[ RESENHA ] - Em São Paulo, Iron Maiden mostra que é imbatível ao vivo



Após um show memorável no Rock in Rio 2019, ocorrido no dia 04/10 com ingressos esgotados a banda Iron Maiden seguiu com sua passagem pelo Brasil agora aportando em São Paulo, mais precisamente no dia 06/10 no estádio do Morumbi, também com ingressos esgotados. A capital paulista é uma cidade com forte ligação com a banda e sua história.

Foto: John McMurtrie

Desde shows antológicos como o “Monsters of Rock 96” e passagens icônicas em 2004, 2008, 2009, 2001, 2013 e 2016, sempre intercalando um show de divulgação de álbum de inéditas com um show de clássicos, a banda traz agora aos fãs brasileiros a sua novíssima “Legacy Of The Beast World Tour 2019”.

Iniciada em 2018 na Europa e com uma temática voltada ao game e quadrinhos de mesmo nome, o Iron Maiden mescla um set list de clássicos absolutos com músicas de fases distintas, mas que para os fãs mais fervorosos (como se a maioria esmagadora não assim fosse…) possuem um imenso apelo após o retorno de Bruce Dickinson a banda em 1999.

Logo pelo ponto de vista dos fãs ao se depararem com o set list do primeiro show ocorrido na cidade de Tallin, na Estonia em 2018, elevou a ansiedade dos fãs para que a mesma tour chegasse até o Brasil. E assim foi feito.

Já na manhã do dia 06/10, era visível a movimentação dos fãs da banda com suas camisetas características com o nome da mesma e suas várias e várias ilustrações com as encarnações da mascote da banda, Eddie.

Se todos os caminhos na antiguidade levavam à Roma, desta vez todos os caminhos levavam ao Morumbi que teve um forte sistema de controle de tráfego local para facilitar os fãs que optassem pelo transporte público (metrô e ônibus) para chegar nas cercanias do Estádio.

Aqui pessoalmente reforço o clima de tranquilidade e de bons encontros de grupos de amigos que seguiam a pé ao local do show, sem muita dificuldade e num clima aprazível o Morumbi já via a formação de filas cerca de 4 horas antes da abertura dos portões.

Porém o amor incondicional dos fãs pela banda, aliado a vontade de pegar o melhor local perto do palco, fez com que alguns fãs chegassem, pasmem, dois dias antes e montassem um mini acampamento para superar os dias até o show.

Com um forte esquema de segurança e com pessoas aptas e facilmente identificadas com coletes vindo dar informações de maneira simples e clara, a produção do evento a cargo da Move Concerts fez um excelente trabalho para facilitar o acesso dos fãs as filas e posteriormente ao interior do estádio.

Com a proximidade das 16 horas, horário este previsto para abertura dos portões, os gritos dos fãs ansiosos e o famosíssimo coro de “Olê olê olê Maiden Maiden” era o som mais ouvido em toda a cercania do estádio.
Portões abertos e o estádio do Morumbi, o maior da capital, começou a ter seus espaços ocupados pelos fãs que de maneira ordeira buscavam se estabelecer da melhor maneira a ver o palco.

As filas existentes começavam a se movimentar e com este movimento a emoção do que estava por vir ia tomando proporções de realização para muitos fãs, coisa que irei comentar no final.


Foto: John McMurtrie

Como de praxe e nada mais nada menos do que pontualmente a banda de abertura The Raven Age, esta tendo como fundador George Harris, filho de Steve Harris, baixista do Iron Maiden, acaba por subir ao palco com um set list pautado no primeiro trabalho da banda e algumas músicas mais atuais, sempre com uma pegada voltada ao Metalcore com linhas expressivas de guitarra e bateria que se não agradam os fãs mais velhos ali presentes, chamam a atenção dos mais novos e impõem respeito pela qualidade e personalidade durante toda a apresentação.

Mesmo que sob a sombra imensa da banda que viria a seguir, não tirou do The Raven Age a chance de mais uma vez abordar os fãs brasileiros com algo no mínimo interessante, mas totalmente diferente do que todos ali estavam ansiosos e tensos para testemunhar.

