Blaze Bayley, um sobrevivente na vida e no heavy metal

Em uma entrevista exclusiva para o Cwb Live, o ex-vocalista do Iron Maiden fala sobre o show em Curitiba, sua carreira solo, a perda de sua esposa e relembra os tempos de Iron.
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Por Marcus Anubis
Tradução Priscila Oliveira

Blaze Bayley show 2 Curitiba 2014
Blaze Bayley, três décadas de heavy metal (Foto – Reprodução/Facebook Blaze Bayley)

Ser alçado ao posto de vocalista daquela que muitos consideram a maior banda da história do heavy metal. Sair dela de forma abrupta e ter que reconstruir a sua carreira, praticamente do zero. Enfrentar a morte de sua esposa e ter forças para seguir em frente com sua música. A história do ex-vocalista do Iron Maiden, Blaze Bayley, é um exemplo de persistência e instinto de sobrevivência.

Blaze se apresenta amanhã (19) no Blood Rock Bar, em Curitiba. O show faz parte da turnê “Soundtracks Of My Life Tour”, onde o vocalista apresenta canções de sua carreira solo e alguns clássicos do seu período no Maiden, como “Sign of the Cross” e“Man on the Edge”. Seu mais recente álbum de inéditas, “Russian Holiday”, lançado no ano passado, não faz parte do setlist. Nele, o cantor gravou canções de forma acústica, em parceria com o violonista Thomas Zwijsen. “A turnê do ‘Russian Holiday’ terminou no Brasil em dezembro, então eu não estou apresentando qualquer canção acústica, mas o Thomas Zwijsen irá realizar algumas do seu próprio álbum antes do nosso set. Nós viajamos por todo o mundo com o acústico e já estava na hora de eu me concentrar nos meus shows de heavy metal novamente, que é o que eu mais amo fazer!”, explica.

A relação de Blaze com o Brasil é intensa. Historicamente, a paixão do povo brasileiro pelo heavy metal é uma das mais fortes no mundo. O país vem recebendo turnês dos maiores nomes do gênero desde a década de 1980. Com o Iron ou em seu trabalho solo, Blaze sempre inclui os ares tupiniquins em suas tours. “Eu adoro voltar ao Brasil. Eu tenho um ótimo agente que marca meus shows aqui, a Open the Road, e eu amo os fãs. Eles cantam com o coração nos meus shows e sempre querem saber tudo o que eu estou fazendo. Eles me apóiam em tudo e eu sou muito abençoado por tê-los em minha vida!”, agradece.

 Os tempos de Iron Maiden
A carreira de Blaze é marcada pela passagem em uma das mais importantes e influentes bandas da história da música. Em 1994, com a saída de Bruce Dickinson, Bayley recebeu o convite para assumir os vocais do Iron Maiden. 11 entre dez vocalistas de heavy metal crescem sonhando com isso. O problema é que substituir um frontman, e uma voz do naipe de Dickinson, seria uma missão inglória para a maioria deles. Apesar do desafio, os quatro anos à frente do grupo inglês ainda estão em sua memória. “Eu fiquei extremamente feliz quando eles me convidaram e eu aceitei o trabalho. Eu pude trabalhar com os melhores músicos e produtores e ganhei muita experiência nas turnês, escrevendo e gravando”, afirma.

Logo no começo de sua trajetória com a banda, Blaze sofreu um acidente de moto e machucou gravemente o joelho. Por conta desse contratempo, o início da turnê do álbum “The X Factor”, lançado em 1995 e que marcou sua estreia no Iron, foi adiada. O vocalista relembra que, além da dor física, o medo de perder a vaga na banda também o atormentou, na época. “É claro que sim! Eu pensei que era o fim, mas eles foram legais em relação a isso e eu pude ficar!”, conta.

“Virtual XI”, de 1998, foi seu segundo e último álbum com o Maiden. No ano seguinte, Bruce Dickinson retornou ao Iron. Mesmo sendo pego de surpresa com a notícia de sua saída, o vocalista acredita que os quatro anos de trabalho com a banda acrescentaram muito em sua carreira. “Eu fiquei desapontado quando terminou, mas agora eu posso ver que foi um tempo sensacional e eu sou uma pessoa de muita sorte por ter tido a chance de chegar ao topo da minha profissão como o vocalista do Iron Maiden”, analisa.

Com o Iron, Blaze se apresentou em duas ocasiões na capital paranaense. Em 1996 no festival Monsters Of Rock, que aconteceu no Estádio Couto Pereira e ainda teve os grupos Skid Row, Helloween e Motörhead, e em 1998 no festival Skol Rock, que foi realizado na Pedreira Paulo Leminski, ao lado do Helloween, Raimundos e Pavilhão 9. “Foram shows loucos. Eu tive muita sorte por ter feito parte do Iron Maiden, então tocar nesses shows com eles foi um sonho que se tornou realidade”, relembra.



Após a saída do Iron Maiden, Blaze continuou mostrando o seu talento (Foto – Reprodução/Facebook Blaze Bayley)
A carreira solo

Após a sua saída do Iron, Blaze gravou 11 álbuns em 13 anos. “Silicon Messiah” foi seu debut, no ano 2000, e “Russian Holiday” é o mais recente, lançado no ano passado. Esse ritmo de gravar praticamente um álbum por ano é fundamental para manter Bayley em harmonia consigo mesmo. Segundo o vocalista, a música é o seu principal meio de expressão. “Sim, é uma combinação de querer sair em turnês e de querer escrever música. Eu amo criar canções trabalhando com outros músicos e também amo interpretar as que eu escrevo”, diz.

Esse processo de “sanidade” vem desde os tempos de Wolfsbane, sua primeira banda, formada em 1984. “Não acho que eu seria apto a viver uma vida feliz se não pudesse escrever e interpretar as minhas próprias músicas. Isso é uma expressão de sentimentos e pensamentos que eu necessito”, afirma.

Em 2010 Blaze participou do álbum “The Labyrinth Of Truths”. O disco é de um projeto brasileiro chamado Soulspell Metal Opera, idealizado pelo baterista Heleno Vale. “Eu amei esse trabalho! Eu tenho recebido muitos convites para cantar em outros projetos. É algo que eu gosto muito. É sempre muito bom ter uma opinião diferente sobre a música, escrever e trabalhar com músicos. Eles me inspiram, em algumas ocasiões, e eu me sinto bem gravando e trabalhando em conjunto com as bandas para criar boas canções”, conta.

A dor da perda e a força para prosseguir

Em 2008, Blaze enfrentou um momento difícil em sua vida pessoal. Em julho, sua esposa e empresária, Debbie, foi diagnosticada com câncer no cérebro. Ela morreu apenas dois meses depois, no dia 27 de setembro. O vocalista tinha recém lançado o álbum “The Man Who Would Not Die”, gravado por seu próprio selo, o Blaze Bayley Records. Levantar e seguir em frente não foi nada fácil. “Foi um período horrível. Eu estava muito entorpecido, naquele momento, e a música me fez continuar por um bom tempo. Eu sofri e, naturalmente, ainda sofro. Eu precisei de um longo tempo para aprender a viver com isso, mas a música definitivamente me ajudou, assim como o apoio da minha família, amigos e fãs”, agradece.

Mesmo diante de tantos obstáculos que a carreira musical, e a vida lhe impuseram, Blaze Bayley conseguiu sobreviver. Seu show amanhã (19) no Blood Rock Bar é mais um capítulo dessa saga. “Eu gostaria de dizer um enorme obrigado a todos os meus fãs brasileiros por todo o apoio que eles têm me dado ao longo do tempo! Espero vê-los!”, finaliza.

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