Por Eduardo para o Lendário Minuto HM - https://minutohm.com/2023/02/04/cobertura-minuto-hm-paul-dianno-em-sp-live-blogging-com-comentarios-resenha/
Após um hiato de quase 8 anos sem shows pelo Brasil, o praticamente brasileiro e corinthiano Paul Andrews está de volta com talvez a maior turnê da história (de todos os tempos!) de um artista gringo por nossas terras: surreais 31 shows por todos os cantos desse país de dimensões continentais, contado com músicos do Noturnall e Electric Gypsy, que também fazem a abertura dos shows com repertório próprio e alguns covers como de AC/DC e (do melhor) Sabbath (com Dio).
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Bom, nesta altura do campeonato, todos sabem da verdadeira saga de Paul Di’Anno com seu estado de saúde geral. Longe também de ser um santo em todos os aspectos da vida – nunca foi, nunca será – Paul passou por situações que o fizeram inclusive anunciar (considerar?) aposentar-se em definitivo dos palcos. Problemas de saúde em geral, diabético, fumante e com noites que a bebida não ajuda em nada (Steve Harris levantou as sobrancelhas lendo isso, “espantado”). Suas pernas, em especial os joelhos, marcam o drama especialmente nos últimos anos. Após muitos anos nesta luta, Paul finalmente “entrou na faça” com um médico fã de Iron Maiden na Europa e começou seu processo de fisioterapia e recuperação nos últimos meses. Fato é – ele está longe de estar recuperado, continua dependendo da cadeira de rodas e contando com uma verdadeira “rede de apoio” para se locomover e subir nos palcos. O ônibus da tour também está adaptado para ajudar na situação em geral.
A tour, que começou na cidade de Fortaleza e pelo que se vê, foi um total fiasco, seguiu, teve shows mais “aceitáveis” em termos de qualidade pelo que li e hoje chega ao que Paul considera hoje sua casa: São Paulo.
A “The Beast Ressurection” prometia uma homenagem com as músicas dos dois primeiros álbuns do Iron Maiden sendo executados na íntegra. O que se viu, entretanto e até agora, foi um corte e costura dessa informação, com várias músicas limadas e sets curtos. Para mim, a dor de saber que Paul pediu para não executar Strange World – a considero uma das melhoras músicas desta fase, se não for a melhor. Até mesmo Iron Maiden não foi executada até o momento.
Paul está sem voz – não dá nem para dizer “vamos dar uma força” – e em condição geral que muitos não fariam o que ele está fazendo. Arrisco dizer que Paul está fazendo isso no Brasil pois nossa tolerância e idolatria latina fazem o show funcionar – não sei se na Europa ou EUA, por exemplo, quem paga ingresso teria paciência com uma performance longe do mínimo esperado para um show. E vendo alguns vídeos dos shows desta semana, ele mesmo admite isso (não que precisasse). Precisa de dinheiro? Mas é tão óbvio que nem precisamos falar disso. Mas se um aplauso é merecido a ele, é esta insistência em continuar se apresentando mesmo com tantas dificuldades.
O segundo aplauso é pelo legado. Esse aplauso nunca vai parar. E é exatamente isso que espero fazer hoje a noite: celebrar o legado de dois álbuns fantásticos, que possuem músicas que fariam nós, fãs de Iron Maiden, dar um braço para ouvirmos de novo ao vivo no lugar de outras cansadas como Fear of the Dark – Prowler, Murders in the Rue Morgue, Killers, Charlotte the Harlot… ou lados “C” como Drifter e Purgatory… então, é torcer que a voz saia um pouco nesta noite, que entrem músicas ainda não executadas, que Running Free dure 20 minutos se for o caso com a galera cantando… e que o legado seja celebrado nesta que pode marcar sua última tour em grande escala.
Após uma passada para comer e pegar o esquecido alimento da entrada, pude presenciar a primeiro boa banda da noite, Electric Gypsy. Todos ótimos músicos, mas destaco o batera e o ótimo vocal. São 20h40 e agora a expetativa é pelo Noturnall. A parte do merchan também está caprichada, com itens do Noturnall, do Di’Anno e coisas em geral do Iron Maiden, inclusive livros específicos de álbuns.
