queria tocar com muitas pessoas diferentes, dos mais variados estilos, assim eu podia conseguir mais experiência. Então eu costumava comprar o Melody Maker toda semana e olhar a parte de classificados - isto se tornou uma coisa regular. Eu estava sempre indo para testes nos sábados ou domingos de manhã."
Como resultado destes, Dave recebeu convite para entrar numa banda chamada Electric Gas ( "num estilo meio soft rock americano" ). "Foi em 1973, não era bem o tipo de música que eu tocava, mas era uma coisa diferente, então eu gostei. Eu tocava com qualquer um naquela época, só pela experiência. Eu fiquei com eles um pouco menos do que um ano no final das contas, mas nós nunca passamos da fase de ensaios e tocar muito de vez em quando num pub ou clube de jovens. Ninguém aparecia mesmo."
Logo depois pintou outro "um tipo de banda meio doida de punk", chamado The Secret. "Eles já eram um pouco mais profissionais" Dave relembra "eles tinham um empresário, um contrato com gravadora, e pareciam conseguir fazer bastante shows, então eu fiquei com eles." Mas apesar de ser considerada 'punk', Dave não teve que cortar seu cabelo: "Na realidade eles eram uma mistura de estilos - aqueles eram os primórdios do punk, que também tinham um pouco glam, eu acho. Mas foi grande porque eu acabei gravando um compacto com eles. A música era 'Café De Dance' e saiu através de um selo independente tão obscuro que eu nem me lembro o nome agora, mas sei que foi lançado em 1975. Então eu vou sempre me lembrar do The Secret. Foi a primeira vez que eu tive a oportunidade de entrar num estúdio de gravação de verdade e eu realmente adorei isso."
De qualquer modo Dave deixou o The Secret pouco depois do compacto ter sido lançado. Isso ocorreu depois dele encontrar duas figuras interessantes que buscavam um guitarrista: uns certo Dennis Wilcock (com quem já tinha tocado em outra banda, o Warlock) e um novato chamado Steve Harris.
Harris: "A primeira vez que encontrei Dave Murray foi quando ele veio a um teste. Ele já tinha estado numa banda com o Dennis Wilcock, chamada Warlock - não a banda alemã que aparecia nos anos 80, mas só outro bando local do East End. Dennis estava muito impressionado com a técnica do Dave e o chamou para um teste para o Maiden. E ele foi fantástico, quer dizer, ele realmente arrebentou!"
Naquele tempo a banda estava usando o trailer de um namorado da irmã de Steve, Linda, que o tinha emprestado para que pudessem fazer testes dos novos membros. "Eles tinham este trailer no campo e Nick Lideye (namorado de Linda) disse: 'Vocês podem usa-lo para testes se quiserem'. Então o Dave veio para uma demonstração e o arrastamos por aquele campo barrento até o trailer. Mas depois que ele tocou nós falamos na hora: você está contratado. Eu me lembro que nós o pusemos para tocar 'Prowler' e ele nos deixou de queixo caído. Totalmente! E nós dissemos: 'É isso aí, você está na banda!'
Dave Murray também correspondeu: "Tão logo eu comecei a tocar com o Steve eu vi que era isso que eu queria, realmente. Eu tinha encontrado a banda que tocava o tipo de música que realmente eu amava, então não havia mais volta."
Naquela época a banda ficou com apenas um guitarrista durante um bom tempo, logo após a saída dos dois membros originais, Sullivan e Rance. Steve Harris: "Dave chegou e era tão bom que ele podia dar conta do recado sozinho. Ele era um desses caras que podia tocar com os dentes, sabe? E isso se tornou parte de sua performance - tocando a guitarra com os dentes, jogando ela nas costas, tocando ela de cabeça para baixo, ele podia fazer tudo! - Nós pensamos em conseguir outro guitarrista eventualmente, para as harmonias e coisas assim, mas nós éramos capazes de segurar a onda como um trio com um vocalista por algum tempo, e nesse ínterim boa parte das harmonias eu fazia no baixo."
