Daily Rock: Entrevista com Bruce Dickinson sobre The Book of Souls


2015 era pra ser o ano de retorno do Iron Maiden quando Bruce Dickinson anunciou o diagnóstico de câncer na língua, no início do ano. Embora todos os fãs tenham estremecido, o grupo retorna no próximo mês com o épico álbum “The Book of Souls”.



Primeiro de tudo, como você está? Depois de tudo o que você tem vivido nos últimos meses, é uma pergunta obrigatória!

Bruce: Sim, vou bem. Sempre em movimento. O processo de cicatrização completo levará algum tempo. Algumas coisas dentro de mim precisam de tempo. Partes da mucosa da minha garganta devem se regenerar, porque foram “torradas” pela radiação. Mas vai melhorar, porque terminei o tratamento há alguns meses. Certamente, estará tudo bem até o final do ano.


Essa experiência certamente te tocou como cantor e ser humano. Você tem a impressão de ter mudado?

Bruce:
Na verdade, não. No final deste tratamento, só duas coisas podem acontecer. A primeira é que você se livra do câncer e a segunda é não podermos fazer tour (risos). Por isso estamos preocupados com a segunda opção. Agora, preciso ter o cuidado de me curar. Eu quero e eu vou conseguir trabalhar como antes. Eu sou saudável e meu corpo não foi muito afetado, só perdi um pouco de peso. Preciso ser cuidadoso ao cantar, porque isso vai mexer muitas partes do meu corpo que estão em processo de cura, então, ainda não farei isso. Eu tentei algumas vezes e meus pulmões não foram afetados, todas as notas ainda estão lá. Só tenho que esperar e deixar meu corpo se recuperar. Meu médico disse que isso é ridículo, que eu não devo ficar indo de um lado pro outro assim (risos). Talvez eu tenha me tornado mais impaciente com as pessoas ou coisas que me fazem perder tempo. O tempo de que disponho pode ser curto, pelo menos espero que não seja tão curto quanto agora (risos), mas acho que se eu tiver que ficar sem fazer nada, será minha escolha e não a de outra pessoa.


Seu tempo é precioso!

Bruce: Exatamente, e eu só percebi isso agora. Há várias pessoas que gostariam que eu fizesse muitas coisas, mas eu vou fazer o que eu quero e não o que outros querem ou esperam de mim!


Isso deve ser feito mesmo sem que a doença seja motivo!

Bruce: Sim, mas às vezes tem que acontecer alguma coisa para você realizar isso.


Seu próximo álbum “The Book of Souls” será lançado em 4 de setembro. É, provavelmente, o maior álbum de sua carreira, com 11 canções em 92 minutos! Como você fez para ter bastante material utilizável?

Bruce: Começamos a escrever e a gravar ao mesmo tempo e continuamos até dizermos: “isto é o suficiente! Vamos parar (risos), pois temos quase 100 minutos, é bastante cara! Ainda há várias ideias deixadas de fora!”.


Em uma entrevista para o 'The Final Frontier', Steve anunciou que você teria continuado nesta direção muito progressiva. Ouvi este álbum e tenho a impressão que você é movido para um nível superior, com aquelas peças muito longas, cheias de mudanças de tempo e arranjos que lembram um pouco rock progressivo da década de 1970.

Bruce: Eu cresci com ele, mesma coisa para Steve.


Uma música como 'Speed of light' soa mais hard rock, do período do metal pesado que costumávamos ouvir...

Bruce: Sim, parece muito Deep Purple, muito parecido com seu período de 'Burn'.


E é de se esperar que o Maiden siga nessa direção no futuro?

Bruce: Honestamente, não sei o que dizer, não sei. Nunca me imaginei escrevendo uma musica de 18 minutos ('Empire of the Clouds').


Em sua carreira, nunca teve medo de escrever canções longas e épicas, como a épica 'Rime of the Ancient Mariner'. Neste álbum, há três peças de mais de 10 minutos, incluindo o 'Empire of the Clouds', que é de 18 minutos!

Bruce: Oh, sim. Posso assegurar uma coisa, não acredito que tocaremos 'Empire of the Clouds' ao vivo (risos). Se isso for feito, será um projeto paralelo.


Sobre esta musica, é muito raro você escrever sozinho uma música, para um álbum do Maiden. Sobre o que ela fala?

Bruce: É a história verdadeira do último dia do maior dirigível do mundo, o R101, 5 de outubro de 1930, que caiu no mesmo dia. É quase a história de um Titanic voador. É um acidente muito conhecido na Inglaterra. Quando o Hindenburg explodiu, todos acreditavam que era a maior tragédia de um dirigível, mas essa foi ainda mais grandiosa. E essa música é a história de seu último dia.


Há muitos arranjos clássicos com o teclado, instrumentos de sopro e cordas. Você compôs tudo sozinho?

Bruce: Bem, sim.


É impressionante! Todo mundo sabe que você é um compositor muito bom, mas eu não sabia do seu talento na música clássica.

