Iron Maiden: Discos Perfeitos - Killers


Por Anderson Frota.


Steve Harris é um sujeito muito sério. Seríssimo. Não joga palavras ao vento. No final de seu primeiro disco ele disse: O Iron Maiden vai pegar você. E pegou. Pegou com o impacto certeiro de um súbito golpe de machadinha. E quem duvidava que isso pudesse acontecer, resignou-se a observar de longe, escondido atrás de uma cortina...

A gente tende a querer ver a carreira da banda com os olhos de hoje, portanto vale lembrar que o Iron, na época de seu segundo disco, ainda era uma banda pequena, iniciante, que tocava em lugares apertados e fazia a abertura do show de outros artistas. Estava crescendo rapidamente, é claro, mas ainda era um grupo neófito na cena. Muito caminho havia para ser percorrido e, para se chegar até o topo, era necessário que cada disco, cada show não fosse menos que extraordinário. Killers cumpriu esse objetivo, pois, basicamente, segue a mesma linha do disco de estréia, mas tem o acréscimo do melhor entrosamento entre os músicos, permitindo que a performance de cada música transpusesse os padrões do que se praticava em termos de heavy metal, à época, mesmo entre as bandas da NWOBHM. Permaneceu o mesmo espírito espontâneo, mas com melhor foco. A entrada de um novo guitarrista, no lugar de Dennis Stratton, não representou qualquer óbice para o entrosamento mencionado, pois o novato era Adrian Smith, outro sujeito sério também, além de ser um dos melhores guitarristas do estilo. A dupla formada com Dave Murray consagrou-se como uma das mais coesas da história e praticamente ditou as regras do gênero nos primeiros anos da década de 80.
O segundo disco da banda consegue ser mais preciso e agressivo do que o primeiro e, talvez por isso mesmo, não se chamou Killers à toa. Quatro músicas fazem menção a homicidas ou homicídios: a faixa título, Murders in the Rue Morgue, Gengis Khan e a instrumental de abertura, The Ides of March, cujo título refere-se ao assassinato de Julio Cesar. Começar o álbum com esse tema já denota uma subliminar intenção de conquista, de querer ocupar o espaço que merece. São marcantes as viradas de bateria de Clive Burr, no começo dessa faixa carregada de dramaticidade, e que, ao seu final, emenda com a primeira canção: Wratchild. É interessante observar que, atualmente, parece existir um conceito de que a primeira música de um disco tem que ser uma música rápida. O Maiden abriu seus dois primeiros discos com músicas mid-tempo que mostram-se mais eficientes para arrancar o urro coletivo do que canções mais céleres. Velocidade nem sempre é necessária. A primeira música de um disco tem que ser, sim, carismática e impactante, e Wratchild é assim: uma canção que deixa a platéia na expectativa da chegada do refrão para poder gritar o título junto com a banda. A inconfundível melodia de baixo de Steve Harris, no seu início, deixa bem claro quem é que dá as cartas. Todas as músicas do disco são de sua autoria, havendo apenas uma em parceria com Paul Di’Anno, e, além de Wratchild, três outras faixas iniciam com o baixo em primeiro plano: Innocent Exile, Killers e Murders in the Rue Morgue.
O começo carregado de mistério e suspense dessa última condiz com o conto do mestre do horror, Edgar Allan Poe, no qual ela foi inspirada. A música é uma das melhores dessa primeira fase da banda e todos se destacam tanto em sua execução que é difícil dizer qual dos músicos está mais em evidência no disco. Além do trabalho das guitarras, já citado, a dupla formada por Harris e Burr não tem definições, com bases fortes e criativas, e Paul Di’Anno tem uma atuação acima da média. Este último não participa da instrumental Gengis Khan, e nem teria sido preciso. A faixa é de tamanha perfeição que consegue transmitir a história do flagelo de Deus sem nenhuma palavra cantada sequer. As sensações visuais transmitidas pela melodia são tão intensas que é possível vislumbrar, aos 0:57m, o momento em que a cavalaria huna dispara para o ataque de alguma aldeia indefesa.
Aproximando-se do final, vem dois tapas na cara: Innocent Exile e Killers. Essa última mostra que, antes dos “Grite para mim”, a banda mandava “Grite por misericórdia” e é uma daquelas músicas que vão crescendo em intensidade no seu decorrer, coisa que o Maiden faz como ninguém. Na sequência, tal qual você ter que tomar fôlego para ganhar impulso, há um leve momento de calmaria em Prodigal Son, para logo após ser arremessado na espiral veloz de Purgatory. Em qualquer outro disco, de qualquer outra banda do período, essa talvez poderia ser a música mais intensa, mas, dentro do nível do repertório de Killers, ela soa homogênea com o restante do álbum e, nesse patamar, o que mais poderia ser dito que não seja redundante? Alguns adjetivos novos precisariam ser criados.
Killers foi um marco na discografia da banda e na cultura metal em geral. A capa icônica, com a versão definitiva do Eddie, deixa claro que o álbum tira sangue! E sangue foi necessário para que a profecia fosse cumprida...

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Alexandre Temoteo