[NEWS] - ENTREVISTA COM ADRIAN - RECIFE


O guitarrista britânico Adrian Smith é um fã confesso de pescarias. Se for em água doce, melhor. Responsável pelos marcantes duetos (ou seria “trietos”?) de guitarra do Iron Maiden ao lado dos colegas Dave Murray e Janick Gers, ele confessa que não sabe muita coisa sobre o Recife, onde a maior banda de heavy metal do mundo se apresenta no mais esperado show do ano, no dia 31. Ao buscar mais informações sobre a capital pernambucana, ele perguntou ao Jornal do Commercio, na terça-feira, em entrevista exclusiva: “Aí tem algum rio em que eu possa pescar?”. Ao saber que existem dois – Capibaribe e Beberibe –, mas que estão poluídos, ele não disfarçou o desânimo. “Você me desapontou. Mas eu vou pescar no Amazonas, com certeza”.
O Iron Maiden chegou ao Brasil na quarta-feira, a bordo do Eddie Force One, o Boeing pilotado pelo vocalista Bruce Dickinson – além de piloto profissional, o baixinho ainda pratica esgrima e é autor de vários livros. A última perna da turnê Somewhere Back in Time tem seis shows. O primeiro foi em Manaus na quinta-feira. Ontem, foi a vez do Rio e, hoje, tem apresentação no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Antes do Recife, a banda passa por Belo Horizonte, na quarta-feira (na data antes reservada à capital pernambucana), e Brasília, na sexta. O Iron Maiden passa por Chile, Peru e Argentina antes de chegar a Pernambuco, no domingo 29, às 16h, no Aeroporto Internacional dos Guararapes.
O repertório da turnê é o filé mignon produzido nos anos 80 pelo maior expoente da New Wave of British Heavy Metal (traduzindo: nova onda do heavy metal britânico). Quando terminar, a Somewhere Back in Time terá tido 91 shows em 38 países – o daqui é a apresentação nº 90. Por isso, conta Smith, a banda resolveu fazer algumas alterações na lista de músicas. Saíram coisas dos discos Somewhere in time e Seventh son of a seventh son, entraram hits dos primeiros discos da banda. A justificativa, diz o guitarrista, é que eles não querem se repetir.

“Nós já passamos por alguns lugares na primeira parte da turnê. As pessoas pediram mudanças. Então, resolvemos renovar o set list”, explica. Mas, se a excursão é uma volta aos anos 80, por que então a banda toca Fear of the dark – faixa-título do álbum de 1992, gravado sem a participação de Smith, que deixou o grupo antes do disco No prayer for the dying (1990)? Depois de dar uma risada, esse inglês que completou 52 anos no último dia 27 responde. “Há canções que não podemos deixar de fora do repertório. É o caso de Fear of the dark. Muita gente gosta dela. Existem fãs que vão aos shows somente para escutar essa canção”, diz, com um fortíssimo sotaque britânico.

De bom humor, apesar da tosse incessante que atormentou o guitarrista durante os 15 minutos de entrevista, o pescador Adrian Smith disse que o fim da turnê, no dia 2 de abril, na Flórida, nos Estados Unidos, significará uma pausa para a banda recuperar as energias e partir para a composição e gravação do 15º disco de estúdio. “Nós crescemos muito como músicos. É impressionante que nos últimos 25 anos tenhamos tido tanto sucesso”, disfarça ele, sem querer falar do sucessor de A matter of life and death, de 2006. Mas ele termina falando e compara o processo de criação de um disco à eterna busca dos cavaleiros medievais pelo Cálice Sagrado: “Quando começamos a gravar, é como a busca ao Santo Graal. Apesar de parecer fácil, pois somos entrosados, dispende muita concentração e energia”.

Desde que Adrian Smith e Bruce Dickinson voltaram à banda em 1999, o grupo tem se apresentado com uma parede de guitarras. São três guitarristas de estilos diferentes, que dividem o peso com o baixista – líder, dono e principal compositor do Iron Maiden – Steve Harris e o batera Nicko McBrain. Desde então, Smith, Murray e Gers se dividem entre solos e bases. “Estamos felizes com essa formação. São músicas que tocamos há décadas, mas é muito mais difícil harmonizar as três guitarras do que tocar as músicas em sua versão original. Mas fomos nós que criamos essas canções”, afirma Smith.

O Iron Maiden sempre foi conhecido pela suntuosidade dos cenários, pela força do lado cênico e pelo monstro-
mascote Eddie. Mas o lado musical e a performance ao vivo nunca foi deixado em segundo plano. Pelo contrário: no começo do ano, a banda ganhou o Brit Awards na categoria melhor show, competindo – e vencendo – nomes queridinhos da crítica da terra da rainha Elizabeth II, como Coldplay, The Verve, Elbow e Scouting Girls. “Há 15 anos, nós não nos preocupávamos muito em nos preparar para os shows. Hoje, temos que tomar cuidado, são muitos shows.”

Uma dessas apresentações recentes aconteceu no Parque Simón Bolívar, em Bogotá, capital da Colômbia. Segundo a mídia colombiana, houve um tumulto e centenas de fãs tentaram entrar no já lotado local. Resultado: 111 maidenmaníacos foram detidos pela polícia. “Foi um show muito bom. Estivemos fantásticos e não percebemos esse incidente. Mas concordo com Rod (Smallwood, empresário do grupo desde 1979), a mídia exagerou”, diz ele.

O Iron Maiden sempre teve fama de desbravador de novos territórios para o heavy metal. Foram eles os primeiros a tocar no Leste Europeu e, em 1985, quando quase ninguém vinha ao Brasil, fizeram do Rock In Rio 1 um divisor de águas na cena brasileria. “Nada impede que voltemos ao Recife. Nesta turnê, por exemplo, estivemos na Costa Rica pela primeira vez e voltamos agora. Quem sabe se não voltamos ao Recife?”, pergunta Smith. Antes de o assessor de imprensa da gravadora do Iron Maiden encerrar a entrevista, o guitarrista faz uma outra pergunta ao repórter: “Aí em Recife tem mosquito?”.

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Tiago Marques

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