Estresse da longa turnê anterior fez Bruce Dickinson afastar-se do processo criativo, dando lugar a Adrian Smith e a uma sonoridade e temática futuristas
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A metade da década de 1980 marcou o momento de maior exaustão da carreira do Iron Maiden, bem como de qualquer outra banda de heavy metal daquela época. Curiosamente, isso trouxe reflexos para “Somewhere in Time”, sexto álbum de estúdio da banda.
A turnê “World Slavery Tour”, que promovia o disco “Powerslave” (1984) e chegou a passar pelo Brasil em 1985, contou com quase duzentos shows em vários países. O cansaço bateu forte em quase todos os músicos, especialmente no vocalista Bruce Dickinson.
O grupo descansou por 4 meses entre o fim da tour e o início dos trabalhos do próximo álbum, que viria a se tornar “Somewhere In Time”. A ideia era não ter pressa mesmo: seria a primeira vez em que o Iron Maiden pularia um ano (1985) sem um álbum de estúdio.
Neste tempo, começaram a surgir as primeiras ideias. E algumas delas eram bem curiosas para o padrão Maiden.
“Somewhere in Time”… acústico?
Bruce Dickinson era, de longe, o mais afetado pelos 331 dias de turnê divulgando “Powerslave” (1984). Ele, que havia cogitado até deixar a banda naqueles tempos, voltou com a clara demonstração de que precisava arejar a mente.
As ideias de músicas trazidas pelo vocalista para o disco que se tornaria “Somewhere in Time” não agradaram nem um pouco, como ele próprio relembrou em matéria da revista Metal Hammer.
“A maioria das coisas que eu tinha realmente tentavam virar o Maiden completamente de cabeça para baixo. Eu disse: ‘sabe, fizemos todas essas grandes coisas de metal, deveríamos dar uma relaxada, talvez pudéssemos fazer algo um pouco mais acústico?’. E todo mundo me olhou como se eu tivesse duas cabeças!”
Steve Harris também comentou sobre sua reação às ideias de Dickinson. Curiosamente, o baixista lembra de comparar as músicas ao material do Jethro Tull, banda que tanto Bruce quanto ele próprio têm na mais alta conta e que viria a ser uma grande inspiração no futuro.
“Eu só disse a Bruce: ‘olha, um monte dessas músicas tem ótimas ideias, mas elas não são realmente para nós’. É meio que muito Jethro Tull, o que eu amo, mas não estava certo. Não sei, não parecia certo na época.”
Estressado com tudo aquilo, Bruce se retirou totalmente do processo de composição do novo álbum. Isso fez com que outros integrantes, especialmente o guitarrista Adrian Smith, assumissem um maior papel de destaque, o que influenciaria também na sonoridade.
Iron Maiden no futuro
De fato, Adrian Smith brilha como compositor em “Somewhere in Time”. O guitarrista assina três das composições sozinho: “Sea of Madness” e as duas faixas escolhidas como singles para o disco, “Wasted Years” e “Stranger in a Strange Land”. Ele praticamente monopolizou as composições ao lado de Steve Harris, com ambos ditando o caminho do álbum.
Embora não seja conceitual, “Somewhere in Time” dá ênfase a temas futuristas, que acabaram entrando até mesmo na identidade visual do encarte. As coisas apenas se encaixaram e faziam sentido, como se fossem um próximo passo após a viagem ao passado com “Powerslave”.
Isso, claro, também acabou influenciando no som: enquanto Dickinson tinha ideias acústicas, Steve Harris, Adrian Smith e o guitarrista Dave Murray fizeram algumas experiências com guitarras sintetizadas, que foram incorporadas ao álbum. A sonoridade de “Somewhere In Time” é bem específica por esse motivo.
A tendência continuaria no álbum seguinte “Seventh Son of a Seventh Son” (1988), que chegou a contar com teclados, novamente cortesia de Adrian Smith. Mas é aqui que o Maiden “pasteuriza” seu som até o limite, o que não significa queda de qualidade nas músicas – muito pelo contrário.
Alto nível
Há quem considere “Somewhere in Time” o ápice técnico do Iron Maiden, o que faz sentido para uma banda que entra em estúdio após tanto tempo tocando ao vivo. Mesmo distante das composições, Bruce Dickinson entrega uma performance vocal impressionante, com destaque para as épicas “Caught Somewhere In Time” e “Alexander The Great”, abertura e fechamento do disco.
A cozinha do Maiden funciona de forma perfeita, como sempre, e Harris apostou em épicos mais longos – criticados hoje em dia como se fossem uma novidade. Além das já citadas faixas de abertura e encerramento, o baixista entregou a clássica “Heaven Can Wait”, “The Loneliness of the Long Distance Runner” e “Deja-Vu”, esta criada em parceria com Dave Murray.
O resultado foi positivo, rendendo altas posições nas paradas dos Estados Unidos e Europa – o Velho Continente, aliás, foi o alvo de grande parte da turnê “Somewhere on Tour”. Foi uma das poucas turnês do Iron Maiden sem filmagem profissional, com um palco ligeiramente menor que o da tour anterior, para caber em locais menores.
Dos singles, “Wasted Years” se saiu melhor e permanece sendo a música mais lembrada do álbum, ao lado de “Heaven Can Wait”, as únicas tocadas em shows até hoje. Com o tempo, o álbum ganhou disco de platina nos Estados Unidos e ouro no Brasil, com 100 mil cópias vendidas por aqui.
A era dos sintetizadores no Maiden teria vida curta: em “No Prayer for the Dying” (1990), sucessor do mencionado “Seventh Son of a Seventh Son”, a sonoridade seria propositalmente mais rústica e simples para apostar em uma volta às raízes. Vale lembrar que o disco de 1990 foi o primeiro após a saída de Adrian Smith, substituído por Janick Gers.
“Somewhere In Time” divide opiniões até entre os fãs conservadores. É inegavelmente o álbum mais polido do grupo em termos de produção, o que faz com que alguns torçam o nariz. Ainda assim, há muitos méritos nesse trabalho, a ponto de ser citado como o favorito por muitos outros admiradores da Donzela de Ferro.
* Texto desenvolvido em parceria por André Luiz Fernandes e Igor Miranda. Pauta e edição geral por Igor Miranda; redação e apuração adicional por André Luiz Fernandes.
Fonte:https://igormiranda.com.br/2021/09/iron-maiden-somewhere-in-time-som/
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