Mas haveria um problema no caminho. Embora impressionado com o estilo de Dave tocar, alguns meses depois houve uma briga entre Dennis e Murray, instigada pelo então segundo guitarrista Bob Sawyer. Dave conta com detalhes:
"Eu estava na banda há apenas alguns meses. Bob pegou algumas declarações minhas fora de contexto, foi até o Dennis e disse 'Olha, o Dave disse tal e tal coisa sobre você'. Quer dizer, ele disse tudo errado! E não havia nenhuma animosidade entre mim e o Dennis, mas o Bob foi lá e fez a fofoca e deixou o Dennis puto. Então Dennis veio até mim para umas palavrinhas comigo, eu nem me lembro mais o que era - algo patético, alguma coisa que você diz quando tomou umas e outras e fica meio bobo, você sabe. Mas o Bob fez daquilo uma tempestade em copo d'água. Então eu me lembro de receber um recado de ir até a casa de Steve para uma reunião."
Dave foi ao encontro no seu velho carro, um Mini. Tão velho e alquebrado que pegou fogo no caminho e só não foi destruído porque Dave mantinha um pequeno extintor de incêndio à mão, porque "mais cedo ou mais tarde eu sabia que isso ia acontecer. Meu carro não tinha nem limpador de para brisas! Então eu estava usando o extintor na traseira - fogo de verdade - e ficando coberto de fumaça e óleo. E aí eu chego até a casa do Steve assim, coberto de merda, e a primeira coisa que ele diz é: 'Bem, eu sinto muito mas você está despedido.' E eu só pude dizer um 'Oh'. Mas eu sabia que não era do Steve que a decisão estava vindo e sim do Dennis.
"Então eu voltei para o Mini queimado e me mandei. Foi um momento horrível, sério. Quer dizer, eu fiquei muito puto de ser chutado da banda, ainda mais depois de quase me queimar todo no carro e fiquei pensando 'O que mais pode dar errado?' Eu acho que eu fui para casa e enchi a cara. Ser chutado de qualquer lugar já é muito ruim, mas porque eu acreditava muito na banda e a amava tanto, ser chutado do Maiden foi muito sofrido. Eu não sabia o que ia fazer."
O que Dave fez foi se juntar a outra banda que começava a despontar no mesmo circuito do East End que fazia a fama do Iron - o Urchin. Liderada pelo seu antigo amigo Adrian Smith, o Urchin, segundo as palavras do próprio Dave, "Não era tão pesada quanto o Maiden, mas eles definitivamente eram roqueiros e eram algo assim como a melhor coisa depois do Maiden naquele tempo." Relembra ele "Adrian estava cantando e tocando mais guitarra base e eles estavam procurando um outro guitarrista. Então o que aconteceu foi que eu cheguei bem no momento oportuno. Isso foi menos de uma semana depois de ter sido despedido do Maiden e fomos então direto ao mesmo esquema de pubs que eu estava fazendo no Iron. E foi nessa época que fizemos aquele compacto."
O Urchin tinha assinado como pequeno selo DJM, que previa dois compactos mais uma opção de um LP. Seu primeiro single 'Black Leather Fantasy' já tinha sido gravado, mas ainda não tinha sido lançado. Valentemente a banda voltou aos estúdios com Dave para fazer o segundo, que tinha o título de 'She's a Roller', que só chegaria nas lojas em 1980. "Não é o melhor disco que você já ouviu na sua vida, coloque desta forma" Diz hoje Adrian Smith "Mas eu ainda estou orgulhoso dele. Você pode ouvir o Dave e eu tocando muito bem nele."
"Naquela época o Urchin estava numa posição muito parecida com o Maiden" Diz Dave "Eles tinham algumas canções originais, mas também faziam covers - material como Thin Lizzy e Free - mas o Urchin é que foi o primeiro a gravar um disco, o que na época era considerado um passo muito grande. Pessoalmente eu tentava não fazer comparações entre as duas bandas. Eu ficava numas de '(estar no) Maiden era grande, mas isso está acabado, então eu tenho que seguir em frente'. Quero dizer, o Adrian não era só um grande guitarrista, ele escreve ótimas músicas também. Então era muito excitante com toda a estória de gravar disco e coisas assim. Eu sentia que, bem, pelo menos eu estou indo em frente, não é?"
