Austin Dickinson - No Rise To Remain seguindo a carreira do pai?
Por Fabian Oliveira do Blog Fone de Ouvido
Seguir a profissão dos pais não é fácil pra ninguém. Especialmente se o pai ou mãe é muito competente e bem sucedido. Se em carreiras “normais”, como médico, engenheiro ou advogado, já é difícil, imagine em atividades onde o sucesso é acompanhado pela fama, como nos esportes ou na música. No primeiro caso, o maior exemplo é o ex-goleiro do Santos, Edinho, filho de um tal de Édson Arantes do Nascimento. Outro caso que vem à mente é o do piloto Damon Hill, que mesmo tendo sido campeão do mundo de Fórmula 1, sempre foi considerado bem inferior ao seu pai, Graham Hill.
Na música, parece que este fardo é ainda mais pesado de carregar. Por um lado, o sobrenome garante a atenção imediata para o seu trabalho, mas a comparação é ao mesmo tempo natural e brutal, criando expectativas absolutamente injustas. Pense bem, você queria estar na pele de um Julian Lennon, Lisa Marie Presley, Ziggy Marley ou Jacob Dylan? Pois é, nem eu. Deve ser muito chato amar a música, ter vontade de compor e tocar suas próprias canções e nunca ser reconhecido por isso, sendo tratado eternamente como o “filho do Fulano de Tal”.
Felizmente existem exceções. Jeff Buckley, por exemplo, tinha tudo para ir muito além da carreira do pai Tim Buckley, mas acabou morrendo muito cedo, antes mesmo de completar o sucessor de Grace (1994). Filha de Ravi Shankar, Norah Jones faz belíssima carreira como cantora e compositora, talvez até por não ter tido contato com o pai. Os bateristas Jason Bonham e Zak Starkey, filhos de Bonzo e Ringo, respectivamente, também levam suas carreiras numa boa. Jason mostrou seu talento em excelentes trabalhos com as bandas Bonham, UFO e Black Country Communion. Além disso, pôde homenagear o pai através de suas excelentes performances nos shows de reunião do Led Zeppelin em 1988 e 2007. Já Zak Starkey demonstrou ser um grande baterista comandando as baquetas do Oasis e principalmente no The Who, no posto que era do seu padrinho Keith Moon. Pegue qualquer vídeo do Who com Zak e comprove que ninguém toca tão parecido com Moonie do que o seu afilhado, simplesmente fantástico. Falando em Zak, uma curiosidade: o primeiro disco de sua carreira foi Silver And Gold, do ASAP, o projeto solo que o guitarrista do Iron Maiden, Adrian Smith, gravou em 1989.
Falando da “família Maiden”, quem está seguindo os passos do pai é Austin Dickinson, filho do piloto de avião e frontman extraordinaire Bruce Dickinson. Austin passou a infância acompanhando o papai na época em que estava fora do Iron Maiden, um período de muita criatividade para Bruce, vide seus excelentes discos como solista. Inclusive o primeiro crédito musical da carreira de Austin é na música “Laughing At The Hiding Bush”, do disco Balls To Picasso de 1994. Segundo Bruce, o pequeno Austin estava escondido atrás de uma almofada dando altas risadas e, ao ser perguntado o que estava fazendo, prontamente respondeu que estava “laughing at the hiding bush”, inspirando o Air Raid Siren a escrever uma das melhores músicas de sua carreira solo.17 anos depois, Austin chega ao primeiro álbum de sua banda, o Rise To Remain. De cara, dá pra perceber que ele herdou algumas características paternas: o agudo poderoso, a auto-confiança e um jeito bem dramático de interpretar as canções. Mas as semelhanças param por aí.
O som do Rise To Remain é bem moderno, aquele metalcore que a molecada tanto curte. A banda não é muito original, seguindo os passos de suas maiores influências: Trivium, Killswitch Engage, In Flames, Coheed And Cambria, Machine Head, Unearth, essa praia. O disco, porém, é muito bom, especialmente para uma estréia. A evolução da banda do EP Bridges Are Burning de 2009 até agora é evidente, talvez pelas incessantes turnês dos caras pela Europa inteira. Prova disso é o excelente trabalho de guitarras, muito bem timbradas pelo produtor Colin Richarson. As bases têm arranjos complexos e os solos alternam aquelas fritadas típicas do metal com momentos melódicos de muito bom gosto e alguns duetos dobrados que lembram, aí sim, o Maiden. O outro destaque são os vocais de Austin, alternando o gutural com o melódico com extrema naturalidade. As canções tem aquele padrão barulheira nas estrofes e melodia nos refrões, que, em geral, são belíssimos e catárticos.
Apesar da desconfiança natural de muitos por aí, City Of Vultures prova que o Rise To Remain tem um belo futuro pela frente. Papai Bruce deve estar orgulhoso.
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