Biografia
– Dave Murray
Para boa
parte do público do Iron Maiden, Dave Murray é "um dos guitarristas"
ou "aquele que está há mais tempo na banda". Comparado com o estilo
furioso dos outros membros do grupo, ele é o mais quieto no palco, o mais
reservado, tímido e "apagado" do time (se é que alguém possa ser
apagado em se tratando do Maiden).
No
entanto, para aqueles que conhecem a história do grupo e sacam um pouco que
seja de música, sabem que a contribuição de Dave para a música da Donzela não é
pequena. Embora escreva poucas canções, o estilo limpo, veloz e preciso do
guitarrista é tão parte do som característico do Iron quanto o baixo pulsante
de Steve Harris. Ele é , em termos de personalidade, o contraponto ideal para a
força dominante do baixista. Calmo, conciliador e firme em suas decisões, Dave
foi muitas vezes o fator de união que inevitavelmente faltaria à banda caso não
estivesse presente em muitas das crises que passaram.
Hoje em
dia o guitarrista ainda mantêm a boa aparência que o fez durante muito tempo
ser o alvo da afeição dos fãs do sexo feminino durante os primeiros dias do
Maiden. Suas maneiras calmas, sua modéstia e gentileza com as pessoas continuam
intactos depois de anos e anos na estrada e a imensidão de discos de ouro e
platina que ajudou a amealhar com sua banda durante esse tempo. Hoje, aos
quarenta e poucos anos, vive na exótica ilha de Maui com sua esposa, a
californiana Tamar, e sua filha, Tasha. E continua tocando sua guitarra com a
mesma garra com que se atirou a esse mundo de música quando adolescente.
Mais do
que isso, Murray pode não ser um músico que escreve tantas canções quanto
Adrian Smith, ou tão capaz de pular e fazer solos ao mesmo tempo como Janick
Gers. Mas sua musicalidade e talento são inquestionáveis. Quando perguntado
sobre a disputa inicial entre os guitarristas originais Dave Sullivan e Terry
Rance e a entrada de Murray na banda, Steve Harris foi categórico, mesmo tendo
passado mais de vinte anos desde aquele incidente: "Quando os outros
deixaram claro que era ou eles ou ele, não tive outra escolha. De jeito nenhum
eu deixaria Dave sair. Ele não era apenas um cara legal, mas o melhor
guitarrista que eu já tinha trabalhado. E ainda é."
David
Michael Murray nasceu em Londres, no Royal Middlesex Hospital, em Edmonton, no
dia 23 de dezembro de 1956. Ele tem duas irmãs, Pauline (seis anos mais velha)
e Janet (três anos mais nova). O sobrenome Murray tem origem na mistura de
sangue irlandês e escocês da família do pai de Dave. Exatamente como Harris,
futebol foi sua grande paixão durante a infância e princípio da adolescência.
Ele era um bom meio de campo, com algumas características de atacante: "Eu
cresci na área de Tottenham de Londres, por isso eu sempre fui um torcedor do
Tottenham Hotspur - apesar de ter que admitir que eu nunca fui a um jogo. Eu os
assistia na TV, você sabe. Era meio lógico ser assim, já que meu pai e minha
mãe também eram torcedores do Tottenham. Mas isso tudo meio que acabou para
mim, essa coisa de loucura de futebol, logo que tinha uns 15 anos e comecei a
seguir bandas, comprar discos e coisas do gênero."
A mãe de
Dave costumava trabalhar como faxineira de meio período enquanto que seu pai
era aposentado precocemente devido a motivo de doença. "Era do tipo (de
doença) que vai te minando as forças aos poucos, até chegar ao ponto de que ele
não conseguia fazer nenhum esforço físico." O dinheiro entrava
irregularmente e, como resultado, a família vivia se mudando pela região. Como
se lembra Dave: "Eu já devia ter estado em dez escolas diferentes quando
cheguei aos 14 anos. Nós moramos em todas as partes de East London. Vivíamos
nos mudando - basicamente porque éramos tão pobres. Nós arranjávamos um lugar
por algum tempo e então tínhamos de nos mudar para alguma outra casa apenas
alguns meses depois."
