Por Bruno Nogueira para o http://www.quarentaedois.blog.br
Matéria publicada na City Lab (e foto maravilhosa da Quartz), sobre como o Heavy Metal pode servir de parâmetro para o desenvolvimento econômico de um país. A partir de um mapa de distribuição de bandas de Heavy Metal a cada 100.000 habitantes, Richard Florida (diretor do Instituto Martin Prosperity da Universidade de Toronto e professor da New York University) traça uma relação entre o desenvolvimento social de um país e o surgimento de headbangers e bandas de metal.
Fiz a tradução do texto abaixo:
Estilos de música popular estão geralmente conectados a situação social onde eles começaram. O rock’n’roll cresceu rapidamente nas cidades norte-americanas após a grande migração e a segunda guerra mundial, quando negros de zonas rurais trouxeram o jazz e o blues para essas cidades. Décadas mais tarde, as cidades em crise econômica do interior da América da década de 1980 ajudou a moldar o rap e o hip hop como conhecemos hoje.
Então o Heavy Metal seria um caso estranho. A música brotou originalmente de crianças da classe-trabalhadora em cidades economicamente devastadas e sem indústria, como Birmingham, na Inglaterra. Ainda hoje, é um gênero musical que parece continuar sendo mais popular entre jovens em desvantagem econômica e dessa mesma classe-trabalhadora.
Mas dê uma olhada neste mapa, sobre o qual escrevi dois anos atrás e sobre o qual vinha pensando nos últimos meses. Ele rastreia o número de bandas de Heavy Metal a cada 100.000 residentes de um país utilizando dados da Encyclopaedia Metallum. O gênero tem menos influência nos lugares pós-industriais devastadas de seu nascimento, mas continua a ser incrivelmente popular nos países escandinavos conhecidos por sua riqueza relativa, robustas redes de segurança social e incrivelmente alta qualidade de vida.
Quando eu escrevi sobre este mapa em 2012, os comentários tinham diversos tipos de explicação sobre porque o Heavy Metal se espalhou tão intensamente. A emoção obscura do metal, alguns disseram, refletiu nos longos e frios invernos do norte da Europa. A fúria da musica e a violência de algumas de suas letras se conectam ao passado pagão da Escandinávia, com a história do povo Viking. Um leitor sugeriu ainda que uma música cresce mundialmente a partir de sua relação com altos níveis de alcoolismo.
De fato, um artigo que já tem mais de uma década de Mak Ames “Black Metal Nation: What do Norwegian Dirtheads and Richard Perle Have in Common?” sugere que o Heavy Metal pode ser a identidade adolescente que está fervendo sob a fachada aparentemente complacente do norte da Europa. “A Noruega”, ele escreveu, “não é apenas uma sociedade completamente sem graça… mas… uma sociedade que é profundamente opressiva e, ao mesmo tempo, democrática em um caminho de piedade social”. Os headbangers experimentam esse tédio, ele especulava, como um “sofrimento real”. Seguindo esta lógica, o metal seria então o produto de sociedades ricas. Uma reação contracultural para os privilegiados.
Pensei que seria divertido escavar mais profundamente na economia e nos fatores sociais associados com a popularidade do heavy metal nas mais diversas nações. Não sou um headbanger, mas sou a um bom tempo fã do Black Sabbath. Eles foram a primeira banda de rock que eu vi ao vivo e eu cresci tocando “Iron Man” e “War Pigs” nas minhas bandas da escola.
Então com a ajuda de um amigo do colégio, Charlotta Mellander, eu examinei as conexões entre o Heavy Metal e diversos fatores econômicos e sociais dos países. O que nós descobrimos pode surpreender você. Mellander, que é sueco, atribui a inclinação escandinava ao Heavy Metal aos esforços do governo em exigir educação e formação musical obrigatória nas escolas. O que, por sua vez, geral uma geração de jovens que atingiam uma demanda técnica quase obrigatória ao Metal. (Algo que ajudou o país em atingir uma excelência no pop também). Como sempre, eu indico que a correlação não é igual a causalidade e aponta simplesmente para a associação entre variáveis
O que nós descobrimos é que o número de bandas de Heavy Metal em um determinado país está associado com sua riqueza e influência.
Ao nível do país, o número de bandas de heavy metal per capita está positivamente associada com a produção econômica per capita (0,71); nível de criatividade (0,71) e empreendedorismo (0,66); participação dos adultos que possuem diplomas universitários (0,68); bem como os níveis gerais de desenvolvimento humano (0,79), bem-estar e satisfação com a vida (0,60).
A moral da história? Apesar do Heavy Metal ser a música de escolha de um grupo específico de adolescentes, do sexo masculino, de uma classe-trabalhadora quase alienada, ele também tem grande popularidade nos lugares mais avançados, tolerantes e conhecidos por seu sistema educacional no mundo.
Por mais estranho que possa parecer, o Heavy Metal não surge da escoria envenenada pela alienação e desespero, mas sim da prosperidade pós-industrial. E isso faz sentido: enquanto novas formas musicais surgem de grupos marginalizados e desfavorecidos, é a parcela mais rica das sociedades onde estão os grandes grupos de mídia e entretenimento que conseguem propagar novos sons e novos gêneros musicais, assim como também são essas sociedades que tem os jovens mais ricos e com tempo livro para consumir esse tipo de música.