ROCK IN RIO: Eu Fui!

A 1 ano atrás ocorreu o Rock in Rio 2011. Alguns já diziam, mesmo antes do seu final, que deixaria saudades. Pode até ser, mas por pouco tempo. Afinal, já estão agendadas duas novas edições: 2013 ( que já possui novidades) e 2015.
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Sentimento bem diferente foi experimentado por aqueles que presenciaram o primeiro Festival, em 1985. Afinal, quando terminou o evento, havia a sensação de que não haveria tão cedo algo de tal importância em terras nacionais.

Para os mais jovens, é até difícil imaginar que realidade era aquela. O Brasil passava longe, muito longe, da rota das turnês dos grandes artistas internacionais. Os raros shows que aportavam por aqui eram, via de regra, de estrelas em decadência ou de menor expressão. Há alguns exemplos, como os shows de Peter Frampton em 1980 e 1982 e Kiss, em 1983.

Quando as primeiras notícias começaram a ser divulgadas de que haveria um festival na Cidade Maravilhosa, com dez dias de duração e a participação de alguns dos maiores nomes da música internacional, as sensações eram inúmeras: surpresa e euforia ao imaginar tais perfomances bem de perto, misturadas com dúvidas e ceticismo, pois até dias antes do festival havia quem duvidasse de sua realização.



Confesso que precisei ler ou assistir mais de uma reportagem para acreditar que poderia acompanhar ao vivo nomes como Iron Maiden, AC/DC, Scorpions, Ozzy, Whitesnake, Queen e Yes. Os shows aconteceriam de 11 a 20 de janeiro daquele ano.

Sobre a escolha destas datas, houve até uma certa celeuma. Alguns militantes de esquerda escreveram em jornais, revistas e fanzines (é, não havia internet), buscando alertar a juventude com a argumentação de que o real objetivo dos shows era desmobilizar a população em geral e, principalmente, estudantes, visto que, no dia 15 de janeiro, aconteceria a eleição indireta para presidente da República.

Alguns, mais exaltados, sugeriram inclusive o boicote ao festival. Imaginem só: pedir a um jovem que deixe de participar daquele que seria o maior festival de rock do planeta, até então. Haja engajamento político!

O fato é que, se o objetivo era alienar os jovens, o efeito foi justamente o contrário. No dia 15 de janeiro, dia da eleição de Tancredo Neves, a maioria do público portava bandeiras e vestia verde-amarelo, numa manifestação típica de Copa do Mundo.

E, mesmo após mais de 25 anos, não consigo imaginar que o evento foi criado para desmobilizar politicamente os mais jovens. A justificativa para essa convicção é simples: os envolvidos na ditadura militar nunca utilizaram sutilezas ou artifícios de mídia e marketing para fazer valer seus argumentos. Muito pelo contrário.

Basta recordar que, no ano anterior, quando da votação da Emenda Dante de Oliveira (Diretas-Já) pelo Congresso, censuraram canais de TV e rádios. Até mesmo um blecaute, sem dúvida acidental (?), aconteceu nas Regiões Sul e Sudeste. Ou seja, se estivessem pensando em algo para frear manifestações, não teriam sequer a capacidade de pensar em um show de música.

Pois bem. Janeiro de 1985. Eu, 17 anos. Tinha que participar. A vontade era ir no maior número de shows possível, mas alguns entraves aconteceram. Estava em meu primeiro período na universidade e, comum naquela época, tinha havido uma greve em ’84 que prolongou as aulas para janeiro do ano seguinte.

Para complicar, o Iron Maiden só iria se apresentar uma única vez, justamente no primeiro dia. Haveria um dia especial com todas as demais bandas de rock pesado reunidas, no dia 19 de janeiro, mas, para mim, seria impossível ficar tantos dias no Rio. Escolhi assistir a apresentação da melhor banda.





No primeiro dia do festival ainda havia grama no espaço em frente ao palco, onde as imagens dos dias seguintes mostravam um pitoresco lamaçal. Havia dois chafarizes, um de cada lado da Cidade do Rock, e se refrescar num deles era fundamental para aguentar o verão carioca.

Fiquei relativamente perto do palco. Acho que havia só uns 25.000, 30.000 pessoas na minha frente. É isso mesmo. Afinal, o público estimado daquele dia foi algo em torno de 150 mil roqueiros.

Foi o dia que se apresentaram Ney Matogrosso (e arrebentou!), Erasmo Carlos (o primeiro a ser vaiado na história do evento), Pepeu e Baby (show!) e as atrações internacionais Whitesnake, Iron Maiden e Queen.

Whitesnake foi uma grata supresa. Confesso que, até então, não conhecia o som da banda do melhor ex-vocalista do Deep Purple. Ainda assim, fui um dos que cantou junto “Ain’t no Love in the Heart of the City”, “Here I Go Again”, “Love Ain’t no Stranger” e “Crying in the Rain”. Para quem não se lembra, esta foi uma das últimas atrações a ser contratada, em substituição à banda Def Leppard. Isso porque no final de ’84, seu baterista sofreu um acidente automobilístico e, tragicamente, perdeu um braço.

O show de Bruce Dickinson, Steve Harris, Dave Murray e companhia foi fenomenal, inesquecível, tanto para a banda como para os fãs presentes. Cantar “Running Free”, ao vivo, num show do Iron Maiden era, meses antes, um sonho tão absurdo quanto inalcançável.

E o show do Queen? Sei que foi ótimo, pelos comentários da época, mas não vi. Fui embora logo após o show do Iron. Estava extasiado, mas também com muita fome e extremamente fatigado. Só neste momento é que percebi que estava há mais de quinze horas em pé, no mesmo lugar, sem comer ou descansar. Perdi um show, mas ainda assim fui embora feliz e realizado. Naquele momento, o festival já começava a deixar saudades.

Rock in Rio! Me desculpem os que discordam, mas só houve um. O de 2011 é considerado o 4º em terra brasilis. Já aconteceram outros quatro em Lisboa e dois em Madrid. Todos com a marca Rock in Rio. Não preciso nem discorrer sobre o absurdo da utilização desse nome nos festivais ocorridos em solo europeu.

E penso não fazer sentido que os demais festivais acontecidos na Cidade Maravilhosa tenham sido batizados com o mesmo nome do evento de 1985. O primeiro foi único, principalmente pela mudança de paradigmas que proporcionou. A partir do seu sucesso, o Brasil passou a receber bandas e artistas em seu auge.

Aí sim, passamos a viver como a letra da música-tema do festival: “Todos numa direção, uma só voz, uma canção… Se a vida começasse agora, e o mundo fosse nosso de vez … ô ôôô ô…”.

Por Celso Vivas

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