Frustração
e pobreza levavam os pais de Dave a brigas. Quando isso ocorria a mãe de Dave
levava as crianças para o depósito do Exército da Salvação mais próximo, onde
costumavam passar semanas protegidos dos ocasionais ataques de fúria do pai.
"Mas nós sempre voltávamos para casa cedo ou tarde". Estes foram os
anos que formariam a personalidade do futuro guitarrista do Maiden. Ocasiões
que o levaram a se voltar para si mesmo e a manter a boca fechada e a
"seguir em frente" em tempos difíceis. "Eu acabei criando esta
'carapaça' em torno de mim" Comentou ele anos depois "Você tinha que
manter a cabeça baixa se queria sobreviver." Este aprendizado seria
bastante útil nos muitos momentos de crise e mudanças de membros no seu futuro
grupo. Mas não parecia e não era uma época boa para ninguém e Dave não tem
lembranças felizes desse período.
"É,
foi um aprendizado muito duro. (quando criança) Ganhar alguma coisa nova era
muito raro. Era muito difícil, e eu acho que de certa forma isso me afeta até
hoje. Mas, naquela época, olhando para as outras famílias que nós conhecíamos,
a coisa não era muito diferente. Nós todos éramos pobres. A primeira coisa que
fiz quando arranjei algum dinheiro com o Maiden foi comprar uma casa para meus
pais. Eu sempre quis fazer isso, por causa de toda pobreza a que eles estavam
acostumados. Eu só queria dar a eles algo sólido, para que não tivessem ter que
se mudar novamente. Isso era o que eu sempre sonhava em fazer se conseguisse
sucesso com minha música. E, se essa parte do sonho se realizasse, então
estaria satisfeito. Quer dizer, se eu perdesse tudo amanhã, pelo menos eu tinha
feito minha parte, e isto me fez me sentir muito bem. Meu pai já faleceu há
algum tempo, mas minha mãe ainda vive naquela casa."
Mas
ficar se mudando toda hora quando criança, sendo constantemente o novo garoto
da vizinhança, logo queria dizer que os outros viviam em cima de Dave. Ele teve
que endurecer rápido para agüentar. Seu pai, que por um tempo foi parte do
círculo de amizades dos notórios bandidos do East End liderados pelos gêmeos
Ronnie e Reggie Kray nos anos 60, o encorajou a se defender por conta própria.
"Você sabe, eu era sempre o novo aluno na classe. E você tem que lutar pelo seu espaço, para ser aceito algumas vezes. E, assim que eu tinha feito algumas amizades, eu tinha que me mudar e então começava tudo de novo. Então eu acabava num monte de brigas, sim. De fato, meu pai me ensinou boxe desde que eu era muito novo. Ele me comprou um par de luvas de boxe, sabe, daquelas pequenas. Eu ainda as tenho em algum lugar. E ele ficava constantemente me ensinando a me cuidar."
"Você sabe, eu era sempre o novo aluno na classe. E você tem que lutar pelo seu espaço, para ser aceito algumas vezes. E, assim que eu tinha feito algumas amizades, eu tinha que me mudar e então começava tudo de novo. Então eu acabava num monte de brigas, sim. De fato, meu pai me ensinou boxe desde que eu era muito novo. Ele me comprou um par de luvas de boxe, sabe, daquelas pequenas. Eu ainda as tenho em algum lugar. E ele ficava constantemente me ensinando a me cuidar."
O jovem
Dave logo se interessou por música, chegando mesmo a fazer uma guitarra de
cartolina para fazer mímica com os discos dos Beatles das irmãs. Também
arriscava brincar com o piano de um bar que ficava na parte de baixo de um
conjunto que moraram durante algum tempo. Mas, como ele mesmo se lembra,
naquela época música era "coisa das minhas irmãs". Esporte era algo
que o atraía bem mais, pelo menos até seus quinze anos. Ele era bom em Cricket,
futebol e boxe, entrando em times das escolas que freqüentava com bastante
sucesso.