A casa já está com ótimo movimento e tem muita gente ainda do lado de fora, o que pela experiência vejo que é um show lotado.
21h00: Noturnall no palco. Já na primeira música, problemas com o som, sem microfone, o que fez a banda literalmente ficar atrás das cortinas novamente e trouxe algumas vaias da galera. O problema foi rapidamente resolvido e a banda voltou com um set próprio de divulgação do novo álbum, e em torno de meia hora de show, mandou Thunderstruck, do AC/DC, agitando um pouco mais a galera.
22h45: enquanto todos aguardam o headliner, a pior PA da história com um monte de musiquinha água com açúcar recebe o “carinho” de todos ao DJ e sua família mais próxima :-). Realmente não dá para entender…
22h50: sobe ao palco, a pedido do Paul, o croata fã que ajudou (resolveu o tema) no financiamento das cirurgias de Paul. Traz todo o apoio falando em inglês enquanto o cara do Noturnall faz uma tradução rápida ali, mas desiste dado que o “público esta entendendo”. O croata dá um show de simpatia apesar de demonstrar nervosismo em estar ali (mais do que normal) em seu breve discurso de apoio a Paul como fã e agora amigo, e pede solidariedade de todos inclusive na compra do merchan – que inclusive tinha coisa dele ali. Deixa o palco sob merecidos aplausos.
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RESENHA
Mesmo sendo fã, tentarei ser o mais imparcial aqui… vai doer aos mais fanáticos talvez, mas vamos em frente.
22h58: início do show com The Ides of March – aliás, Iron Maiden, não está na hora de deixar Doctor Doctor descansar com tantas boas opções próprias de abertura de show como esta? Paul então aparece no palco na cadeira de rodas para ver uma casa lotada, nitidamente incomodado com o calor que fazia que realmente não parece interessada em resolver este problema de mais de década. Wrathchild é a escolhida e surpreendendo provavelmente a ninguém por ali que minimamente está acompanhando o que vem acontecendo, Paul está sem voz. E aqui não é algo “normal” – é algo que realmente não dá para se fazer um show pago, em uma análise fria e sem deixar a emoção de fã.
A banda emenda Sanctuary e duas “lado C” do Iron Maiden – Purgatory e Drifter – e já dá para tirar diversas conclusões: além da questão da voz e de deixar a galera literalmente assumir os vocais em mais da metade do tempo, Paul começa a falar entre as músicas da situação. No começo, sim, ok, tem mesmo que falar, mas Paul fez isso praticamente em todas as transições, o que ficou cansativo, repetitivo e chato. Paul também reclamou que veio da Europa gelada para cair em Fortaleza e no calor brasileiro, reclamou de alergia, enfim, reclamações e pedidos de desculpas não faltaram. Em determinado momento do show, Paul chegou a comentar que pretende fazer “free concerts” e se entendi, ainda este ano (oh my) pelo Brasil e em São Paulo…
Já a banda foi composta de músicos muito talentosos e competentes, mas que tocaram as músicas de maneira bastante acelerada, o que claro não ajudava em nada o “vocalista” da noite. Além disso, muitos erros de execução foram observados, o que mostra que a banda ainda não achou “o ponto” para tocar o barco de maneira a ganhar uma nota acima de 8. Digo isso e penso nas diversas bandas cover e tributo de Iron Maiden que temos no país, e que talvez “ganhariam a vida” em ter uma oportunidade como esta.
