The Tower: uma análise do clássico da carreira solo de Bruce Dickinson


Por Simone Gomes para o Iron Maiden Brasil

Um peregrino, ou eremita, procura pela “pedra da infinidade”, isto é, a pedra filosofal, um dos principais objetivos dos alquimistas da Idade Média, com o intuito de transformar metais comuns em ouro, além de obter o elixir para uma vida longa. “O peregrino está procurando por sangue”. Este trecho nos mostra o peregrino, isto é, o alquimista, em seu caminho solitário, buscando a iluminação, a imortalidade, ou seja, a Pedra Filosofal. O sangue – vermelho – é uma referência à última fase do processo alquímico chamada rubedo.

A Pedra Filosofal encontrada faz com que o alquimista seja o senhor de sua Vontade, do livre arbítrio. No trecho “Para procurar o livre arbítrio dele [do peregrino]”, temos uma clara referência à Lei de Thelema, filosofia criada por Aleister Crowley, cujo princípio é o livre arbítrio do homem, porém sem se esquecer da responsabilidade de suas próprias ações.

A partir daí, podemos imaginar as cartas ou trunfos sendo retiradas e dispostas na mesa pela cartomante: O Sol, que representa a emancipação da espécie humana, a liberdade, o sucesso, o casamento feliz. Porém, na própria carta existe a figura de uma muralha que significa o controle sobre a aspiração de uma nova era; A Lua, que representa o mistério, a obscuridade, a desilusão, o perigo, a advertência; Os Amantes, que representam o amor, a beleza, a harmonia e a perfeição; A Torre, prenunciando ao casal o significado que sua figura encerra: perdas afetivas, destruição de planos, separação, ruína, fracasso, fatalidade, fim necessário; O Pendurado (aparece pendurado a uma trave de madeira por um dos pés), que representa a mudança, o reajustamento, a esperança no amor. A retirada dessa carta mostra que ainda há uma chance, um caminho, isto é, a esperança no amor, a renovação, por isso ele sorri.


No casal, o homem representa O Sol, isto é, senhor da luz, da vida, da liberdade, do amor, da emancipação, do casamento feliz. A mulher, por sua vez, representa a obscuridade, penumbra, perigo, armadilha, limiar da vida e da morte. Mas este casal – Sol e Lua – está dividido, separado (“A lua e o sol divididos”). Então para que essa situação se reverta, o narrador sugere que o destino do casal seja decidido pelo Louco (ou O Tolo), o representante do amor, do livre arbítrio, do equilíbrio inicial e final dos opostos, da equação do universo, da liberdade, o senhor de Tudo.

É então, mencionado o nascimento de Marte, o deus da Guerra, fruto de uma frustração de sua mãe Juno, pelo fato de Minerva ter saído da cabeça de Júpiter. Não seria essa frustração vivida no final da consulta às cartas pelo casal? A carta A Torre, que também significa Guerra, é representada por Marte, daí sua referência no trecho “Testemunhe toda a matança, veja o nascimento de Marte”.

Nesse ponto, podemos perceber que a decisão partirá do Mago o senhor da vontade, do conhecimento, da palavra. O Mago tem a capacidade de escolher o que se deve fazer, é astuto – “O Mago ri” –, dominador, como veremos mais adiante, exercendo sua influência sobre o destino do casal, que ao que parece, não poderá ficar junto.

Temos então o trunfo da Sacerdotisa, que representa a luz, a verdade através da luz, a sabedoria, o julgamento correto, a serenidade. “A sacerdotisa se ajoelha”, ou seja, sucumbe à decisão do Mago, pois apesar do seu bom senso e da sua sabedoria, do seu “julgamento correto”, não é ela quem decide, mas O Mago, com o riso da ironia, do triunfo, que confirma o fracasso e a fatalidade prenunciados pela Torre, no início da narrativa.


E mais uma vez, o narrador pede que a decisão seja do Louco – que o amor seja o vencedor –, mas para a infelicidade do casal, quem decide é o Mago, o verdadeiro condutor das cartas e senhor do fim inevitável da separação. Aqui, verificamos que houve a “vontade” dos astros representados nos trunfos consultados, na divindade que as cartas evocam, no arranjo formado e não a “vontade” do casal em permanecer unido, mas de algo superior e inquestionável.

No vídeo, a música tem início com a imagem da Torre, que será retomada no final; a fonte fazendo brotar sangue no lugar da água. As cartas estão na mesa, mas o personagem (Bruce Dickinson) está amarrado. Bruce representará O Louco e O Pendurado, como veremos adiante, não podendo fazer nada quanto ao arranjo das cartas e seu significado. Este tenta a todo custo se desamarrar e mudar a posição das cartas, mas o esforço é inútil.