Em 1970
sua família finalmente arranjou uma moradia mais firme em Clapton. E, assim
como seu futuro companheiro Steve Harris e muitos outros adolescentes do East End,
durante um tempo Dave se tornou um Skinhead. Ao contrário de Steve, no entanto,
ele adotou o corte de cabelo típico da época. E estava, regularmente, "me
metendo em confusão - brigas de rua e coisas assim." Não é uma parte de
sua juventude que ele se orgulha, claro, apenas "algo que todos os garotos
da vizinhança estavam envolvidos. Toda hora tinha gangues sendo formadas, mas
você não podia ficar de fora ou eles te faziam a vida ficar miserável, nunca te
deixavam em paz, sabe?"
Durante
quase dois anos Dave viveu a movimentada vida de turbulência urbana, antes que
fosse para o extremo oposto. "Eu então decidi que preferia uma atitude
mais pacífica em relação à vida. O que aconteceu foi que uma vez eu estava indo
para um jogo do Arsenal e teve uma briga de gangues bem séria e eu pensei 'Pra
mim chega!', foi horrível. Hoje eu olho para aquela fase como parte de meu
crescimento e um tipo de crise de identidade, quando eu tentava descobrir quem
eu era, este tipo de coisa. Então eu deixei meu cabelo crescer, troquei a
indumentária e decidi me transformar num hippie - bicho!"
Nesta
época, também num paralelo à do colega por vir, Steve Harris, Dave estava
ouvindo muito Reggae com sua turma de Skinheads. "Eu costumava comprar
todos estes álbuns de antologias de reggae, que tinham estes artistas que me
interessavam naquele tempo - Dave e Anselmo Collins, Jimmy Cliff, Prince
Buster, etc. Era só aquele tipo de música que tocavam nos clubes e festas que
costumávamos ir. Tinha um grande ritmo e você podia dançar legal com aquilo. Eu
era como qualquer outro adolescente, tentando novos objetivos até encontrar um
com que me identificasse."
O
momento que mudou completamente a vida de Dave e que o levou a ter uma carreira
que parecia impossível na sua época de coturnos e cabeça raspada ocorreu aos 15
anos, quando ele ouviu pela primeira vez a música 'Voodoo Chile (part 2)' do
Jimi Hendrix no rádio. Então "tudo mudou, deste jeito. Entrar no mundo do
rock não foi uma processo gradual para mim, foi uma coisa extremada. Tudo preto
no branco. Eu ouvi 'Voodoo Chile' no rádio pela primeira vez e pensei: 'PQP! O
que é isso? Como é que você faz isso?' Então eu dei uma de detetive, indo atrás
e tentando descobrir quem era e o que estava acontecendo. E foi assim que
comecei realmente a ir a lojas de discos e começar a comprar álbuns. Eu peguei
alguns discos do Jimi Hendrix para começar, depois alguns de blues e então
comecei a pensar em tocar. Eu ficava imaginando como seria isso."
O amor
de Dave pelo rock abrangeu tudo que se referia à chamada "cultura" do
assunto: Dave deixou seu cabelo crescer muito (o que trouxe muitas chacotas de
seus antigos colegas Skinheads), adotou roupas hippies e passou a ler a bíblia
do rock da época, o jornal Melody Maker. Começou também a freqüentar shows e a
sair com um novo bando de amigos ( "todos que estavam numas de tocar
alguma coisa" ), sendo que o mais chegado deles era um cara chamado Adrian
Smith. "Nós vivíamos a alguns quarteirões um do outro." Relembra
Murray "e estávamos ambos interessados em tocar guitarra, então começamos
a sair juntos e tocar."