A banda tocou mais em estilo “power metal”, se é que posso dizer isso, muito liderada pelo ótimo baterista que estava a mil por hora, mas que usou muito bumbo duplo onde não precisava, e deixou de fazer detalhes de Clive que são muito característicos das músicas destes dois primeiros álbuns, especialmente no contra-tempo e uso dos tom-tons. Para piorar, a equalização do som, propositalmente ou não, dava muito ênfase à própria e as guitarras por muitas vezes davam microfonia de tão altas, com um baixo lá trás e o microfone, esse sim claramente baixo e por razões mais do óbvias…
Murders in the Rue Morgue foi executada de maneira aceleradíssima, emendando com Remember Tomorrow, filmada após alguns segundos de seu início até o fim para avaliação de todos, e a considero a melhor da noite. Se essa foi a melhor da noite, espero poder explicar indiretamente o que foi o resto…
Primeiro descanso de voz com a belíssima instrumental Genghis Khan onde Paul acende um cigarro e dá uns pegas rápidos. Olha, aqui o assunto é mais polêmico ainda e não quero ser o dono da razão, e entendo o espírito do rock and roll e tudo mais, bla-bla-bla, mas po@#$, já não tá cantando porr# nenhuma, e acende um cigarro? Não dá para esperar mais meia hora sem fumar? Isso sem contar que como diria o Rei, “é proibido fumar” em estabelecimentos fechados por aqui, não? Enfim, o cara não se ajuda mesmo e aí fica uma reflexão a quem pagou ingresso para isso…
Killers, outra marca da época, foi executada com a mais famosa garota do leste londrino seguindo. Transylvania foi bem executada pela banda, e uma rápida e praticamente sem interação com o público Running Free seguiu. Aqui uma grande oportunidade perdida da banda em interagir com o público um pouco, nem que fosse prolongar o som em mais UM verso que seja.
Prowler seguiu bem mal cantada e executada e Paul claramente dava sinais de desespero, de querer sair do palco, com calor, mal mesmo. Veio, então, a talvez única “surpresa” da noite com a banda finalmente convencendo Paul a fazerem Iron Maiden. Um dos guitarristas colocou uma máscara de Eddie para brincar. Antes da metade da música, a equipe de apoio buscou Paul e o levou para a saída do palco, bem na lateral, fazendo com quem estivesse do lado esquerdo do palco mal conseguisse vê-lo e causando uma sensação terrível de final de show. A própria banda claramente se entreolhava e mal sabia se ele voltaria depois da metade da música a cantar. Veio o baixo, o tan-dan-dan-tan…. as guitarras chamando retornando ao riff principal, e Paul não cantou (ou pelo menos não consegui ouvir). Depois ele cantou o final da música e desapareceu, as cortinas se fecharam, nem um “tchau” ou “thank you” rolou. Uma coisa medonha. E para quem gosta de Strange World como eu, bom, recomendo buscar o vinil, k7, CD, streaming, YouTube, o que for mais conveniente, porque ao vivo, foi limada, para desespero deste humilde fã da música.
Bom, salvo raríssimos momentos aos quais a voz de Paul foi ouvida e pudemos remeter a algum momento do passado, como talvez em Phantom of the Opera, a coisa não podia ter sido mais burocrática. Paul mesmo disse que preferia fazer isso a ter que cancelar shows, o que leva a zilhares de perguntas, é claro, a principal sendo sobre essa verdadeira maratona de mais de 30 shows pelo país de ônibus, quase sem intervalo, como se ele estivesse de novo com 20 anos de idade. Dinheiro, dinheiro, dinheiro, não há outra explicação que não seja essa. Uma noite de celebração de um legado marcante do heavy metal, desta banda que amamos, de um público apaixonado que encheu a casa e tolerou tudo da melhor forma possível, incentivando e aplaudindo algo que qualquer banda cover de Iron Maiden faria melhor, sinceramente.
Ao Paul, creio que nos despedimos por aqui. Muito obrigado pelo legado de 2 álbuns que mereciam muito mais do próprio Iron Maiden hoje em dia. Nunca vou esquecer do nosso papo em 2010 e em outras ocasiões que pude conversar rapidamente contigo. Um cara de atitude, com o f#$# ligado, mas que em termos de carreira, bom, é preciso primeiro olhar para a saúde e não apressar as coisas. Agora, se é dinheiro a questão, e sabemos que é, realmente é triste ver um cara destes chegar a este ponto (e os royalties, hein?). Enfim, desejo melhoras a ele, muita saúde (ele podia se ajudar um pouco mais com o tema da bebida e cigarro, mas Steve Harris já sabia, então quem sou eu para em 2023 falar algo aqui?).
Verdade seja dita: cantei muito e até perdi minha voz. As músicas são ótimas. Pude me divertir pois falado tudo do acima que era esperado, minha expectativa estava no ponto certo. Então, é isso aí…
Na saída do Carioca Club, ainda pude encontrar o croata que estava por ali assinando livros. Conversei com ele rapidamente agradecendo pelo esforço e altruísmo de fã. Cara legal mesmo.
[ ] ‘ s,
Eduardo
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