[ IRON MAIDEN ] - Senjutsu é um álbum ambicioso e com potencial de virar um clássico do Iron Maiden

Se tem uma banda que poderia estar em qualquer lista de coisas “cringe” da Geração Z é o Iron Maiden. Afinal, quantos artistas em pleno 2021 se impõem o desafio de gravar um álbum duplo (o segundo seguido) com nenhuma canção com menos do que quatro minutos e metade de suas músicas com mais de oito minutos de duração? Definitivamente, o Iron Maiden não é para brilhar entre os jovens do Tik Tok. Mas se alguém de fora da bolha de sua imensa legião de fãs millenials e da geração X espalhada pelo mundo tiver a calma de escutar Senjutsu na íntegra e de coração aberto possivelmente não irá se arrepender.

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Este é o 17º álbum de estúdio da banda e mostra um Iron Maiden diferente ainda que, paradoxalmente, bastante semelhante ao que nos acostumamos a ver nas quatro décadas em que estes senhores na casa dos 60 anos vêm percorrendo as estradas do planeta com a sua combinação de heavy metal, metal progressivo e um som tão único que, quando se ouve, sabe-se que é o Iron Maiden. Não apenas pela voz inconfundível de Bruce Dickinson, mas também pelas galopadas de baixo de Steve Harris ou pelas marcas que Adrian Smith, Janick Gers e Dave Murray impõe com suas guitarras.

Senjutsu é um álbum que pode ser descrito como ambicioso, rico musicalmente e que cujo apreço cresce a cada vez que o ouvimos, ao mesmo tempo em que é sombrio e dramático em seus temas e suas letras. Ao contrário de discos anteriores, tem poucos momentos com letras ou refrões que grudem na cabeça do fã e o leve a cantar junto nos shows. Não há aqui algo parecido com um "The Trooper", "Fear Of The Dark", "Run To The Hills" ou "The Wicker Man". O que torna interessante e curioso como o Iron vai montar o seu futuro show, visto que é uma banda que gosta de tocar os seus álbuns novos se não na íntegra, bem perto de sua completude. E Senjutsu tem quase o tamanho de um show com suas dez músicas e 1h21min.

O que mais chama a atenção num primeiro momento é a voz de Dickinson. O vocalista canta num tom mais grave e mais robusto do que em álbuns anteriores. Este é o primeiro disco desde que o vocalista se curou de um câncer na garganta diagnosticado em 2015, ano em quem a banda havia lançado o seu último disco, The Book of Souls. O cantor já deu diversas entrevistas falando sobre como o câncer afetou a sua voz. Em uma das mais recentes, para a Loudwire, Dickinson comentou como a sua voz havia ficado um pouco mais grossa e encorpada e definiu-se como um cantor que se enquadra dentro da faixa do tenor, mas atualmente menos num tipo mais lírico e mais se colocando num tipo mais robusto. Isso é algo que já se notava nos shows da Legacy of the Beast Tour, pós a sua recuperação da doença, e agora vemos o atestado definitivo e pela primeira vez de uma assinatura vocal relativamente diferente da que se via em álbuns como Brave New World (2000), Dance of Death (2003) e The Final Frontier (2010).

O que não significa que Dickinson esteja cantando mal. Pelo contrário. As músicas de Senjutsu parecem até ter ganhado uma certa elegância e menos pirotecnia com seu tom. O que casou muito bem com as letras épicas de Steve Harris e suas longas canções. É de Harris todas as músicas gigantescas do álbum: "Lost in a Lost World" (9:31), "Death Of The Celts" (10:20), "The Parchment" (12:39) e "Hell on Earth" (11:19). São canções em que Dickinson assume quase um papel de um trovador cantando as histórias épicas desenvolvidas por Harris enquanto o resto da banda esmerilha em uma riqueza lírica das guitarras de Smith, Murray e Gers se alternando em diferentes tons e camadas sonoras e surpreendendo quem nunca ouviu o álbum, por não saber inicialmente para onde se está indo. Em Senjutsu, uma música pode passar um longo tempo num ritmo lento e posteriormente explodir numa parede sonora e vice-versa de acordo com o ritmo que Harris impõe.