Adrian
Smith: "Encontrar o Dave e conhecê-lo foi ótimo para mim, porque ele
estava mais adiantado do que eu em termos de guitarra. Eu ainda estava
arranhando uma velha guitarra que Dave tinha me vendido por umas cinco libras
mais ou menos. Enquanto isso ele já tinha uma cópia de uma Gibson ou coisa
parecida. Eu acho que estava um pouco com inveja dele, talvez. Mas nós
costumávamos freqüentar as nossas casas e a tocar, e isso era grande, acho que
nós aprendemos um bocado."
Na época
que deixou a escola aos 15 anos, Dave já tinha descartado a idéia de encontrar
"um trabalho sério". Ao invés disso queria uma carreira como
guitarrista, sonhando com o sucesso. Adrian diz que já naquele tempo ele era
"uma espécie de rock star do pedaço: ele tocava já há uns oito meses e
tinha aperfeiçoado alguns acordes e todo mundo estava muito impressionado. Ele
tinha aquele cabelo comprido, vestia roupas da moda e uma guitarra elétrica
verdadeira. E, você sabe, nós nunca tínhamos visto uma ao vivo e em cores, só
na televisão."
Dave não
concorda muito com essa visão: "A idéia básica para mim não era tanto ser
uma estrela mas apenas ter um trabalho que me permitisse tocar guitarra. Eu não
tinha muito problema em qual tipo de música eu iria tocar, pelo menos no
início. Eu apenas amava música e tinha começado a me introduzir nesse estilo de
vida. Mas foi a guitarra que realmente me levou a isso. Estava dentro de mim
desde que eu tinha 6 ou 7 anos de idade e fiz minha primeira guitarra de
papelão (fingindo que tocava ao som dos discos dos Beatles de suas irmãs. 'Eu
era o John Lennon'). Acho que esse tesão estava ali o tempo todo, mas ficou
nisso até que eu voltasse a me interessar 8 ou 9 anos depois. Mas desta vez eu
levei a coisa toda muito a sério. De repente eu precisava saber tudo sobre
música. Primeiro com discos e depois tocando guitarra."
Seu
primeiro grupo foi um trio chamado Stone Free (nome tirado de uma música de
Jimi Hendrix, claro) , que ele e Adrian formaram com um outro colega de escola.
"Nós tínhamos uns 16 anos e éramos eu e Adrian nas guitarras e um colega
nosso chamado Dave McCloughlin nos bongôs. Nós só fizemos uma única
apresentação que foi no hall da igreja local num Sábado a tarde. Havia umas 6
pessoas ali para nos ver e eu acho que tocamos umas 4 ou 5 músicas - covers de
T-Rex e Hendrix. Depois que acabamos uma senhora que cuidava do local nos deu
uma barra de chocolate e uma lata de Coca-Cola para cada um como pagamento.
Dave e
Adrian continuaram tocando juntos em vários conjuntos mais ou menos
improvisados até o final da adolescência, escrevendo algumas canções de vez em
quando e conversando muito sobre o que fariam se conseguissem sucesso. Mas
havia uma diferença: Adrian era mais voltado à composição e queria ter sua
própria banda, sempre. Dave, ao contrário, vivia fazendo testes para outras
bandas, ansioso para alcançar seu objetivo de viver de música.
"Eu
queria saber como era chegar lá e tocar num lugar cheio de pessoas
desconhecidas. Eu acho que seria um bom treino para quando fosse encarar um
palco mais tarde. Meu pensamento na época era que eu queria tocar com muitas
pessoas diferentes, dos mais variados estilos, assim eu podia conseguir mais
experiência. Então eu costumava comprar o Melody Maker toda semana e olhar a
parte de classificados - isto se tornou uma coisa regular. Eu estava sempre
indo para testes nos sábados ou domingos de manhã."