Enquanto isso as coisas no Maiden estavam indo de mal a pior, com mudanças constantes, entrada de pessoas que não conseguiam fazer o som que Steve Harris queria e coisas do tipo, culminando com a inesperada saída de Dennis Wilcock às vésperas de uma importante apresentação. A situação estava tão ruim que Harris resolveu recomeçar tudo do zero. Uma vez tomada esta decisão a primeira coisa em que pensou foi em buscar as pessoas certas. E Dave era uma delas.
"Uns seis meses depois de ter sido despedido da banda eu estava com o Adrian tocando no Urchin num show de Sábado à noite em um pub de North London, chamado Brechnoch, quando eu vejo ninguém menos do que o Steve." Conta Dave "E eu estava realmente contente de vê-lo, quer dizer, nós nunca tivemos qualquer problema, era só o Dennis Wilcock que tinha restrições a meu respeito. Nós então conversamos depois da apresentação e Steve me disse que todo mundo tinha saído e que queria recomeçar a banda de novo comigo e com um par de novos caras. E aí ele me perguntou se eu queria voltar para o grupo e eu disse sim na hora!"
"E a coisa toda era, você sabe - eu e Adrian - havia uma grande amizade entre a gente que existia desde que tínhamos uns 15 anos, e tinha um compromisso de lealdade também por causa da banda, mas eu disse sim na hora. Quer dizer, eu não tive nem que pensar a respeito, eu apenas falei 'Claro, vamos!' Foi a minha reação do momento. Ao mesmo tempo eu sabia que estava sacaneando com o Adrian, mas essa era a firmeza que eu sentia em relação ao Steve e ao Maiden. Eu sentia que de todas as bandas que eu já tinha tocado era esta a que eu realmente queria ficar. Por causa das canções, da atitude do Steve, do direcionamento e a clareza da coisa toda, mesmo naquela época. Então, apesar de minha lealdade ao Adrian, eu concluí que a coisa mais importante era estar na banda que eu realmente acreditava."
Contar a novidade para Adrian foi, ele admite com um sorriso torto, "realmente bastante esquisito". Ele resolveu contar para outro membro da banda primeiro, "Porque eu não tinha coragem de falar com direto com o Adrian. Porque eu não queria prejudicar nossa amizade, eu sutilmente deixei escapar uma pista para o baixista, Alan Levitt, , de que eu iria sair e ele ficou realmente infeliz com isso. Então ele contou pro Adrian e foi assim que aconteceu"
A banda propriamente dita não sentiria tanto no final das contas, já que havia outro guitarrista, Andy Barnett - que ocasionalmente tocava com eles - de olho no posto. Então "a coisa não ficou tão ruim para o Urchin assim, não era nada que eles não pudessem seguir em frente nem nada. Nós permanecemos amigos e não tivemos qualquer tipo de briga ou coisa parecida."
Adrian na sua versão: "Eu acho que seu coração sempre esteve com o Maiden, mesmo depois deles o terem despedido, mas nós não ficamos nada felizes quando ele saiu, pra começo de conversa. (quando ele deixou o Urchin) Nós todos fomos até sua casa - a banda inteira e os roadies - e ficamos por perto tentando faze-lo ficar se sentindo culpado mas isso não funcionou. Pelo menos não o suficiente para que ele mudasse de idéia. Eu acho que ele se sentiu péssimo nos deixando, mas o Dave é assim, sabe? Ele não estava fazendo aquilo por razões mercenárias. Ele genuinamente preferia o tipo de som que o Iron estava fazendo. Então eu tinha que dizer pra ele 'tudo bem', você sabe. Você está seguindo seu coração."

O novo Iron começaria dali, e Steve jamais deixaria Dave sair do barco. Tinha aprendido com o erro.

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