Por André Forastiere para o Portal R7
O maior mercado de música do mundo é o americano. Caiu em um terço desde seu pico, há dez anos atrás. Nesta década, diminuiu de US$ 11,8 bilhões para US$ 7,1 bilhões. Queda dramática. Mas sete bilhões de dólares estão bem longe de ser nada. Desses sete bilhões, 58% são venda em formato digital, o que obviamente não existia dez anos atrás. Mais de quatro bilhões de dólares de venda de, basicamente, nada, uns bits carregando música.
Não é exatamente ninguém comprando. Considerando que os americanos têm conexões bem melhores que as nossas, e poderiam baixar tudo na pirataria, a venda de música digital é enorme. E esses valores não incluem a receita que as gravadoras conseguem de empresas, é só a venda direta ao consumidor. Com mais desses serviços legalizados ganhando o consumidor - coisas como Rdio etc. - mais fontes de receita vão se somando.
E no Brasil? Segundo a Segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), estamos em oitavo no ranking mundial. A receita total da venda de música foi de R$ 504 milhões em 2012 - 8,9% maior que em 2011. A venda digital foi 27% das vendas. Cresceu 81%. A venda física caiu 10%. Surpresa: o brasileiro paga por música digital. Todos? Não, mas muitos.
Quando um segmento da economia começa a murchar, a coisa eficiente a fazer não é enfiar uma estaca em seu coração. É adiar ao máximo a decadência, e ir tirando tanto leite da pedreira quanto possível, até o final. Por isso é que o governo americano está investindo em... gravadoras independentes. Segundo o Wall Street Journal, a Administração de Comércio Internacional (ITA) investiu 300 mil dólares em 2012 em subsídios para a indústria americana de música. É pouquinho, mas suficiente para bancar viagens de donos de selos independentes à China, Coréia, Brasil.
Tem dois detalhezinhos fundamentais nessa história toda. Primeiro: os países mais espertos sabem que economia criativa é o nome do jogo no século 21. O ecossistema em volta de desenvolvimento de aplicativos para celulares e tablets Apple - o que os gringos batizaram de App Economy - já gerou mais de 200 mil empregos nos Estados Unidos. É aí, e não em fábrica de automóveis, que está o crescimento. Segundo: as versões digitais de canções, livros, filmes etc. custam praticamente zero para reproduzir. E custam um pouco menos do que as versões físicas, que têm que bancar manufatura, distribuição, varejo e tal. Donde que é perfeitamente possível vender muito menos música que há uma década, e ter uma margem de lucro muito maior. Donde que - para pegar um exemplo desta semana - as 363.000 cópias digitais vendidas na Inglaterra do novo-nostálgico single do Daft Punk, "Get Lucky", deram muito mais dinheiro à gravadora e grupo do que se fossem 363.000 compactos vendidos em lojas. A indústria fonográfica ainda faz muitíssimo sentido. E é por isso que o Daft Punk, tão moderninho, não botou a música de graça na internet.