Adrian Smith: Sobre o processo de gravação diz; "Dave fez em 20 minutos, vou fazer minha parte em 15 min!"


Adrian Smith concedeu uma entrevista para o portal Musicradar.  Dentre os assuntos abordados, estão os processos de gravação do novo álbum, The Book of Souls, e um pouco de sua trajetória como músico. Acompanhem:

01. O quanto o processo de criação e gravação do novo disco foi diferente e como você se prepara para uma jornada como essa?

A.S: Eu estava muito bem preparado. Comecei a me preparar um mês antes, antes de entrarmos em estúdio ou até antes, porque nos encontamos antes disso. Normalmente, nós não fazemos isso, foi uma exceção dessa vez. O que costumamos fazer é nos encontrarmos cerca de duas semanas antes da gravação e ai fazemos em média uma música por dia ou acertamos as músicas que já estejam prontas. Mas dessa vez cada um levou um material bem mais cru. Eu levei umas dez ou doze ideias e os outros caras também tinham bastante material.

02. O disco que marcou sua volta à banda, Brave New World (2000), foi gravado no mesmo estúdio em que vocês fizeram The Book of Souls, o Guillaume Tell Studios. Esse lugar traz boas lembranças a você?

A.S: Sim, sem dúvida. Quando cheguei lá, fiquei feliz e surpreso, porque o lugar não mudou praticamente nada. Até o carpete das escadas que levam à sala de gravação era o mesmo. E o clima geral era ótimo. Um de nossos discos com melhor sonoridade é Brave New World e alguém, sem saber que ele foi gravado lá, comentou que The Book of Souls soava similar. Fiquei muito feliz com a produção dele. Às vezes, acho alguns de nossos discos meio crus demais, isso me incomoda um pouco. Mas esse tem um equilibrio perfeito entre aquele som "ao vivo" e o som mais polido. Porém, o mais estranho de tudo foi nos darmos conta de que fazia quinze anos que havíamos estado lá. Parecia que tinham sido cinco, é assustador ver como o tempo passa depressa.

03. Há cinco compositores na banda. Isso significa que compor para o Iron Maiden é um desafio ainda maior?

A.S: Acho que hoje é um processo mais democrático. Lá nos 80's, Steve vinha com uma quatro ou cinco músicas prontas, mas hoje ele está mais preocupado em produzir, arranjar, escrever letras e criar linhas melódicas. Ele quis ouvir as ideias que eu tinha, já que normalmente levo um produto mais acabado. Pediu-me para tocar o que eu tinha em mente e veio com uma linha de voz na sequência. Gravamos na hora para não esquecer, depois acabamos mudando um pouco. Mas normalmente o que ele faz de primeira já vale, porque sempre é muito bom. Ele também um monte de ideias de letras, então tem feito muitas nos últimos anos - bem, quando eu falo últimos anos eu quero dizer desde minha volta à banda., há quase vinte anos. Dessa vez, também fiz coisas com Bruce. Já havíamos escrito antes , como 2 Minutes To Midnight e Can I Play With Madness, mas ainda não tínhamos repetido isso desde que voltei ao Iron. Não, nós fizemos The Wicker Man (de Brave New World). Mas dessa vez foi diferente. Nós nos encontramos antes das gravações e escrevemos Speed of Light e Death Or Glory.

04. Você começou a desenvolver um estilo mais progressivo e até mesmo sombrio desde que voltou à banda. Você conscientemente resolveu voltar a fazer algo mais direto e pesado, já que suas composições soam como decisivas para o equilibrio do disco?

A.S: Acho que tínhamos umas duas ou três músicas mais curtas e diretas, umas duas mais longas e parecia que ia ser o disco mais despojado. Mas, como deu para notar, não foi o que acabou acontecendo. Na verdade, ele virou o oposto disso. Mas é o que você disse, as músicas mais curtas acabaram dando um equilibrio ao disco. E as duas que escrevi com Steve são grandes também, ou seja, tem um pouco de tudo lá.

05. A faixa The Great Unknown deixa bem claro quais são os estilos de Steve e seu. Como surgiu essa música?

A.S: Eu estava brincando com a guitarra com afinação aberta em ré. Essa afinação permite você criar coisas interessantes e ainda fazer solos. Eu já cheguei a usar essa afinação num solo, só não me lembro em que música foi...(risos). Soa meio diferente, mas funciona. E The Great Unknown surgiu através de um riff com essa afinação. É o detalhe diferente do disco.

06. A impressão que se tem é que você está dando novos rumos instrumentais à banda desde que você voltou.

A.S: Sim. Acho que no último disco, The Final Frontier (2010), fiz isso de maneira mais evidente. E o pessoal não mostrou a resistência que eu imaginava que ia haver quando apresentei as músicas. Mas não era uma coisa tão progressiva como as músicas do Dream Theater, por exemplo. Digamos que peguei o lado mais direto do Prog.

07. Como você faz para levar novas ideias e ainda satisfazer as expectativas da banda?

A.S: Steve Harris me surpreende o tempo todo. A primeira vez foi quando fizemos Wasted Years. Eu tinha registrado essa música num gravador de quatro canais e estava mostrando uma outra ideia a Steve quando sem querer coloquei Wasted Years para tocar. Na hora ele perguntou: 'O que é isso?' Eu disse: 'Algo que você provavelmente não vai gostar, é muito comercial.' Mas ele não somente gostou como insistiu que gravássemos. então, ás vezes algo que você pensa que não vai funcionar, acaba funcionando. E eu gosto de ver cada um de nós fazendo coisas diferentes. Naturalmente, não dá pra fazer nada de muito drástico ou radical, então normalmente funciona.