Como
resultado destes, Dave recebeu convite para entrar numa banda chamada Electric
Gas ( "num estilo meio soft rock americano" ). "Foi em 1973, não
era bem o tipo de música que eu tocava, mas era uma coisa diferente, então eu
gostei. Eu tocava com qualquer um naquela época, só pela experiência. Eu fiquei
com eles um pouco menos do que um ano no final das contas, mas nós nunca
passamos da fase de ensaios e tocar muito de vez em quando num pub ou clube de
jovens. Ninguém aparecia mesmo."
Logo
depois pintou outro "um tipo de banda meio doida de punk", chamado
The Secret. "Eles já eram um pouco mais profissionais" Dave relembra "eles
tinham um empresário, um contrato com gravadora, e pareciam conseguir fazer
bastante shows, então eu fiquei com eles." Mas apesar de ser considerada
'punk', Dave não teve que cortar seu cabelo: "Na realidade eles eram uma
mistura de estilos - aqueles eram os primórdios do punk, que também tinham um
pouco glam, eu acho. Mas foi grande porque eu acabei gravando um compacto com
eles. A música era 'Café De Dance' e saiu através de um selo independente tão
obscuro que eu nem me lembro o nome agora, mas sei que foi lançado em 1975.
Então eu vou sempre me lembrar do The Secret. Foi a primeira vez que eu tive a
oportunidade de entrar num estúdio de gravação de verdade e eu realmente adorei
isso."
De
qualquer modo Dave deixou o The Secret pouco depois do compacto ter sido
lançado. Isso ocorreu depois dele encontrar duas figuras interessantes que
buscavam um guitarrista: uns certo Dennis Wilcock (com quem já tinha tocado em
outra banda, o Warlock) e um novato chamado Steve Harris.
Harris:
"A primeira vez que encontrei Dave Murray foi quando ele veio a um teste.
Ele já tinha estado numa banda com o Dennis Wilcock, chamada Warlock - não a
banda alemã que aparecia nos anos 80, mas só outro bando local do East End.
Dennis estava muito impressionado com a técnica do Dave e o chamou para um
teste para o Maiden. E ele foi fantástico, quer dizer, ele realmente
arrebentou!"
Naquele
tempo a banda estava usando o trailer de um namorado da irmã de Steve, Linda,
que o tinha emprestado para que pudessem fazer testes dos novos membros.
"Eles tinham este trailer no campo e Nick Lideye (namorado de Linda)
disse: 'Vocês podem usa-lo para testes se quiserem'. Então o Dave veio para uma
demonstração e o arrastamos por aquele campo barrento até o trailer. Mas depois
que ele tocou nós falamos na hora: você está contratado. Eu me lembro que nós o
pusemos para tocar 'Prowler' e ele nos deixou de queixo caído. Totalmente! E
nós dissemos: 'É isso aí, você está na banda!'
Dave
Murray também correspondeu: "Tão logo eu comecei a tocar com o Steve eu vi
que era isso que eu queria, realmente. Eu tinha encontrado a banda que tocava o
tipo de música que realmente eu amava, então não havia mais volta."
Naquela
época a banda ficou com apenas um guitarrista durante um bom tempo, logo após a
saída dos dois membros originais, Sullivan e Rance. Steve Harris: "Dave
chegou e era tão bom que ele podia dar conta do recado sozinho. Ele era um
desses caras que podia tocar com os dentes, sabe? E isso se tornou parte de sua
performance - tocando a guitarra com os dentes, jogando ela nas costas, tocando
ela de cabeça para baixo, ele podia fazer tudo! - Nós pensamos em conseguir
outro guitarrista eventualmente, para as harmonias e coisas assim, mas nós
éramos capazes de segurar a onda como um trio com um vocalista por algum tempo,
e nesse ínterim boa parte das harmonias eu fazia no baixo."
Mas
haveria um problema no caminho. Embora impressionado com o estilo de Dave
tocar, alguns meses depois houve uma briga entre Dennis e Murray, instigada
pelo então segundo guitarrista Bob Sawyer. Dave conta com detalhes:
"Eu
estava na banda há apenas alguns meses. Bob pegou algumas declarações minhas
fora de contexto, foi até o Dennis e disse 'Olha, o Dave disse tal e tal coisa
sobre você'. Quer dizer, ele disse tudo errado! E não havia nenhuma animosidade
entre mim e o Dennis, mas o Bob foi lá e fez a fofoca e deixou o Dennis puto.
