[ BRUCE DICKINSON ] - Um olhar de fa à palestra do livro do superstar Bruce Dickinson


“Why?” – Um olhar de fã à palestra do livro do superstar Bruce Dickinson

Verônica Mourão



Antes de começar a ler, saiba que este texto pode conter spoiller da palestra do Bruce Dickinson, sobre a sua autobiografia: “What Does This Button Do?”, publicado em vários países e sendo lançado com eventos diversos desde 2017. No último dia 8, estive no evento ocorrido na Aula Magna em Lisboa e cabe me aqui o ponto de vista como fã e jornalista.

Bruce Dickinson é reconhecidamente uma personalidade que vai além das páginas de tablóides de Rock e Metal mundiais. Poucos tem uma visibilidade tão grande, ainda que muitos veteranos ainda toquem e faça tournées pelo mundo. Mas é claro que ele não é só um cantor. A maioria das pessoas, ou melhor os fãs; tem conhecimento da amplitude de seus feitos como empresário, piloto, esgrimista e tantos outros grandes êxitos.

De forma inteligente, e diante da possibilidade de uma morte prematura, Sr. Dickinson resolveu compilar sua memórias numa publicação bem recheada de histórias variadas da sua vida, que navega entre o silencio do universo no voo de um Boeing, com a ensurdecedora plateia de um show do Iron Maiden.



Mas quem é Bruce Dickinson?

A verdade é que não sabemos. O impressionante baixinho de cabeça grande e mente difusa, parece mesmo criar um personagem cada vez que entra no palco. E fora dela, não é muito sociável, corre dos fãs, se esconde dos flashes das câmeras e dos bastidores em geral, mantém seu tradicional não-interesse em dar autógrafos ou tirar fotos, ainda que uns poucos ainda consigam. Basicamente, sempre entendi isso como uma forma de não ser o tempo todo uma pessoa pública, mas preservar sua intimidade e dedicar seu tempo útil em transitar pelos seus compromissos, que são muitos! Como fã, é obvio que a frustração ocorre quando não temos acesso, ou tentamos interagir, mas penso que depois de uma certa idade e fortuna acumulada, ele têm mais o que fazer! Certo ou errado, nem pode ser comparado aos outros artistas solícitos como Steve Harris, que sempre está por aí a dar as caras e comunicar com todos. Ainda assim, não podemos esquecer que Dave Murray, por exemplo, também parece um fantasma que quase só aparece quando está no palco. É a escolha de cada um.



A Palestra

Bruce é sempre um grande orador, e cada vez que está diante de tantas pessoas e sejam elas, 25 ou 25 mil, têm sempre a capa protetora que o define como performático. Foi essa a primeira impressão que tive da apresentação de seu trabalho. Parecia que eu estava nas minhas aulas de teatro e “clown” em que trabalhávamos a preparação de corpo do ator, imortalizado por Stanislavsky, que consistia em cruzar “personas”com animais, pois ao imitar vários personagens que passaram na sua vida, como professores de música, a rainha da Inglaterra e outras figuras, parecia mesmo uma interpretação para um espetáculo cênico. 

Ao narrar alguns fatos da sua vida, Dickinson vai utilizando-se de algumas fotos do livro que parecem ser escolhidas a dedo, pois passam rapidamente sobre todo o seu legado. A voz é empregada para cada uma das pessoas, com total domínio de criação de personagem.
Logo de início relata (coisas que estão mesmo no livro), e a sua infância longe dos pais, que algum dia chegam e cobram deles coisas, o levando a dizer “WHY?” palavra que o acompanharia em tudo na vida. Por que? Por que não? Porque sim? Por que isso é assim? Para que serve este botão? E talvez aí esteja a chave para seu sucesso. A dúvida, a crítica e a busca da resposta para seus questionamentos pessoais.

Há uma evidente ênfase a algo que o acompanhou no nascimento artístico e quase na sua morte prematura. Seu bigode. Desde a entrada no Samson, “seu primeiro trabalho” até o descobrimento do câncer na língua/boca, seus pêlos, que são muitos, parecem incomodá-lo de alguma forma.
Bruce também cita seus vários figurinos exóticos no Iron Maiden, como um “possível modelo da Paris Fashion Week” de forma irónica, obviamente, descrevendo a origem de algumas das roupas e o ponto alto foi a foto dele com Rod Smallwood pegando em muito dinheiro enquanto tinhas calças amaradas com cordões, no lugar do ziper.