08. Já Speed of Light soa como uma prova de sua admiração por Thin Lizzy, até pelo acento meio celta.

A.S: Aquela é uma escala com a qual já vinha trabalhando há algum tempo. Eu redescobri as pentatônicas e vinha ouvindo vários excelentes músicos que trabalham com ela. como Eric Johnson, por exemplo. Se você a usa do jeito certo, tem tudo para conseguir um excelente resultado, algo assim 'direto ao ponto'. Então, acabei descobrindo uma variação desse padrão e tirei aquele riff dali. ficou algo bem grudento. Não é o riff principal da música, mas o que é tocado na ponte.

09. Quando você, Dave e Janick estão gravando os solos, cada um de vocês já sabe como são os solos que os outros vão gravar?

A.S: Depende. Normalmente, Kevin (Shirley, produtor do disco, juntamente com Steve Harris) não mostra para nós. Nós chegamos lá  e ele diz 'pode tocar' e é isso. mas pode acontecer de eu aparecer no estúdio exatamente quando, por exemplo, Dave está gravando. Ai, vinte minutos depois me chamam porque ele já acabou: Olho no relógio e penso: 'Dave fez em vinte minutos, eu fou fazer minha parte em quinze!' Acaba acontecendo esse pequeno tipo de competição, o que confesso que não sei se é uma coisa totalmente positiva. mas é assim que acontece. Antigamente, a gente costumava se reunir e acabávamos sendo muito criativo nos solos. Fizemos isso durante décadas. Mas eram outros tempos. Eu ainda estou plugando a guitarra e ele já está lá, esperando por mim! Então, é muito um esquema a toque de caixa. Ás vezes, rola até uma briga, já que quero experimentar mais de um amplificador ou fazer algumas experiências antes de sair gravando. Então tenho que falar para ele esperar e surge algum bate boca por conta disso. Mas normalmente tudo flui bem.

10. Pelo que você está dizendo, parece que o improviso é a marca registrada dos solos de vocês.

A.S: Prefiro dizer que é algo mais ligado à performance. Então meus solos são realmente muito espontâneos. Lógico que já venho com uma ou duas ideias centrais para cada solo e ai crio algo na hora para preencher o espaço entre esses temas. Mas, repito, os solos de antigamente eram melhores. O quanto mais você fica trabalhando em cima deles, melhores eles ficam. Se trabalha menos, acaba sendo menos efetivo.

11. Você era mais metódico com seus solos antigamente?

A.S: Acho que sim, mas também não tinha tanta confiança em mim mesmo como tenho hoje. No meu início na música, eu era um vocalista que também tocava, fazia um solo aqui e outro ali. Eu não me considerava um solista até que entrei no Iron e tive que fazer todos esses solos. Não tive treinamento pra isso, nem um professor. Não havia Youtube naqueles tempos, então não dava pra ver o que as pessoas estavam fazendo, você tinha que se virar e fazer o melhor que pudesse. Nos últimos dez ou quinze anos, estudei bastante e me tornei muito mais seguro tecnicamente. Estudei a parte técnica e treinei muito. Isso me tornou muito mais confiante no estúdio e hoje não preciso mais fixar escrevendo um solo nota por nota.

12. Onde você grava as ideias que tem para as músicas ou solos?

A.S: Eu costumo gravar minhas ideias musicais no celular. Tenho um monte de ideias e riffs lá. E quando fizemos a tour pelos Estados Unidos foi aquela correria habitual, já que são muitos shows com intervalos pequenos entre si. A gente sai do palco, entra na van, chega no aeroporto e já entra num avião. É uma loucura. E numa dessas correrias acabei perdendo o celular. E ele estava cheio de ideias. Eu não uso senha no aparelho, então, qualquer um que o achasse ia me ver de cuecas sentado na cama de um hotel tocando guitarra e cantando alguma coisa...Mas um dia recebi a mensagem de um cara que tinha achado o telefone e o devolveu para mim. Disse que era fã da banda e que tinha adorado minhas performances filmadas lá! Obviamente eu agradeci muito e mandei um monte de brindes da banda pra ele! (risos)

13. Mas essas ideias que você diz que já traz prontas são as partes mais grudentas dos seus solos? Pergunto isso porque sempre há uma espécie de marca registrada neles...

A.S: Sim. Não me considero um virtuoso que consegue coisas incriveis graças à habilidade. Mas tenho o que poderia chamar  de uma cabeça musical. No começo eu mais cantava do que tocava, como já disse, ou seja, tenho um bom senso melódico. Então tentei transferir isso para minha guitarra. Eu ouço jovens guitarristas que tem uma técnica absurda, mas que aparentemente, não tem a menor noção de melodia. Se eles tivessem umm lampejo disso seria muito melhor.

14. Então você diria que suas raízes como vocalista continuam a inspirá-lo como compositor?

A.S: Acho que isso ajudou a forjar meu estilo. Até os 23 anos, eu cantava e tocava. Era uma coisa quase de blues. Eu curtia muito aquela turma que é chamada de de 'segunda geração do Blues': Pat Travers, Johnny Winter, Gary Moore e obviamente Scott Gorham e Brian Robertson, do Thin Lizzy. Eu ouvia muito mais Blues do que Metal, apesar de adorar Ritchie Blackmore. então, foi isso que moldou meu estilo. Acho que é dai que vem meu rítmo. Uma vez que uma pessoa aprende a se expressar, é assim que ela vai tocar pelo resto da vida.


Fonte: http://www.musicradar.com/news/guitars/adrian-smith-on-iron-maidens-new-album-the-book-of-souls-627665

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