Outro detalhe que chama atenção é o fato de o álbum não ter uma música de abertura veloz, com aquela galopada tradicional e refrão forte como tem sido uma tradição do Iron em todos os álbuns desde os retornos de Dickinson e Smith para a banda na virada do século. A faixa "Senjutsu" – expressão que, por sinal, significa tática e estratégia – começa com uma bateria tribal e vai dando lugar a um rock que vai crescendo, mas diferente da coisa mais explosiva que vemos em outras aberturas. E podemos citar "The Wicker Man" em Brave New World (2000) e "Wildest Dreams" em Dance of Death (2003). Algo que se repete com “Different World” em A matter of Life and Death (2006), "Satellite 15...The Final Frontier" em The Final Frontier (2010) e relativamente em "If Eternity Should Fail" em The Book Of Souls (2015). Não vemos, pelo menos não num primeiro momento, aquela famosa canção de abrir show da banda. As que mais se assemelham são a quinta e a sexta faixas, “Days of Future Past” e “The Writing On The Wall”.

Isso pode se dever porque, tal qual Book of Souls, e talvez até mais fortemente, Senjutsu é um álbum em que o Iron está com o pé muito fincado nas vertentes mais progressivas do heavy metal e flertando menos com o heavy metal tradicional de suas influências iniciais como Black Sabbath, Deep Purple e Led Zeppelin. O que se vê neste e no álbum anterior, são canções mais encorpadas com a banda viajando nos instrumentos enquanto conta as suas histórias. Isso sempre foi uma marca do Iron. Basta lembrar que até "Empire Of The Clouds" e seus 18 minutos dentro do Book of Souls, a música mais longa que a banda havia lançado era "Rime Of The Ancient Mariner", do Powerslave (1984), e seus mais de 13 minutos.

Por falar em sua histórias, um aspecto pouco notado para quem não é iniciado na, digamos, “mitologia” do Iron, e que merece ser ressaltado em Senjutsu são as letras. A banda sempre teve belas canções que contam histórias de guerra ou flertam com medievalismo e histórias de fantasia. Muito fruto do interesse de Harris por história e da própria formação acadêmica de Dickinson na mesma área. E neste álbum as letras de Harris, mas não apenas as do baixista, versam muito sobre isso. "The Death of Celts" fala sobre o ocaso de guerreiros celtas, criando toda uma mitologia heroica em torno da cultura celta (“Dying a warrior Celt has no fear/Immortal for he will live evermore”). Esta é uma música que lembra muito, inclusive, "The Clansman".

Marcada pelo seu riff pesado, "The Parchment" é outa música que evoca os terrores, odores e imagens terríveis de conflitos com um toque medievalista: “Wilderness a tyrant dream/Sell your soul not give them power/Slay upon imperial crown/Witness now the witching hour/Bound himself to oath and king/Such loyalty a shameless thing/Youth o agony still burn/Shedding parentes blood/Never say a prayer to me/For this crime and treachery/Driking from your cup of wisdow true/Many men will follow you”.

Já "Hell on Earth" segue o mesmo clima lúgubre e soturno, com direito a um convite para o reencontro no paraíso, longe da Terra: “On the Other side/I´ll see again heaven/So far Away from this hell on Earth”.

Tema frequente da banda, a Segunda Guerra Mundial também ganha uma nova canção em "Darkest Hour", uma das duas parcerias de Dickinson com Smith no álbum. Ao contrário de "Aces High", porém, esta é uma música mais reflexiva, que abre com um barulho do mar e o som de gaivotas em meio a um silêncio sepulcral e vai evoluindo enquanto o vocalista fala sobre os mortos que não envelhecerão e do sangue que tinge as praias de vermelho. Musicalmente esta é uma canção que tem muito a cara e Dickinson e não seria estranho que ela fizesse parte de um Balls to Picasso (1994) ou The Chemichal Wedding (1998). O mesmo se poderia dizer de "The Writting on The Wall".

E no meio de todo esse clima sombrio do disco ainda há espaço para "The Time Machine", uma bonita música sobre um homem eterno que testemunha o registro da história através de sua máquina do tempo. É o toque de fantasia e ficção científica de Gers e Harris.

Em Senjutsu, o Iron Maiden constrói toda uma atmosfera de canções progressivas e se distancia um pouco das suas músicas de pegada mais enérgica. Pode-se dizer que as ambições da banda de fazer algo um pouco diferente foram bem-sucedidas e que Senjutsu tem tudo para se transformar num clássico do Iron Maiden após o julgamento do tempo.

Fonte: https://www.rockonboard.com.br/2021/09/senjutsu-e-um-album-ambicioso-e-com.html

 



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