E mais uma vez, de forma britânica e impecável, a música que toca o coração dos fãs da banda Iron Maiden durante dezenas e dezenas de anos toma de conta do sistema de som do Morumbi.

Doctor Doctor da banda UFO, é o tipo de prenuncio de que falta pouco, muito pouco para que a poderosa donzela surja diante dos olhares de todos e desfile sua majestade por um set list, palco, som e dedicação que me forçam a pensar o quanto é bom estar convivendo na mesma época de uma banda ou instituição do heavy metal como o Iron Maiden.

Assim, os telões recebem as primeiras imagens alusivas ao game em alto e bom som, o jogo mobile, pode ser acessado tanto para Android e IOs e que ao seu final, trouxe o singelo recado: “Bem vindos ao show.”

Foto: John McMurtrie

Luzes apagadas, corações acelerados e as primeiras lagrimas começam a rolar quando a introdução de uma das músicas mais icônicas da banda é executada, ‘Aces High’ abre o set list como um verdadeiro ataque rápido levando a uma a uma verdadeira catarse os fãs que viam uma réplica perfeita do avião caça inglês ‘Supermarine Spitfire’ em pleno palco, dando mais vida e cor a letra da música que retrata uma batalha nos céus durante a segunda grande guerra mundial.

De cara uma coisa já surpreende, a qualidade do som. Muitos fãs torceram o nariz quando souberam que o Morumbi iria receber este show, tão esperado. Problemas de acústica pelo imenso espaço estrutural e a distância e amplitude sempre deixavam a desejar. Mas isto de alguma forma foi encarado como honra, pois o som estava impecável e com um toque até mesmo mais forte como as notas executadas pelo baterista Nicko McBrain.

Ainda em transe uma das primeiras surpresas da noite. ‘Where Eagles Dare’ transporta todo o palco para um cenário de guerra nas gélidas montanhas da Europa, também na Segunda Guerra Mundial. Baseada em filme do mesmo nome esta música épica e com uma introdução de bateria e parte instrumental elevada ao patamar de clássico, não era executada desde 2005. E nem preciso dizer que a plenos pulmões os fãs se encantaram com a energia com que a banda a executou, um presente incrível par os fãs mais antigos da banda.

Foto: Murilo Araujo

Sem deixar o clima sequer esfriar, mesmo com a leve garoa que se iniciou, as caixas de som ecoaram a introdução de ‘2 Minutes To Midnight’ um clássico atemporal e que sempre empolga os fãs com seu refrão que convida o fã a bradar. E aqui mais uma mudança de palco, com um pano de fundo que remonta ao single de mesmo nome.

Finalmente um Bruce elétrico e com um ótimo bom humor troca as primeiras palavras com o público, sempre sorridente e já tendo mudado de roupa pela 3º vez, ele anuncia uma canção com peso histórico e significativo nos dias atuais. Remetendo a história da Escócia, ‘The Clansman’ originalmente foi interpretada por Blaze Bayley, mas que desde 2001 com o icônico álbum Rock in Rio os fãs abraçaram a versão com Bruce Dickinson a frente. Bruce surge com uma espada, uma clara referência a William Wallace figura importante na construção histórica da Escócia e na sua busca por identidade e independência. Recomendo assistir Coração Valente, ok? Assim, não se pode descrever a emoção com que mais de 60 mil vozes em uníssono cantavam com punhos erguidos ao ar o refrão que fala sobre honra, insistência e o mais importante, o clamor pela liberdade. Desde 2003 ‘The Clansman’ não era executada e sem dúvida marcou a noite.

A seguir duas músicas que se por um lado uma define o que é Iron Maiden em questão de tradição, gloria e orgulho a outra eleva este patamar a uma epopeia misteriosa de magia e imersão.

‘The Trooper’ e ‘Revelations’ fazem uma após a outra uma dobradinha que nem o fã mais otimista do álbum ‘Piece Of Mind’ de 1983 poderiam cogitar. O ambiente de guerra retratado em ‘The Trooper’ com seu clássico refrão e participação dos fãs, trouxe ao palco a mascote Eddie para uma divertida disputa com Bruce Dickinson usando espadas e muita, mas muita provocação verbal.

