[Pt de Vista] - Predestinação e discos perfeitos

Por Anderson Frota


Não vou chegar aqui e dizer que o Iron Maiden é a maior banda de heavy metal, a melhor ou qualquer outro termo superlativo que tanto gostam de usar para fazer menção ao grupo. Isso não importa. O que eu me sinto confortável e seguro pra falar é que, provavelmente, o estilo não teria a popularidade que tem, a quantidade de seguidores que existem, se não fosse pela obra desses ingleses. E isso não foi alcançado por recursos mundanos como comercialismo barato ou músicas de fácil assimilação. Deve-se, sim, a fatores como seriedade, talento, qualidade, carisma, perseverança, suor, empresariamento, marketing e muito amor pelo que faz. O Iron Maiden literalmente dominou o mundo e, pela sua exposição, é tido como a principal entre o levante de bandas que surgiram na Inglaterra no início dos anos 80. O que não é pouca coisa, visto o nível de suas contemporâneas. Mesmo entre essas, porém, o Maiden se destacava. Era um pouco diferente, tinha uma aura especial, uma predestinação.

Reconheço que, mesmo me esforçando para ser neutro, estou soando passional demais. Mas é porque estou tentando – enquanto escrevo – traduzir em palavras o que faz o Maiden ser o fenômeno que é. Tentando explicar porque ele gera essa sensação em tantos fãs de metal, sendo que uma boa parte tornou-se fã do estilo por intermédio deles. Mas é uma tarefa fracassada, pois não sei como justificar a paixão em meras expressões textuais. Pergunte ao sujeito que está assistindo o show em local distante do palco, lá na arquibancada, e ainda assim se emociona e enche os olhos de lágrimas. Mas pergunte apenas caso você não seja fã da banda porque, se for, a pergunta é desnecessária.
A conquista do universo começou já em seu primeiro álbum autointitulado. Ao ouvir o chamativo efeito no som da guitarra de Prowler, você já está fisgado e imediatamente se distrai de qualquer outra coisa que esteja fazendo. Uma introdução marcante, sem dúvida. Na sequência, Remember Tomorrow, uma canção tão cativante, tão épica, que por pouco você não nota a influência fortíssima de Judas Priest nela. Os climas vão se intercalando para a inconfundível entrada de bateria de Running Free. Clássico indiscutível. Um andamento marcial ritmado tão forte, que faz com que você agite tanto quanto se estivesse sob o efeito da velocidade de outro clássico do disco, a faixa-título Iron Maiden.

A instrumental Transylvania deixa perceber com mais clareza o desempenho excepcional das guitarras da banda. Uma mescla do que eles aprenderam com UFO, Thin Lizzy, Wishbone Ash e Judas Priest. È sabido que Dennis Stratton, o guitarrista que fazia dupla com Dave Murray nesse disco, não era muito apreciador da proposta da banda, sendo fã de levadas mais suaves. Se ele executou as músicas do disco a contragosto, está duplamente de parabéns, pois não transparece qualquer indolência em sua forma de tocar. Não há também, obviamente, nenhuma ressalva ao trabalho do outro ex-membro, Paul Di’Anno. Muitíssimo pelo contrário: Essas músicas nasceram para a sua voz áspera e agressiva e a sua interpretação aqui jamais será superada. Paul é um vocalista brilhante e, infelizmente, por causa de sua porralouquice, por se esforçar tanto em autosabotar a própria carreira, nem sempre recebe o mérito merecido.

Não posso encerrar sem falar um pouco de Steve Harris. Mas eu não quero elogiar o trabalho dele falando de seu desempenho no contrabaixo, que já tinha aqui o seu timbre característico. Todo mundo já sabe sobre o seu domínio do instrumento. Quero elogiá-lo falando da canção Phantom of the Opera. Que tipo de ser humano compõe algo tão perfeito em seu disco de estréia??? Quanta inspiração é necessário para tanto??? Uma música brilhante que, em suas várias mudanças de andamento, faz alusão à paixão do baixista pelo rock progressivo, mas que, em sua levada, é o mais puro e perfeito heavy metal. As raízes do thrash metal e do metal melódico já se encontravam ali! Phantom é o ponto mais alto de um disco repleto deles!

Iron Maiden, a banda, é um dos principais galhos da árvore genealógica do heavy metal e aqueles fãs, a que me referi no início, formaram suas próprias bandas e cuidaram de espalhar os galhos entre as mais diversas vertentes, passando pelo prog, pelo death e pelos já citados thrash e melódico. O Iron, tal qual as demais principais bandas do estilo, eternizou-se em sua própria obra e na obra de seus seguidores.O primeiro disco foi como o primeiro capítulo de um bom livro, que já lhe prende logo e faz com que você não largue enquanto não lê até o final. É muito comum bandas falarem sobre o desafio do segundo disco, mas para o Maiden isso não foi problema, pois eles conseguiram ser ainda mais matadores...

Agradecimentos: Everaldo "Smell" Albuquerque

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