O público roqueiro está começando a acordar em São Paulo. As recentes passagens de Iron Maiden, Black Sabbath, Megadeth e Slayer pela cidade escancararam a crise grave de falta de espaços adequados para receber megaventos, que antes estavam confinados aos estádios do Pacaembu e do Morumbi. A enorme quantidade de queixas a respeito dos locais escolhidos e sobre os problemas de som deveriam servir de alerta geral para todos os produtores de grande porte que atuam no Brasil.
Com as restrições cada vez maiores por conta da legislação, falta de datas no calendário e pelo alto preço do aluguel, os estádios grandes da cidade, por enquanto, estão descartados – situação que pode mudar com as inaugurações próximas do Itaquerão, o estádio do Corinthians, e a Arena Palestra (também conhecida como Allianz Parque), o novo estádio do Palmeiras, que prometem ser modernos espaços multiuso. No Palmeiras, especulou-se que Metallica e Iron Maiden poderiam fazer um concerto de inauguração antes da primeira partida.
Com o estádio do Canindé vetado por questões de estrutura , assim como o estádio do Ibirapuera, sobram locações inadequadas que precisam ser adaptadas, como os citados Campo de Marte – aeródromo na zona norte -, a Arena Anhembi, que nada mais é do que uma parte do estacionamento do Sambódromo, e o inacreditável autódromo de Interlagos (que é ótimo para corridas, mas péssimo para shows).
Os problemas dos locais seriam relevados até certo ponto se pelo menos as condições para ouvir e ver parcialmente compensassem. Pena que isso não ocorra. Além de serem locais abertos, onde o som “foge” por causa do vento, são muito grandes para que a parca estrutura sonora que as empresas costumam oferecer ao público.
No Iron Maiden e no Slayer, que tocaram no mês passado no Anhembi, as reclamações foram generalizadas em relação ao som baixo demais e à completa falta de visão do palco. No Black Sabbath e Megadeth, no Campo de Marte, as mesmas reclamações: som ruim em vários pontos, palco pequeno e estrutura insuficiente de caixas de som e telões.
A vítima da vez será o Monsters of Rock, que será realizado no Anhembi. nada indica que os equipamentos de som e suas disposições serão diferentes do que foi visto no show do Iron Maiden. Portanto, quem vai a um evento desses deve estar preparado para um som que pode deixar a desejar – o que é um absurdo, levando-se em conta que os ingressos mais baratos atualmente não saem por menos de R$ 180, ou R$ 300, como no Black Sabbath.
Por enquanto há pouco o que fazer para protestar contra as péssimas condições de som dos megashows. O curioso é que reclamações deste tipo são poucas no Lollapalooza e no Planeta Terra. Parece que ali os produtores do show se preocupam um pouco mais com a qualidade do que é servido aos ouvintes. E, ao que tudo indica, parece que o Jóquei Clube de São Paulo se mostra mais adequado a megashows, mas que infelizmente parece ser um local fora do mapa para o rock pesado, por uma série de razões. E pensar que sentiríamos falta de ver shows nos precários e inadequados estádios da cidade…
De qualquer forma, é bastante saudável que o público reclame bastante nas redes sociais e em sites especializados a respeito do som e das condições ruins dos locais. Juridicamente não existe base para exigir punição ou indenização por som ruim, já que é algo subjetivo. Mas o protesto sistemático pode ao menos forçar as empresas a revisarem a estrutura de som e oferecer coisa melhor – no ponto extremo, o boicote aos shows seria uma alternativa.
São dois pontos que devem ser atacados: a falta de um lugar decente para megaventos na Grande São Paulo, e aí talvez seja o caso de fazer uma cobrança mais efetiva do poder público, e estruturas deficientes de som para satisfazer um público que pagar muito caro para ver atrações internacionais. As novas arenas de Corinthians e Palmeiras podem resolver parcialmente a situação, mas ainda assim é inacreditável que uma das cinco maiores regiões metropolitanas do mundo ofereça condições tão ridículas para grandes shows.