Certa vez eu conversava com minha mãe,
e ela disse: “ Toda guerra é santa”.
Quase caí
para trás com aquela frase tão curta e tão absurda, mas tentei entender porque
uma senhora de 80 anos defendia algo que teria permitido a morte de tanta gente
no planeta. Sim, estávamos falando de guerras reais, destruição e genocídio.
A morte da esperança de jovens, tão jovens no
inicio da sua juventude, onde deveriam estar se divertindo, estudando,
namorando, praticando esportes ou enchendo a cara mesmo.
Mas qualquer
coisa que não tirasse sua vida, como os exageros que podem acontecer quando se
é ainda imaturo e aprendiz da vida. Mas a maioria dos jovens europeus e alguns norte americanos no ínicio do século XX perderam suas vidas em campos lamacentos de
países que eles nem conheciam, enterrados no meio de outros corpos, apodrecendo
entre os que tentavam se defender ou fuzilar o outro.
Uma visão mais real para o humano do que
pode ser um "inferno" Você pode ver algo sobre isso no filme, "Ate o último homem"que inclusive coroa o tema desta resenha, com primor em seu roteiro.
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As guerras fizeram parte de tudo que foi
conquistado e construído na história das civilizações e da humanidade, e para
que alguns ganhassem, muitos tinham que perder. E acaba que a vida é mesmo esse
grito de sorte ou azar. Viver e morrer são atos corriqueiros no universo, mas
também sabemos como é bom existir e ter o direito que alguns tiveram de seguir
uma existência na sua plenitude; com família, amigos, saúde e longevidade. Mas
aí dizer que ela [a guerra] é SANTA?
For the
Greater Good of God foi escrita para o álbum The Matter of Life and Death de
2006 por Steve Harris, criador e baixista da maior banda de Heavy Metal do
Mundo: O Iron Maiden. Sua capa deixava bem claro o conteúdo do álbum: Guerras.
O tema da música em questão se diz respeito à mancha mais profunda e
transformadora do ser humano em sua dignidade, em relação à vida e morte, mas
dessa vez sobre aquilo é feito pelo “bem de Deus”: As Guerras Santas ou A
SANTIDADE DAS GUERRAS.
Voltei para
minha mãe e questionei qual o motivo daquela frase que para mim soava tão insensível.
E ela foi enfática: “Os soldados que eram designados para a guerra, dedicavam
suas próprias vidas para salvar a nação e isso indiretamente, salvara a vida de
muito mais gente. Portanto, muitos deles foram heróis, e a Igreja (Católica)
considerou esse ato de heroísmo, algo que poderia salvar suas almas”
Minha mãe é
muito católica e durante a Segunda Guerra Mundial, morava no Rio de Janeiro
acompanhando ainda criança os fatos da guerra pelo rádio e seu avô era um dos
generais mais importantes da história militar no Brasil (especialmente na
década de 60),e ela viu indiretamente muitas consequências da guerra, tal como
não ter alimento na mesa. Ver carne como artigo de luxo e comprar 1 peça de
manteiga por família.
Nós em nossa fartura de comida, e o período de
paz que o Brasil sempre (meio) que viveu sem contato com guerras (com excessão
de algumas batalhas civis), não somos capazes de enteder o que foi isso.
Mas toda a
família de um inglês como Steve Harris e seus colegas viveram consequências de
ter em um momento de seus antepassados, a terrível consequência de viver para
estar vivo ou morto pela Primeira ou Segunda Guerra.
Vamos destrinchar a letra!
As guitarras começam as nos levar à um
caminho meio sem volta. O caminho das batalhas de campos de guerra. As
perguntas surgem na mente inocente de um jovem combatente...o passo é lento.
Are you a
man of Peace/ Or man of holy war?/ Too many sides to you/ Don't know which
anymore/ So many full of life /But also filled with pain/ Don't know just how many/Will live to breathe again
Será você um homem de Paz
Ou homem da Guerra Santa?
Muitos lados para você
Não sabe mais qual tomar
Tantos cheio de vida
Mas
também tão cheio de sofrimento
Não sei exatamente quantos
Viverão para
respirar novamente
A life
that's made to breath/ desctruction or defense/ A mind that's vain corruption/
Bad or good intente/ A wolf in sheep's clothing
Or saintly or sinner/ Or some that would believe/A holy war winner
Or saintly or sinner/ Or some that would believe/A holy war winner
Uma vida
feita para respirar
Destruição ou defesa
Uma mente vaidosa na corrupção
Más
ou boas intenções
Um lobo em pele de cordeiro
Ou santo ou pecador
Ou alguém
que acreditaria
Em um vencedor da guerra santa
De repente, a bateria de Nicko nos leva junto à voz
de Bruce ao começo de tudo. Em seu terreno árido e distante, vai começar aquilo
que ninguém suportaria se tivesse visto antes...
They fire off many shots / and
many parting blows / Their actions beyond a reasoning / Only god would know/
And as He lies in heaven/ Or it could be in hell/ I feel he's somewhere here
Or looking from below/ But I don't know, I don't know
Or looking from below/ But I don't know, I don't know
Eles disparam tantos tiros
E tantos golpes mortais
As atitudes deles estão além da lógica
Somente deus compreenderia
E enquanto ele se encontra no céu
Ou poderia ser no inferno?