Um dos fatos que ponderou comentar foi sua dificuldade de comunicação no Rock in Rio I, numa terra brasilis em que poucos (nesta época) sabiam falar inglês e ele teve que se comunicar compulsivamente por gestos, o que segundo ele próprio relatou, lhe conferiu a ferida no supercílio, feita por ele mesmo e a guitarra que usava, durante Revelations!
Bruce não devia saber o que estava a acontecer quando sua vida parecia um foguete à decolar, mas a frase que acompanhou toda sua vida e sua palestra sem dublagem ou legenda, foi repetidamente: 

“Why?” - “Por que?” A pergunta que fez para seus pais adolescentes e passou a fazer por toda sua existência até hoje, desafia toda sua vida em tantas ocupações, e acredito que todas as suas perguntas foram mesmo respondidas por si mesmo. Todos os seus sonhos realizados.
Com duas partes, sendo que a primeira é apresentada com um telão, uma mesa com duas cervejas (uma trooper e uma local), mais um enorme relógio de corda, assim o britânico apresentou de forma lúdica e divertida, um pequeno resumo de sua biografia.

Assim como todo espetáculo, tudo tem um começo, meio e fim. O palco é seu lugar e ele sabe onde entrar com suas estratégicas maneiras de distrair o público. Apesar de todos estarem ansiosos de que ele pudesse ler nossas perguntas escritas num cartão no inicio do evento, Bruce não lê todas e não interage com seu público. Apresenta-se e parte no final, seja na primeira, seja na segunda parte. Sem agradecimentos.

O artista sob ângulos diversos.



Ver o Sr. Dickinson interpretar nesta palestra foi diferente de vê-lo em 2016 no Campus Party, no qual ele atuou com muito mais seriedade e foco, pois sua plateia não era só de fãs. E percebo por mais de um vez nestes eventos, que ele assoa o nariz quando vai cantar ou quando fala por muito tempo. Há de ter qualquer coisa que lhe permita respirar melhor para cantar, embora ele não super valoriza este talento, e diz que cantores bons há muitos. Bons projetos, já são poucos.

E este é o grande projeto de sua vida: Seguir em suas oportunidades, navegar na sua boa sorte, mas também encontrar todos os meios para aproveitar o máximo de sua vida, sem papas na língua. Para além de elogiar Skunkworks, e os músicos que tocaram com ele em toda sua carreira solo, Bruce finalmente fecha seu show com a resposta de algumas perguntas selecionadas, mas vou lhes ser sincera, não me acredito que aquilo parecia espontâneo. Parecia mesmo, que as perguntas era todas pré determinadas, e uma delas o levou a dizer, que iria interpretar “Chemical Wedding” ao final do show. Entretanto, antes de fechar o evento com seu canto absolutamente limpo e alto, informou entre uma frase e outra: “ Sim, nós vamos tocar Alexander The Great ao vivo, mas não esta noite”.

A noite acabou parecendo um daqueles sonhos que você não quer que acabe. Noite fria, silenciosa e meia dúzia de fãs portugueses e brasileiros à porta lateral. Mas os organizadores enfatizaram: “Ele foi embora!”, enquanto um segurança, já sem sua roupa de trabalho diz: “Ele ainda está aí”. Estava mesmo muito frio aquela noite, ninguém mais esperou. Ele podia estar já num jatinho (o aeroporto é ao lado do local do evento), ou talvez estivesse num restaurante ou hotel. O talvez estivesse lá dentro como aquelas pessoas que se escondem de ataques quaisquer. O fato é que Bruce é um ídolo num pedestal, e ali vai sempre estar. Miúdo no tamanho, grande na personalidade, insuportável como celebridade e absurdamente comum como alguém que percorreu a sua vida à vivê-la como gostaríamos de viver.

“Why is my life like this? I don´t know. It just happened” – Por que minha vida é assim? Não sei. Simplesmente aconteceu  - Diz o cantor




gravado em Lisboa, 8 dez.

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Verônica Mourão

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