Por Rubens Rodrigues
Para o Blog Entrelinhas O Povo.
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Numa noite de sons pesados, os gigantes do metal fizeram uma apresentação memorável no Castelão, que ainda recebeu o Anthrax e The Raven Age
Alguns encontros são únicos. A sinergia de uma banda como o Iron Maiden
com a de um público sedento pela Donzela, como o cearense, fez a noite
do dia 24 de 2016 de março entrar na história. O repertório enxuto de
canções do recente The Book of Souls (2015) e os clássicos que redefiniram o heavy metal
foi acertado para a melhor formação do grupo britânico. Ouvir o som de
Doctor Doctor, do UFO, ecoar na Arena Castelão como anúncio do que
estava por vir era ter ciência de que a espera valeu a pena e o sonho
estava se realizando.
A apresentação iniciou-se com If Eternity Should Fail,
canção que também abre “o livro das almas”. Digna de entrar para a
lista de hinos do grupo, a música situa o público nas referências das
civilizações Maia e Asteca, que inspiraram o último trabalho de estúdio.
O timbre marcante de Bruce Dickinson dava o recado: ali estava a alma de um homem, como diz o verso da canção, dando início ao ritual.
Seguida por Speed of Light,
a performance do Maiden deixou claro a qualidade de uma banda que, se
não entrega álbuns clássicos como nos anos 80, fez um dos trabalhos mais
sólidos da carreira. Do disco duplo lançado em setembro do ano passado,
eles também apresentaram Tears of a Clown, homenagem ao ator Robin Williams, morto em 2014, The Red and the Black e Death Or Glory.
Todas com elementos que fazem o Iron ser o que é – letras que flertam
com a ciência, a história e se aprofundam na complexidade do
comportamento humano.
Quem conhece a Donzela sabe que eles não
são de surpresas, e o que os fãs da banda gostam de ver é justamente
essa sequência de obras memoráveis. Sucessos que consagraram o grupo,
como Children of the Damned e Hallowed Be Thy Name do álbum The Number of the Beast (1982), Powerslave (1984) e Fear of The Dark (1992) foram celebrados. The Trooper, do disco Piece of Mind
(1983), rendeu o momento mais icônico da noite. Dickinson em trajes de
soldado britânico empunhando a bandeira da Inglaterra enquanto detalha a
morte de um soldado na Guerra da Crimeia é daqueles momentos essenciais
à narrativa do espetáculo.
Mais de 12 toneladas de estrutura marcam a
experiência. Além do cenário que remonta o universo explorado nos
discos, a participação do mascote Eddie, tradição desde as primeiras
turnês, é o diferencial. O monstro humanoide aparece pela primeira vez
em The Book Of Souls. O ápice da performance se dá quando Bruce arranca o
coração e o joga para o público. Em Iron Maiden, do álbum de estreia
(1980), o personagem surge ao fundo como um gigante que observa a todos
de cima. The Number of the Beast, Blood Brothers, do álbum Brave New World (2000) e Wasted Years, de Somewhere in Time (1986), foram as peças escolhidas para o último ato.
O Iron Maiden conta histórias costurando
as memórias de quem acompanhava os voos da águia como quem cultivou um
amor quase platônico. E olhe que só esperei um terço do que os fãs das
antigas tiveram que aguardar. Viver para os lados de cá representava
incerteza de realizar (sonhos) encontros como este, mas a Donzela ganhou
uma Fortaleza que permanece de portas abertas. Volte logo, Iron Maiden.
E obrigado.
* Texto publicado originalmente no Vida & Arte, do Jornal O POVO.
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