Eu sinto que ele está aqui em algum lugar
Ou olhando lá de baixo
Mas eu não sei, eu não sei
Eis que tudo fica realmente sem sentido. A pergunta que não cala, quando
diante de uma existência você começa a ter opiniões controversas sobre o que é
a vida, o amor, a guerra...Qual a resposta disso quando você tá arriscado a
perder tudo isso e morrer?
Please tell me now what life is /
Please tell me now what love is / Well tell me now what war is / Again tell me
what life is
Por favor, me diga agora o que é a vida
Por favor, me diga agora o que é o amor
Ora, me diga agora o que é a guerra
De novo, me diga o que é a vida?
More pain and misery in the history of mankind/ Sometimes it seems more
like/ the blind leading the blind/ It brings upon us more famine, death and
war/ You know religion has a lot to answer for
Mais dor e miséria na história da humanidade
Às vezes mais parece
O
cego liderando os cegos
Isso nos traz mais fome, morte e guerra
Você sabe
que a religião tem muito a te responder?
Please tell
me now what life is/ Please tell me now what love is/ Well tell me now what war
is/ Again tell me what life is
Por favor, me diga agora o que é a vida
Por favor, me diga agora o que é o amor
Ora, me diga agora o que é a guerra
De novo, me diga o que é a vida?
Steve
parece tentar explicar quais são as consequências de um campo de batalha. Nâo
precisamos passar por lá para saber e imaginar como foi terrível para aqueles
seres humanos que derramaram sangue em troca de interesses na posse de terras e
orgulhos nacionalistas.
Quantas
dores físicas e mentais são geradas e algumas nunca curados nessas pessoas.
Seria melhor sobreviver com essa cicatriz de guerra ou ter morrido com os
outros? Eu não sei, eu não sei...
And as they search to find the bodies in the sand/ They find its ashes that are/Scattered across the land/And as the spirits seem to whistle in the wind
A shot is fired somewhere another war begins/And all because of it you'd think/That we would learn/But still the body count the city fires burn/Somewhere there's someone dying/In a foreign land/Meanwhile the world is crying stupidity of man/Tell me why, tell me why
E enquanto eles procuram pelos corpos na areia
Eles encontram suas cinzas, Espalhadas por toda a
terra
E enquanto os espíritos parecem assoviar ao vento,
Um tiro é disparado em algum
lugar, outra guerra começa,
E por causa disso tudo, você poderia pensar,
Que
aprenderíamos
Mas a contagem de corpos continua,
os fogos das cidades, queimam,
Em algum
lugar há alguém morrendo
Em uma terra estrangeira,
Enquanto isso o mundo chora a estupidez do homem,
O refrão repete duas vezes.
Eis que surge a grande frase que invoca aquilo que supostamente
justifica tudo aquilo que incita civis ao mundo militar, pessoas comuns ao
ideal do interesse divino, pessoas comuns justificarem assassinatos, pessoas
cansadas aceitarem suas feridas....
Tudo em nome de Deus, pelo amor de Deus. Ou Para o Grande Benefício de
Deus...
For The Greater Good Of
God
Pelo grande benefício de Deus
As guitarras de Adrian, Dave e Janick parecem
enlouquecer essa hora. Pode se ouvir na imaginação, todas aquele gritos e vidas que dormem e acordam somente em seus
pesadelos. Vidas que desaparecem tornando-se corpos esquecidos.
A libertação que só acontece com a
morte, porque alguém do outro lado vai lhe dar qualquer coisa maior do que
aquela realidade cruel e infeliz. Seria o mito da vida após a morte? Seria o
que justifica tantos sírios e membros da AlQaeda matarem inocentes no Oriente
Médio? (ambiente onde surgiu o Cristianismo e único lugar do planeta onde nunca
deixou de ter guerras?) ou será mesmo só a lembrança das Grandes Guerras?
A canção parece se calar diante do
último suspiro. Estamos de joelhos...
He gave his life for us he fell upon the cross/To die for all of those who never mourn His loss/It wasn't meant for us to feel the pain again/
Tell my why, tell me why
Tell my why, tell me why
Ele deu sua vida por nós, Ele caiu perante a cruz
Para morrer por todos aqueles que nunca lamentaram sua perda
Não foi destinado a nós, sentir a dor novamente
Me diga o por que, me diga o porque
Harris encerra realmente em caráter questionador. Estamos mesmo
condenados à gratidão ao Deus ou a Cristo, e ao seu martírio por nós?
Voltei os olhos para minha mãe e perdoei seu posicionamento sobre aquilo
que para a maioria de nós é a pior coisa que a humanidade foi capaz de fazer,
pois a forma como muitos foram educados à acreditar (como ela) é que havia sim
um motivo para lutar, seja pela honra de voltar com vida ou pela morte para
encontrar à Deus, mas o que realmente acontece é que a dor e a destruição não
tem graça nenhuma e ninguém quer ir pra guerra, nem voltar dela cheia de
medalhas e alma em pedaços, muito menos morrer. Mas isso é ponto de vista...E
pode ser que há vidas que se justifiquem melhor na cia do Bem de “Deus” do que
aqui entre nós. Talvez seja isso...Algumas coisas não terão resposta...
Excelente matéria!
ResponderExcluirNossa que texto, parabéns
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