O dicionário descreve um polímata como “aquele que detém um grande conhecimento em diversos assuntos.” Não há definição melhor para o britânico Bruce Dickinson, de 65 anos. Consagrou-se como vocalista do Iron Maiden, uma das maiores bandas de rock de todos os tempos. Desde os anos 1980 viaja o mundo em turnês pelos quatro cantos do planeta, com uma pequena diferença: é ele mesmo quem pilota o Boeing 757 em que a banda viaja. Como se isso não bastasse, Dickinson é historiador, palestrante, autor de livros e esgrimista — foi convidado para integrar a seleção olímpica da Inglaterra, mas recusou porque não teria tempo hábil para treinar. Enquanto o Iron Maiden não chega ao Brasil — a banda se apresenta em São Paulo em 6 de dezembro como parte da turnê Future Past —, o vocalista lança The Mandrake Project, álbum solo que vem acompanhado por uma graphic novel. A trama, claro, foi criada por ele.
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Nos anos 1980, o rock britânico passou por uma revolução
marcada pela rebeldia. Hoje parece que o estilo perdeu a capacidade de
indignação e virou algo quase corporativo, voltado para gente mais
velha. O que acha disso?
A música é um reflexo da sociedade, um fenômeno social. Mas a verdade é que os artistas não têm muito controle sobre isso. Ninguém vira músico porque quer fazer sociologia, mas porque quer curtir um estilo de vida rock and roll.
O que acontece é que muitas bandas se tornam instituições ao longo dos
anos e isso as torna conservadoras, de alguma forma. Digo isso com
respeito, ninguém espera que o AC/DC saia por aí tocando música
folclórica e acompanhado por um naipe de metais. As pessoas ficariam
chocadas, seriam contra. Seria o fim do grupo.
É o preço para ter uma carreira bem-sucedida?
Sim, porque quem alcança o sucesso fica mais rígido, porque as pessoas não gostam quando as coisas mudam demais. De certa forma, você se torna um fóssil.
Não torço para nenhum time de futebol, mas conheço muita gente que
torce. Se algo radical mexe com o time é como o fim do mundo. Gosto de
mudanças na área da criatividade. Algumas bandas podem parecer
conservadoras, mas não é culpa delas. Essa escolha, na verdade, é feita
pelo público.
Seu novo álbum solo, O Projeto Mandrake, ganhou um
complemento que vai além da música. Por que lançar uma história em
quadrinhos, uma graphic novel?
Quero enfatizar que o álbum e a graphic novel são coisas independentes.
Há uma relação, mas a história em quadrinhos é separada do disco. Já
pensava em fazer isso anos atrás, porque acho que quadrinhos e rock
pesado combinam muito bem. Ambos sabem fazer narrativas fantásticas e
visuais. Teria sido melhor fazer filme? Claro que sim, mas eles não
crescem em árvores, seria um investimento bem mais alto. Além disso, o
HQ pode levar ao filme, porque já estamos a meio caminho de um
storyboard, que é a base da produção audiovisual. Para finalizar, confio
muito no trabalho dessa equipe, já trabalhamos juntos antes.
O novo álbum também apresenta um estilo distante do que os
fãs estão acostumados. Qual é a diferença do processo criativo de compor
para sua carreira solo, mais rock, e para o Iron Maiden, que é heavy
metal?
Optei por fazer algo diferente. O Iron Maiden tem um som único e marcante, mas não é tão aberto.
Há limites silenciosos, ou seja, sabemos quando uma determinada canção
não é adequada para entrar em um disco da banda. Com minha carreira solo
é mais livre, tento explorar maneiras e ideias fora do comum, inclusive
na minha forma de cantar.
A carreira solo é uma forma de ter controle criativo total, enquanto no Iron Maiden há outros parceiros?
É como colocar uma foto em uma moldura diferente. A imagem está lá, mas passa uma percepção diferente.
A música “Ressurection Men”, por exemplo, parece uma trilha de
spaghetti western, uma coisa meio Tarantino. Outra canção tem como
referência bandas mais novas, como o Queens of the Stone Age. Trabalhar
assim é bom porque posso abordar cada música de uma maneira diferente.
Por isso ele é tão variado e não soa como meus trabalhos anteriores.
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