Então Dennis veio até mim para umas palavrinhas comigo, eu nem me lembro mais o
que era - algo patético, alguma coisa que você diz quando tomou umas e outras e
fica meio bobo, você sabe. Mas o Bob fez daquilo uma tempestade em copo d'água.
Então eu me lembro de receber um recado de ir até a casa de Steve para uma
reunião."
Dave foi
ao encontro no seu velho carro, um Mini. Tão velho e alquebrado que pegou fogo
no caminho e só não foi destruído porque Dave mantinha um pequeno extintor de
incêndio à mão, porque "mais cedo ou mais tarde eu sabia que isso ia
acontecer. Meu carro não tinha nem limpador de para brisas! Então eu estava
usando o extintor na traseira - fogo de verdade - e ficando coberto de fumaça e
óleo. E aí eu chego até a casa do Steve assim, coberto de merda, e a primeira
coisa que ele diz é: 'Bem, eu sinto muito mas você está despedido.' E eu só
pude dizer um 'Oh'. Mas eu sabia que não era do Steve que a decisão estava
vindo e sim do Dennis.
"Então
eu voltei para o Mini queimado e me mandei. Foi um momento horrível, sério.
Quer dizer, eu fiquei muito puto de ser chutado da banda, ainda mais depois de
quase me queimar todo no carro e fiquei pensando 'O que mais pode dar errado?'
Eu acho que eu fui para casa e enchi a cara. Ser chutado de qualquer lugar já é
muito ruim, mas porque eu acreditava muito na banda e a amava tanto, ser
chutado do Maiden foi muito sofrido. Eu não sabia o que ia fazer."
O que
Dave fez foi se juntar a outra banda que começava a despontar no mesmo circuito
do East End que fazia a fama do Iron - o Urchin. Liderada pelo seu antigo amigo
Adrian Smith, o Urchin, segundo as palavras do próprio Dave, "Não era tão
pesada quanto o Maiden, mas eles definitivamente eram roqueiros e eram algo
assim como a melhor coisa depois do Maiden naquele tempo." Relembra ele
"Adrian estava cantando e tocando mais guitarra base e eles estavam
procurando um outro guitarrista. Então o que aconteceu foi que eu cheguei bem
no momento oportuno. Isso foi menos de uma semana depois de ter sido despedido
do Maiden e fomos então direto ao mesmo esquema de pubs que eu estava fazendo
no Iron. E foi nessa época que fizemos aquele compacto."
O Urchin
tinha assinado como pequeno selo DJM, que previa dois compactos mais uma opção
de um LP. Seu primeiro single 'Black Leather Fantasy' já tinha sido gravado,
mas ainda não tinha sido lançado. Valentemente a banda voltou aos estúdios com
Dave para fazer o segundo, que tinha o título de 'She's a Roller', que só
chegaria nas lojas em 1980. "Não é o melhor disco que você já ouviu na sua
vida, coloque desta forma" Diz hoje Adrian Smith "Mas eu ainda estou
orgulhoso dele. Você pode ouvir o Dave e eu tocando muito bem nele."
"Naquela
época o Urchin estava numa posição muito parecida com o Maiden" Diz Dave
"Eles tinham algumas canções originais, mas também faziam covers -
material como Thin Lizzy e Free - mas o Urchin é que foi o primeiro a gravar um
disco, o que na época era considerado um passo muito grande. Pessoalmente eu
tentava não fazer comparações entre as duas bandas. Eu ficava numas de '(estar
no) Maiden era grande, mas isso está acabado, então eu tenho que seguir em
frente'. Quero dizer, o Adrian não era só um grande guitarrista, ele escreve
ótimas músicas também. Então era muito excitante com toda a estória de gravar
disco e coisas assim. Eu sentia que, bem, pelo menos eu estou indo em frente,
não é?"
