Texto e foto por Evandro Camellini
Fonte: Rock Brigade
Minha função de jornalista é relatar fatos. Meu trabalho consiste em ir até o local onde ocorrerá um evento, realizar meu credenciamento, assistir e fotografar o evento em si e depois, em forma textual, narrar o mesmo aos leitores da mídia ao qual estou vinculado. Parece fácil, apresentado dessa forma. Porém, em alguns momentos do caminho, você se depara com situações inusitadas, que dificultam por demais a realização deste (que parece ser um) simples trabalho. E foi exatamente o que aconteceu na cobertura do show do Paul Di’Anno.
O evento havia sido anunciado para as 21h. Ok, 20:30 eu já estava lá, e pude ver a formação da fila. Já ali podíamos perceber que o público provavelmente não atingiria 100 pessoas. As circunstâncias não ajudavam: o horário, um tanto quanto tarde para um domingo; o valor da entrada, pois escutei comentários lá dentro dizendo que este estava um pouco alto para um artista que vem todo ano ao Brasil; e para completar, o tempo na cidade de São Paulo no domingo era o pior possível. Insira isso na semana em que ocorrerá o maior número de shows na cidade em 2011, e acredito que esse conjunto de fatores explique o pequeno público.
Mas, retomando a narrativa. Por volta de 21:30, com público ainda para fora da casa, resolvi entrar, imaginando que não esperaria coisa além de 10 minutos para o início já atrasado do show. Qual foi minha surpresa que apenas às 22:00 (com uma hora exata de atraso em relação ao horário anunciado) a banda Scelerata (que pela segunda vez consecutiva é escolhida como banda de apoio na turnê brasileira de Paul) subia ao palco, mas sem Paul. Em meu íntimo eu não concebia a idéia de, numa circunstância daquela, ainda termos uma banda de abertura. Mas sim, teríamos.
A Scelerata é uma banda formada por cinco integrantes, excelentes músicos e bom compositores. Isso é um fato inegável. Porém, sua apresentação poderia ser muito boa se não fossem os excessos. Olhar para o baterista Francis Cassol fazia-me perguntar quantas horas de sua vida ele gastou assistindo vídeos do Dream Theater, pois sua postura de palco é uma cópia exata de Portnoy. Que fique claro, apenas a postura de palco. As cordas (formadas por Magnus Wichmann e Renato Osório, nas guitarras e Gustavo Strapazon, no baixo) executam coreografias ensaiadas, que eu me pergunto se ainda funcionam hoje em dia. Para mim, soa meio ridículo se não for feito pelo Judas Priest, e olhe lá! E o vocalista Fabio Juan tem uma presença de palco que beira o exagero, mas ainda darei um voto positivo aqui. Afinal, conseguir ter aquela disposição diante de uma mínima platéia, que ali estava congelada, é merecedor de elogios. Quatro músicas autorais e o cover de Hell Patrol, do Judas (olha a influência sendo assumida!) formaram sua apresentação, que durou 40 minutos.
Naquele momento, imaginei que Fabio iria se retirar, e Di’Anno entraria, afinal, domingo, 22:40, já nos bastava Axl Rose na semana passada no Rock in Rio! Mas não. Todos ali tiveram que esperar por 35 minutos até que a banda voltasse ao palco e começasse a executar The Ides Of March, e assim desse início ao show. Sim, o show começou às 23:15, num domingo, e pelo set list que podia ser visto no chão, somaria vinte e uma músicas em seu final. Ali percebi que meu trabalho estava seriamente comprometido.
Mas, como desgraça pouca é bobagem, já diz o ditado, os problemas continuaram. A iluminação era precaríssima, quase inexistente, o que para um fotógrafo é a própria imagem do caos! Se não bastasse, o baixista Gustavo, talvez um pouco carente de atenção, fez questão de entrar na frente deste que vos fala toda vez que lhe foi possível. Havia ouvido muitos comentários a cerca do ego dos integrantes da banda, e acabei comprovando um pouco disso da pior forma possível.
Mas, seria muito injusto narrar apenas problemas. Pois Paul fez uma grande apresentação! Sua mobilidade é restrita, isso sabemos, logo, sua movimentação era praticamente nula. Porém, sua simpatia e carisma junto ao público era tão grande e nítida, que por alguns momentos todos os problemas foram ignorados. Muito comunicativo e brincalhão, Paul fez piada em relação a não estar se apresentando no Manifesto (local habitual de suas outras passagens por São Paulo), comentários em menção ao Corinthians (time o qual se assume torcedor), inclusive provocando de forma humorada outras torcidas, e ganhando definitivamente o público presente ao dizer que ama São Paulo e que aqui é sua terra natal. Entre esse show de simpatia, Di’Anno conseguia executar com precisão as músicas, mostrando ainda ter muita lenha para queimar na fogueira do metal. Pode-se ouvir clássicos como Prowler, Purgatory e Remember Tomorrow sendo executados com precisão.
Infelizmente, devido ao horário e a falta de um meio de transporte particular, tive que me retirar na metade exata do show. Com um baita gostinho de “quero mais” dentro de mim, pois ainda viriam músicas como Wratchild, Genghis Khan,Charlotte The Harlot e Phanton Of The Opera. Infelizmente, esses deslizes da produção estragaram um pouco o evento. Mas, quando o talento existe, pode-se percebê-lo em uma única canção. E isso Paul mostrou ainda ter de sobra!
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