Por fim um convencido Eddie, crendo em sua vitória sobre Bruce, acaba sendo surpreendido com um “disparo” de bacamarte efetuado por Bruce casando perfeitamente com a letra da música. Aqui também vale o registro da primeira aparição da bandeira brasileira no show!

Sai o ambiente de guerra.

Foto: Murilo Araujo

O palco transmuta para o que parece ser uma catedral medieval, com vitrais e candelabros com chamas acesas e detalhes incríveis. Um dos mais bonitos e belos palcos que o Iron Maiden já veio a apresentar aos seus fãs sem sombra de dúvida.

E esta mudança veio a calhar. Pois se inicia uma fase do show em que o drama e a tensão andam lado a lado.

‘Revelations’ é o que se pode claramente dizer: Eu vivi para ver isto diante dos meus olhos! Intensa, emotiva, e com uma performance teatral de Bruce Dickinson, esta canção mostra bem a sinergia de todos membros da banda e o destaque fica claramente para os dois guitarristas originais da fase de ouro da banda, Dave Murray e Adrian Smith que mostram que os solos são sim a alma de uma boa canção.

Leve pausa para uma breve tomada de folego e mais uma das grandes surpresas do setlist chega através das cordas do baixo de Steve Harris. ‘For The Greater Good Of God’ busca um diálogo pesado com os fãs em um mundo onde guerras, miséria e sofrimento parecem ser uma banalidade oriunda de algo a ser questionado. Esta música, oriundo do álbum ‘A Matter Of Life And Death’ jamais foi executada no Brasil, já que a tour do referido álbum não chegou a aportar por aqui.

Então a satisfação de ver o refrão e partes inteiras sendo cantadas pelos fãs geraram sorrisos nos presentes e trouxe energia para as ações de interpretação de Bruce Dickinson que estava confiante e confortável diante da multidão e uma das letras mais desafiadoras da banda em muitos anos.

Outro clássico a seguir, este mais moderno, ‘The Wicker Man’ elevou a empolgação de todo o Morumbi convidando não somente a cantar, mas também a pular durante o refrão.

Foto: Murilo Araujo

Mais uma vez a banda surpreende e o clima retorna ao sombrio. Mais uma mudança de palco. Desta vez para receber ‘Sign Of The Cross’ que desde 2001 não era executada ao vivo e que tem em seu destaque tanto a bateria firme e ousada de Nicko como mais uma vez a sinergia entre guitarras e Bruce Dickinson e seus dotes de interpretação.

A tragédia grega ganha espaço e asas com ‘Flight Of Icarus’ onde um Bruce Dickinson agora portando um lança chamas ilustra a história de Icaro e seu voo rumo ao sol e aos sonhos que acaba o levando a morte, o palco nesta canção recebe a interatividade de um Ícaro gigantesco que ao fim da música tem suas asas tocadas por labaredas e tristemente e sofridamente despenca dos céus para trás do palco. Simplesmente genial e tocante.

Três clássicos absolutos da banda fervem o estádio e os fãs que até então puxavam energia da banda: ‘Fear Of the Dark’, ‘The Number of The Beast’ e Iron Maiden.

A primeira seria até redundante fala o que ela causa nos fãs. A adrenalina e a comoção que causa é inenarrável.
‘The Number’ traz as labaredas de fogo em sua plenitude e um palco que parece submergir a um caos imenso. E Iron Maiden que trazendo o nome da banda com seu refrão claro e direto e sua pegada concisa nos traz o primeiro vislumbre do mascote Eddie, agora em alusão ao game, de forma gigantesca atrás da bateria, com seu visual intimidador mas ovacionado pelos fãs.

No bis a banda reassume o posto no palco com ‘The Evil That Men Do’ que retorna ao setlist desde 2014, ‘Hallowed Be Thy Name’ que após uma série de complicações na justiça agora pode arrancar sorrisos dos fãs da banda ao vivo e com um Bruce Dickinson performático.