Enquanto
isso as coisas no Maiden estavam indo de mal a pior, com mudanças constantes,
entrada de pessoas que não conseguiam fazer o som que Steve Harris queria e
coisas do tipo, culminando com a inesperada saída de Dennis Wilcock às vésperas
de uma importante apresentação. A situação estava tão ruim que Harris resolveu
recomeçar tudo do zero. Uma vez tomada esta decisão a primeira coisa em que
pensou foi em buscar as pessoas certas. E Dave era uma delas.
"Uns
seis meses depois de ter sido despedido da banda eu estava com o Adrian tocando
no Urchin num show de Sábado à noite em um pub de North London, chamado
Brechnoch, quando eu vejo ninguém menos do que o Steve." Conta Dave
"E eu estava realmente contente de vê-lo, quer dizer, nós nunca tivemos
qualquer problema, era só o Dennis Wilcock que tinha restrições a meu respeito.
Nós então conversamos depois da apresentação e Steve me disse que todo mundo
tinha saído e que queria recomeçar a banda de novo comigo e com um par de novos
caras. E aí ele me perguntou se eu queria voltar para o grupo e eu disse sim na
hora!"
"E
a coisa toda era, você sabe - eu e Adrian - havia uma grande amizade entre a
gente que existia desde que tínhamos uns 15 anos, e tinha um compromisso de
lealdade também por causa da banda, mas eu disse sim na hora. Quer dizer, eu
não tive nem que pensar a respeito, eu apenas falei 'Claro, vamos!' Foi a minha
reação do momento. Ao mesmo tempo eu sabia que estava sacaneando com o Adrian,
mas essa era a firmeza que eu sentia em relação ao Steve e ao Maiden. Eu sentia
que de todas as bandas que eu já tinha tocado era esta a que eu realmente
queria ficar. Por causa das canções, da atitude do Steve, do direcionamento e a
clareza da coisa toda, mesmo naquela época. Então, apesar de minha lealdade ao
Adrian, eu concluí que a coisa mais importante era estar na banda que eu realmente
acreditava."
Contar a
novidade para Adrian foi, ele admite com um sorriso torto, "realmente
bastante esquisito". Ele resolveu contar para outro membro da banda
primeiro, "Porque eu não tinha coragem de falar com direto com o Adrian.
Porque eu não queria prejudicar nossa amizade, eu sutilmente deixei escapar uma
pista para o baixista, Alan Levitt, , de que eu iria sair e ele ficou realmente
infeliz com isso. Então ele contou pro Adrian e foi assim que aconteceu"
A banda
propriamente dita não sentiria tanto no final das contas, já que havia outro
guitarrista, Andy Barnett - que ocasionalmente tocava com eles - de olho no
posto. Então "a coisa não ficou tão ruim para o Urchin assim, não era nada
que eles não pudessem seguir em frente nem nada. Nós permanecemos amigos e não
tivemos qualquer tipo de briga ou coisa parecida."
Adrian
na sua versão: "Eu acho que seu coração sempre esteve com o Maiden, mesmo
depois deles o terem despedido, mas nós não ficamos nada felizes quando ele
saiu, pra começo de conversa. (quando ele deixou o Urchin) Nós todos fomos até
sua casa - a banda inteira e os roadies - e ficamos por perto tentando faze-lo
ficar se sentindo culpado mas isso não funcionou. Pelo menos não o suficiente
para que ele mudasse de idéia. Eu acho que ele se sentiu péssimo nos deixando,
mas o Dave é assim, sabe? Ele não estava fazendo aquilo por razões mercenárias.
Ele genuinamente preferia o tipo de som que o Iron estava fazendo. Então eu
tinha que dizer pra ele 'tudo bem', você sabe. Você está seguindo seu coração."
O novo
Iron começaria dali, e Steve jamais deixaria Dave sair do barco. Tinha
aprendido com o erro.