Bruce: Mas não, não é clássica, é apenas...a música.. É que são músicas montadas para contar uma história. Eu amo peças orquestrais com música rock, especialmente as trompas, violinos, flautas, oboé... esses tipos de instrumentos. Eu escrevi a música no piano e também gravei para o álbum. Foi um pouco estressante, porque eu sou um pianista ruim, bom o suficiente para montar as melodias e arranjos, mas certamente não um músico realmente competente.


Em uma musica tão grande, é difícil manter o foco? Não há o risco de retrabalho da música, adicionando e removendo partes, sem nunca atingir um fim?

Bruce: A coisa mais importante em uma musica longa, pelo menos para mim, é fazer pausas durante a composição. Eu escrevia uma parte e deixava de lado por um ou dois dias. Depois voltava, ouvia o que tinha composto e imaginava o que poderia acontecer em seguida. Eu estava tentando contar uma história e, portanto, inseria os elementos necessários para a narrativa. OK, a aeronave caiu em uma tempestade, bem, então você precisa de algo que soe como uma tempestade e, depois, imaginar o que acontece durante a tempestade, o que as pessoas no dirigível tentam dizer ou fazer. Enfim, você trabalha assim, até que a música esteja concluída.


Então você compôs a música passo a passo ou você já tinha uma ideia do enredo principal?

Bruce: Não, eu não compus passo a passo. Imagino que é um pouco como uma pintura em tela. Você começa com pequenos passos e, então, no dia seguinte, quando quer recomeçar, dá um passo pra trás pra ver o quadro geral e trabalhar mais detalhes. Foi exatamente assim com 'Empire'.


Qual foi a reação dos outros quando apresentou esta música?

Bruce: Imagino que eles tenham orado para não tocarmos ao vivo (risos)! Foi um desafio para gravá-la, porque tivemos que jogar o piano ao longo do primeiro terço da canção. Não havia nenhuma pausa. Tive que gravar as partes de piano e eles se basearam nelas.


Você trabalha com Kevin Shirley como produtor, há 15 anos. O que você mais gosta do trabalho dele e qual a contribuição dele durante a produção do álbum?

Bruce: Falando de 'Empire', Kevin era um grande fã desta música, ele imediatamente pensou que se tornaria enorme. Kevin é capaz de criar um som muito bom e consegue recriar a nossa visão das partes das músicas. É muito bom isso.


Vocês não costumam mudar de produtor! Vocês foram fiéis ao Martin Birch, por 12 anos, e agora Kevin, há 15. Isso é a confiança nas habilidades técnicas ou simplesmente não querem mudar uma equipe vencedora?

Bruce: Por um lado, nós somos uma equipe muito boa e, por outro, se olharmos para o passado dos álbuns, Kevin foi capaz de acompanhar estas mudanças com a gente. Em minha opinião, seria difícil começar um novo álbum e confiar em um novo produtor. É uma relação muito íntima.


Hoje em dia, várias bandas de metal competem para ter o som mais agressivo e pesado, mas vocês não têm medo de apresentar o seu som vintage! Você já pensou em ter um som mais agressivo, muito parecido com o som que você teve em seus discos solo?

Bruce: Você sabe, Maiden tem uma identidade musical muito forte, então, por que mudar e se parecer com os outros grupos?


A indústria fonográfica está no nível mais baixo de sua história. Ainda é importante lançar novas músicas? Como artistas e músicos, vocês ainda estão motivados para escrever novas canções?

Bruce: É muito importante escrever um novo material. Sem ele, seria uma espécie de “banda cover do Iron Maiden” ou uma “banda de karaokê” de nós mesmos, sem ser capaz de tocar músicas novas. É claro que poderíamos trabalhar sempre com 'greatest hits', mas porque o público ainda viria aos nossos show sem ouvir nada de novo? Eles poderiam seguir uma banda de tributo! A razão porquê o público ainda está interessado no seu grupo, é porque você oferece coisas novas.


Você, sem dúvida, é uma pessoa fascinante. Você é um cantor de sucesso, compositor, piloto de avião, esgrimista, escreve livros, produz cerveja...Como você consegue ser tão bem sucedido em tudo que faz?

Bruce: (risos) Não sei se eu realmente sou bem sucedido em tudo o que faço, mas eu tento fazer o meu melhor. Eu sou bom em algumas coisas e menos em outras...então, tento trabalhar com pessoas que preencham essas lacunas. No caso da companhia aérea, tenho um parceiro muito bom e fazemos um bom trabalho. Para ter sucesso, não se pode desistir e é preciso ser realista. Se algo não funciona, é preciso ser capaz de aceitar que talvez isso não seja algo feito para você e se concentrar em algo novo.


Depois de tudo isso, ainda há metas que você quer alcançar com o Maiden, como artista ou pessoa?

Bruce: Com o Maiden, não seria contra ter um hit número 1 na lista da Billboard, nos Estados Unidos. (risos)


Fonte: Daily Rock

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