[REVIEW] - Paul Di'Anno (John Bull Pub - Curitiba - 06/08/2010)


30 anos separam o lançamento do disco de estréia do Iron Maiden da apresentação de seu clássico vocalista, Paul Di'Anno, em Curitiba, dia 06/08/2010, no John Bull Pub. Entre ambos, além do espaço temporal, existem diversos elementos, como a sonoridade pesada e pulsante de Di'Anno e, também, seu próprio comportamento. No fim das contas, a apresentação de Paul Di'Anno foi memorável: graças à ela, o público presente teve a chance de curtir os clássicos do Maiden acompanhados de pérolas de sua carreira solo.
A noite fria iniciou-se muito bem. Espantando o ar gélido que infiltrava-se pelas portas e entradas do John Bull, a banda Scelerata deu o start em grande nível. Apresentando excelentes canções de seu repertório, o grupo mostrou excelência ao levantar a platéia desde o primeiro instante. O guitarrista Magnus Wichman e o baixista Gustavo Strapazon protagonizaram momentos de pura exaltação, enquanto Francis Cassol cavalgava em sua bateria para que o também guitarrista Renato Osorio e o vocalista Fábio Juan fizessem o público saltar cada vez mais. Ainda que bastante conhecida nas paragens curitibanas, o curioso foi que a banda gaúcha alcançou seu maior êxito na noite com um cover do Metallica, "Master of Puppets", responsável pelas primeiras batidas de cabeça da noite.
Após quase uma hora de apresentação, uma breve pausa posicionou-se entre o Scelerata e a atração principal da noite. Já era mais de meia noite quando os primeiros acordes de "The Ides of March" foram executados pela banda gaúcha, que acompanha Di'Anno nesta tour brasileira. A excitação era palpável: o público dançava e pulava, enquanto Paul, do backstage, observa com um cigarro entre os dedos. Após a última tragada, Paul avançou para o palco e a intro de "Wrathchild" deu um verdadeiro ponta-pé na cabeça dos presentes. O melhor da noite havia começado.

Logicamente, quase 100% da platéia pertencia à horda de fãs do Iron Maiden, que lá estavam para prestigiar o primeiro vocalista da discografia da banda. Quase todos trajavam camisetas da banda e, quando "Prowler" foi iniciada sem tempo para o público respirar, era evidente que todos estavam se divertindo ao máximo, como se conseguissem voltar no tempo, até 1980, e presenciar uma das tantas apresentações da Donzela no pub londrino Ruskin Arms. No entanto, Paul parecia ser o único que até o presente momento não estava a desfrutar do prazer da apresentação.

A prova disso ocorreu na metade da quarta música do show, "Marshal Lockjaw", da fase Killers da carreira solo de Di'anno. O John Bull Pub estava lotado e, como não poderia ser diferente, o público estava colado ao palco, acompanhados de seus respectivos copos e garrafas, algumas delas, inclusive, abandonadas na beirada do stage. Por alguma razão, Paul não deve ter gostado de ver aquelas garrafas e copos ali depositados (na parte central, onde nos encontrávamos para o registro de fotos, eram cerca de 4 ou 5 garrafas long neck e 3 canecos de chopp) e, ao invés de solicitar que os roadies retirassem os objetos dali (como foi feito na metade do show, no canto direito do palco), Di'Anno simplesmente resolveu ele mesmo retirar as garrafas e copos, com, vejam só, dois chutes.
De imediato, os copos se quebraram e cacos de vidro espalharam-se pela beirada do palco; as garrafas voaram para a platéia e, por muito pouco, a equipe do Rock Pensante não foi atinginda em cheio pelo pé de Di'Anno e por uma das garrafas. Como se não bastasse, Paul berrou com seu inglês, em bom tom, que não "queria porra nenhuma de cerveja e copos no seu palco", e ameaçou retirar as pessoas da frente do show. Quem estava na parte de trás provavelmente não teve a chance de presenciar ou observar o ocorrido, mas quem estava na frente teve sorte de não se machucar.
Adiante, a apresentação ocorreu normalmente. O set list foi o mesmo que o apresentado no dia anterior no John Bull Pub de Floripa, com a louvável diferença de que, desta vez, "Charlotte the Harlot" não ficou de fora. Deste modo, a listagem de músicas privilegiou como um todo o disco "Iron Maiden", algumas faixas de "Killers", e canções da fase solo de Di'Anno. "Remember Tomorrow" foi dedicada a Clive Burr, primeiro baterista da discografia do Iron Maiden, que há muito encontra-se enfermo. Em "Strange World" a platéia cantou cada verso com Paul, sendo este um dos melhores momentos da apresentação.

Mesmo com o show pulsante e extasiante, Di'Anno parecia, de certa forma, à parte do espetáculo, evitando contato com a platéia e distribuindo pouca alegria. Quando um fã mais ousado tentou um aperto de mão, foi evitado e, uma vez mais, Di'Anno disparou algumas impropriedades em sua língua. O mesmo ocorreu quando alguém na parte de trás parecia estar acenando em demasia e atrapalhando os que estavam ao seu redor. Di'Anno disse para o sujeito que ia "partir" a sua cara. Essa é personalidade de Di'Anno: forte, densa e pouco ligando com o que os outros pensarão, bem próximo ao ideal punk que estampava sua camiseta.
A partir da canção "Iron Maiden", Di'Anno levou a mão à perna direita e esboçou uma feição de dor, como se uma câimbra o tivesse acometido. Em "Running Free" a dor ainda era perceptível; quando a instrumental "Transylvania" começou, Paul caminhou com dificuldade para o backstage. Quando voltou para executar "Blitzkrieg Bop", dos Ramones, Paul precisou da ajuda de um roadie para subir no palco. No entanto, na música final, "Sanctuary", Di'Anno carregou um longo sorriso no rosto e cantou como nunca, extirpando os demônios da sua perna e levantando ainda mais a platéia. Após o fim de show e dos merecidos aplausos, Di'Anno retirou-se para atender os fãs com fotos e autógrafos, dados sem maior problema, afastando a má impressão causada pelo "descontrole" no início do show.

Tirando o fato das garrafas arremessadas ao público por um motivo ilógico, a apresentação de Paul Di'Anno deverá ficar marcada na cabeça de muita gente, e nas mãos daqueles que se cortaram com os cacos de vidros providos pelo non sense de Di'Anno. Foi uma noite de heavy metal forte, denso, que elevou os pilares da NWOBHM à décima potência. De fato, uma noite memorável, por bons e péssimos motivos.

Set List:

1. The Ides of March
2. Wrathchild
3. Prowler
4. Marshal Lockjaw
5. Murders in the Rue Morgue
6. Mad Man in the Attic
7. Strange World
8. The Beast Arises
9. Children of Madness
10. Remember Tomorrow
11. Faith Healer
12. A Song for You
13. Genghis Khan
14. Charlotte the Harlot
15. Killers
16. Phantom of the Opera
17. Iron Maiden
18. Running Free
19. Transylvania
20. Blitzkrieg Bop

21. Sanctuary

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Tiago Marques

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