A Imperatriz – que é a própria cartomante – tira sua máscara e enquanto O Mago – o assistente – se aproxima, vai dispondo as cartas sobre a mesa.

Primeiro, é tirada a carta O Sol e depois A Torre. A Lua, O Sol, O Pendurado, Os Amantes. A cartomante retira mais uma carta que não é mostrada. Em um jogo de Tarô tradicional, as cartas não se repetem, mas talvez no vídeo O Sol se repita para mostrar o desejo do amor realizado, do casamento feliz. Nessa hora, entra o assistente (O Mago do início) e faz uma espécie de imposição de mãos sobre as cartas que estão sobre a mesa, enquanto os noivos olham fixamente para ele.

A carta seguinte é passada, de cabeça para baixo, para o casal, e quando a moça faz menção para virá-la, o noivo a impede. E então, por um truque de mágica, o assistente tem nas mãos aquela carta oculta: A Morte (a mesma carta virada pela cartomante), isto é, a mudança inesperada, a dissolução, o fracasso, a morte propriamente dita.

Nisso, o casal sai correndo da sala de consulta, tentando fugir do local enquanto A Imperatriz manda O Mago ir atrás deles. O Pendurado consegue se desamarrar, mas depois da fuga do casal, é “pendurado” novamente. A seguir, temos a imagem da fonte jorrando sangue, que pode ser visto como produto final de algum sacrifício e não exatamente daquela iluminação e liberdade do início. Durante a fuga, o casal se separa. O noivo é detido pela Imperatriz e a noiva é capturada pelo Mago, confirmando a separação, e O Pendurado nada pode fazer para impedi-lo.

Quem quiser saber mais sobre a simbologia e o significado das cartas do Tarô pode consultar o livro no link abaixo:


The Tower

There are 12 commandments
There are 12 divisions
12 are the pagans who have mapped the sky
In the outer circle to the inner sanctum
From the octave at the end of time

The fountain, the trinity
The pilgrim is searching for blood ( Searching for your blood )
To look for his own free will
The stone of infinity
Washed in the flood

Lovers in the tower
The moon and sun divided
And the hanged man smiles
Lovers in the tower
The moon and sun divided
Let the fool decide

In the atom circle
Where we break the stars
Hammer into anvil snuffing out the sun
Witness all the killing, see the birth of Mars
Our religion thrown into the fire

The fountain, the trinity
The pilgrim is searching for blood ( Searching for your blood )
To look for his own free will
The stone of infinity
Washed in the flood

Lovers in the tower
The moon and sun divided
The hanged man smiles
Lovers in the tower
The moon and sun divided
The magician laughs

Lovers in the tower
The moon and sun divided
And the priestess kneels
Lovers in the tower
The moon and sun divided
Let the fool decide

Lovers in the tower
The moon and sun divided
And the hanged man smiles
Lovers in the tower
The moon and sun divided
Let the fool decide

Lovers in the tower
The moon and sun divided
The priestess kneels to receive
Lovers in the tower
The moon and sun divided
The magician laughs

A Torre

Há doze mandamentos
Há doze divisões
Doze são os pagãos que mapearam o céu
No círculo externo para o lugar sagrado espiritual
Da oitava ao fim do tempo

A fonte, a trindade
O peregrino está procurando por sangue (Procurando pelo sangue dele)
Para procurar o livre arbítrio dele
A pedra da infinidade,
Banhada no dilúvio

Amantes na torre
A lua e o sol divididos,
E o homem enforcado sorri
Amantes na torre
A lua e o sol divididos,
Deixe o tolo decidir

No círculo atômico
Onde nós quebramos as estrelas
Martelo na bigorna, enchendo o sol
Testemunhe toda a matança, veja o nascimento de Marte
Nossa religião lançada ao fogo

A fonte, a trindade
O peregrino está procurando por sangue (Procurando pelo sangue dele)
Para procurar o seu próprio livre arbítrio
A pedra da infinidade,
Banhada no dilúvio

Amantes na torre
A lua e o sol divididos,
o homem enforcado sorri
Amantes na torre
A lua e o sol divididos,
o mago sorri

Amantes na torre
A lua e o sol divididos, e a sacerdotisa se ajoelha
A sacerdotisa se ajoelha
Amantes na torre
A lua e o sol divididos,
Deixe o tolo decidir

Amantes na torre
A lua e o sol divididos, e a sacerdotisa se ajoelha
(a sacerdotisa se ajoelha)
Amantes na torre
A lua e o sol divididos,
Deixe o tolo decidir

Amantes na torre
A lua e o sol divididos,
e a sacerdotisa se ajoelha para receber
Amantes na torre
A lua e o sol divididos,
O mago sorri

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