E para encerrar, uma das músicas que convida ou intima o fã, velho, novo ou simplesmente vivo e com energias, a gastar elas em sua plenitude. ‘Run To The Hills’ faz um dos coros mais bonitos de todo o show e mais e mais lagrimas nos rostos deslumbrados dos fãs são vistas.

Foto: Murilo Araujo

Vale o registro de que um show do Iron Maiden, não é algo pura e simplesmente visto como entretenimento para os fãs, muitos fazem esforços homéricos para saírem de suas cidades para poder vivenciarem aqueles momentos da melhor maneira. Criando boas memorias.

E para muitos destes fãs a banda funciona claramente como uma máquina do tempo, em que durante todo o show, a banda, através da sua energia, vitalidade e técnica transporta os fãs a diversos momentos onde cada música possui um significado especial para quem a ouve. Para quem se dispõem a compreende-la e se identifica. Uma banda com a história do Iron Maiden a muito já não tem mais o que provar ao mundo e sim ser celebrada pelos seus milhares e milhares de fãs espalhados pelo pais. E a noite do dia 06/10 foi claramente uma noite de celebração e de emoção.

Agradecimento mais do que especial a Midiorama pelo credenciamento, profissionalismo e atenção que permitiram ao site Iron Maiden Brasil se fazer presente neste show incrível e poder relatar aos fãs de todo o país o que muitos já sabem: O Iron Maiden é imbatível ao vivo!

Sobre Murilo Araujo

Murilo Araujo

9 comments:

  1. Show impecável, organização horrorosa nos seguintes aspectos: filas intermináveis dos banheiros, pouquíssimos vendedores e quase inexistentes no meio da pista e filas gigantescas para comprar fichas, cerveja Itaipava?! Um Lixo.

    Sou frequentador de shows e nem se compara com outros diversos que já fui.

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    1. Cara na boa, qualquer cerveja gelada (e estava muito gelada) é bebível. A Premium estava agradável. Fila era questão de 5 minutos no máximo.
      E o copo que a Itaipava fez era top. Trouxe uns 7 para casa.

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    2. Ja manda um copo pra mim entao !! Nao consegui nenhum ! kkkk

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  2. Chorei com esse texto! Foi uma emoção inenarrável! Maiden certamente é uma das, se não a melhor, banda da atualidade! ❤

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  3. Parabéns pelo texto, exatamente a sensação que tivemos, parabéns... só a cerveja q deixou a desejar ..... itaipava não dá... #heinekennapróximaporfavor

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  4. Cara estive no show e seu texto relata muito bem o que foi. Parabéns.
    Quanto a emoção, foi meu show 4. Mas meu irmão, meu primo e um amigo foram o primeiro. E os caras ficaram encantados.
    Olha o esforço que fizemos. Sou do Mato Grosso do Sul. Moro em Bodoquena, 260km de Campo Grande - capital. 03 horas de viagem de carro. Mais umas duas horas de avião até São Paulo. Dois dias hospedado num hotel 5 estrelas - tentando ficar no meu dos caras, mas só estavam a Reaven Age e roodies - mas valeu a pena.
    Cheguei 16h no Morumbi.
    Iron Maiden é top demais. Vale todo esforço.
    Detalhe: deixei minha esposa e minhas duas filhas (2 e 4 anos) no MS. E a esposa deu apoio.
    Abraços

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  5. Fui em São Paulo e no Rock in Rio os 2 foram épicos, completei 10 shows do Iron Maiden e mesmo assim estou ansioso para que o próximo chegue logo !

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  6. Resenha tocante, melhor show do Iron Maiden que assisti, deixei minha filha de 2 anos em Minas Gerais com meu marido que deu o maior apoio. Iron Maiden, meu primeiro amor sempre....

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  7. Na boa, esse foi o meu 3° show do Maiden e ainda senti o som meio "apagado". Não sei explicar ... parece meio abafado, seco ... nas três vezes que fui senti a mesma coisa. É claro que o show em si é top demais, os caras são lendas e a emoção toma conta de qualquer fã. Mas continuo com a impressão de que o som poderia ser melhor nos shows do Maiden.

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